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“Falta elo com as ruas”, diz Rodrigo Maia

O presidente da Câmara afirma que o governo errou ao subestimar o “Fora Temer” e ao se posicionar de maneira errática na largada

Por Monica Weinberg Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 set 2016, 18h03 - Publicado em 19 set 2016, 18h03

Em quatro anos, o deputado Rodrigo Maia saiu da condição de postulante inexpressivo à prefeitura do Rio de Janeiro ao segundo posto mais alto da República, a Presidência da Câmara dos Deputados. Ele próprio se surpreende: “Caramba, olha aonde eu cheguei”. Filho de Cesar Maia, três vezes prefeito do Rio e genro de Moreira Franco, um dos braços fortes do presidente Michel Temer, Maia, 46 anos e cinco mandatos consecutivos, atribui sua ascensão à distância dos radicalismos. Filiado ao Democratas (DEM, ex-PFL), que apoia o governo, ele acha que o governo começou mal e, para se salvar, precisa estabelecer alguma conexão com as ruas.

O governo Temer recuou em temas cruciais. Isso fere a credibilidade? O ziguezague é péssimo. Cria um ambiente de insegurança desnecessário. Já se espera que, logo depois da declaração de um ministro, o Planalto volte atrás. O sinal é de que o governo não está dialogando internamente. Ministro só deve vir a público quando estiver 100% afinado com o presidente.

Falta diálogo no governo? Não é como na gestão Dilma Rousseff, que escalou um ministro do Planejamento (Nelson Barbosa) para esfaquear o da Fazenda (Joaquim Levy). No caso do Michel Temer o problema foi dar a partida com o trem a pleno vapor. Não tinha como não haver descompasso. Agora é preciso fazer os ajustes. Do contrário, o governo perderá a chance de estabelecer o elo com a sociedade. Ele está se comunicando muito mal, de forma antiquada, mofada, ineficaz.

Onde está o erro? Os contrapontos aos termos “golpista” e “Fora Temer” são pífios. Surgiu a ideia de divulgar o slogan “Bora Temer”, mas acho horrível. “Fora ladrão”, então, é pior ainda. Fernando Henrique foi um presidente que demonstrou capacidade de transformar a imagem de seu governo com uma boa comunicação. O mesmo desafio se coloca agora.

No governo FHC, sempre que havia uma crise dizia-se que era “problema de comunicação”. Os governos atribuem à imagem os problemas que na verdade são de conteúdo? Não é só de imagem. Este é um governo formado por pessoas com muitos anos de política. Elas devem criar novos canais com a sociedade, que aspira mudanças rápidas e concretas na era pós-PT. Michel é preparado, mas precisa trazer para seu círculo quadros que possam ajudar a estabelecer este novo elo com as ruas.

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Como o governo tem recebido os gritos de “Fora Temer”? As primeiras declarações de integrantes do governo minimizando as manifestações foram um equívoco. Internamente, há forte preocupação e um desconforto do presidente com as vaias. Estava ao seu lado no dia em que aconteceram as vaias em pleno Maracanã. Michel ficou visivelmente incomodado. O incômodo é bom, à medida que faz repensar rumos. Em 2007, Lula levou uma vaia daquelas no Maracanã. Ele teve a inteligência de saber ouvir.

Qual o caminho para o governo deslanchar? A agenda econômica segue planejamento correto. Aprovar o projeto que estabelece um teto para os gastos públicos será o gol mais importante deste ano. O que não pode é, por pressão de A ou B, ministros atropelarem o debate querendo tratar ao mesmo tempo de temas complexos, como a reforma da previdência. Além de tudo, seria no mínimo ingênuo agora.

Ingênuo por quê? Um tema tão espinhoso como esse não tem clima para tramitar no meio de uma eleição. Mexer agora só serviria para dar munição aos adversários da base governista que estão no páreo municipal. O adiamento não reforça a dúvida sobre a falta convicção do governo em relação à Previdência? Garanto que a reforma entrará na pauta. Há ainda resistência à ideia. Os parlamentares são pressionados pelas suas bases, sabem que a mexida pode ser impopular. O governo está ciente de que precisa ser bastante didático para emplacar a reforma. Não dá para exigir que todos no Congresso saibam o que é déficit da previdência. Cabe ao governo conversar com os deputados e mostrar como a situação chegou a um ponto insustentável para o país. Tem que traduzir para eles. Mostrar exemplos da vida real.

Eduardo Cunha, agora cassado, acusou- o de não ter aberto uma brecha que poderia lhe dar pena mais branda. O senhor cogitou beneficiá-lo? De jeito nenhum. Levei o assunto a plenário como devia, e ele não conseguiu apoio. Cunha não foi decisivo para sua ascensão? Como presidente da Câmara, recebi dele funções como a relatoria da reforma política. Mas também fui vítima de uma articulação encabeçada por ele. Já tinha recebido convite para ser líder do governo Temer quando o Centrão fez pressão contra. Uma hora da manhã, o telefone toca e ouço a voz do Geddel (Viera Lima, ministro). Estava ligando para me desconvidar. Fiquei irritado, mas não saí disparando contra o governo.

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Quando se aliou a Cunha, o senhor não sabia das falcatruas que acabaram levando à cassação? Não.

Não sabia? Não. Nos unimos só em 2015, por puro pragmatismo. A ideia era isolar a Dilma e criar um ambiente difícil para o governo.

Como o senhor avalia o nível do Congresso brasileiro? A política não consegue mais atrair estrelas como aquelas da Constituinte de 1988. Não temos mais um Ulisses Guimarães. Hoje, basicamente, só entra na disputa quem pode contar com a máquina. É gente como aquele secretário de obras que asfaltou ruas, fez escolas, ou alguém com dinheiro da igreja por trás.

O senhor faz parte deste sistema, certo? Não posso negar. Quando meu pai era prefeito do Rio recebi muito voto pelo poder da máquina pública. Cheguei a mais de 200 000 eleitores. Depois que fui para a oposição e mesmo já sendo conhecido, isso mudou.

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A oposição errou na era PT? Sem dúvida. Primeiro, lá em 2002, perdemos para o PT por disputas na base governista, entre o PSDB e o antigo PFL. No caso da candidatura de Roseana Sarney pelo PFL, muitos acharam que o governo FHC trabalhou para abatê-la. No mensalão, houve outro equívoco. Não tentamos o impeachment do Lula por causa de uma costura feita pelo Fernando Henrique Cardoso.

O fato do PFL (Partido da Frente Liberal) ter se tornado DEM (Democratas) alterou alguma coisa? O PFL carregava o rótulo de “partido de coronel”. O DEM, não. Houve um tempo em que muita gente tinha vergonha de se declarar liberal. Botavam até um “social” no nome só para dar aquela tinta humanitária. Isso está mudando.

Em quem o senhor aposta para presidente em 2018? Se Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves não se entenderem, nenhum deles decola. Agora, se o governo do Michel fracassar, aposto que surgirá um nome forte de fora da política.

No Rio, houve uma cisão entre o senhor e o prefeito Eduardo Paes. O que motivou a reaproximação? O DEM estava enfraquecido e precisávamos nos reinventar em algum projeto no Rio. Em 2014, na eleição para o governo do estado, decidimos caminhar com o Pezão. Fora da esquerda, era isso ou nos juntar ao Marcelo Crivella (atual candidato a prefeito).

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O senhor ainda chama Paes de Duda, como na juventude? Não. Um dia, depois de eleito vereador, ele chegou para mim e pediu: “Rodrigo, agora é Eduardo, tá?”

E como ficou a relação de Cesar Maia com o pupilo Eduardo Paes? Já foi péssima, hoje é ruim. Há uma forte mágoa pelas insinuações que o Eduardo fez sobre o mau uso do dinheiro na obra da Cidade da Música.

O estado do Rio está afundado na pior crise financeira de sua história. Tem acompanhado os bastidores? Ninguém sabe como equacionar o desastre financeiro. A baixa do petróleo aliada a aumentos salariais muito acima da inflação estão na raiz. Na melhor das hipóteses, os governadores receberam cálculos equivocados dos técnicos. Na pior, o processo eleitoral gerou irresponsabilidade fiscal.

O senhor teve 3% dos votos na última eleição para prefeito. A que deve o fiasco? Cometi o maior erro político da minha vida: me aliei à família Garotinho. No lugar de somar votos, ganhei rejeições. Virei um candidato inexpressivo. Era como um fantasma perambulando pela cidade.

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Como saiu da condição de fantasma ao segundo posto da República em quatro anos? Fiquei longe dos radicalismos. Apoiei a proposta de ajuste fiscal do então ministro Joaquim Levy, mesmo sendo oposição. Também fui importante para reduzir a temperatura de CPIs. Assim, quando apareceu a oportunidade de presidir a Casa, não tive problema em ligar para todo mundo: pedi voto à esquerda, à direita, em cima, embaixo. No final, liguei para o Lula para agradecer o fato de ter liberado deputados para votar em mim. Para não achar que era trote, pedi ao Vicente Cândido (deputado federal do PT) para ligar antes avisando do meu telefonema. Lula me disse: “Se você organizar a confusão que virou essa Câmara, já está ótimo.”

Sua vida mudou muito como presidente da Câmara? Comecei a ser convidado para tudo, meu telefone não para de tocar e faz fila na residência oficial. Acho bom. Se fosse diferente, seria um sinal de irrelevância.

Que tal ocupar a presidência da República quando Temer viajou? Andei no final de semana na praia de São Conrado e um monte de gente quis tirar foto comigo. “Presidente, presidente!”, gritavam. Fiquei tanto tempo isolado e agora vivo o outro lado. Penso: “Caramba, olha aonde eu cheguei.”

É verdade que não se sentou na cadeira presidencial? Se a cadeira não é sua, não se sente ali, sob o risco de nunca ter uma cadeira para si. Prefiro não correr esse risco.

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