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Os brechós virtuais das universitárias

Milhares de estudantes se organizam em comunidades na internet para comprar e vender roupas, filhotes de cachorro, apartamentos e cartelas com pílulas anticoncepcionais (com algumas faltando)

Por Paula Pauli
30 Maio 2015, 11h15

Estudantes de universidades brasileiras juntaram-se em comunidades no Facebook para negociar de tudo. Os grupos, apelidados de “brechós”, cresceram muito nos últimos seis meses e concentram-se principalmente no estado de São Paulo.

Na Universidade Mackenzie, na capital paulista, a página Brechó Mackenzista conta com 24 000 membros. O Brechó da PUC, de São Paulo, tem 15 000. Em Campinas, interior do estado, uma comunidade tem quase 6 000. Nos outros estados do Brasil, um dos maiores é o Brechó UFRRJ, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que tem 1 000 membros.

Apesar de levar o nome de lojas de roupas usadas, os grupos de Facebook funcionam de maneira muito diferente. Qualquer membro pode colocar um produto à venda. Pode ser novo ou usado. É proibido fazer leilão de preços. A primeira pessoa que declara interesse é quem tem o direito da compra. Pelo bate-papo do site, elas combinam de se encontrar já no dia seguinte, entre uma aula e outra, nos corredores dos campi. Após a venda, quem colocou o anúncio é obrigado a retirar a oferta. “O pessoal coloca novos produtos o dia inteiro. Eu até queria comprar menos, mas faço parte de mais de vinte grupos e as ofertas são irresistíveis”, diz Raphaella de Almeida, de 21 anos, estudante de Design de Interiores no Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo.

A variedade de produtos é enorme. Podem-se encontrar de móveis a filhotes de cachorro, maquiagem a cartela de pílula anticoncepcional (com apenas dois comprimidos faltando). Há até quem ofereça apartamentos para venda, aluguel ou troca. “Criamos o brechó só pra vender roupas, acessórios, sapatos. Nunca imaginei que fosse chegar a essa proporção”, diz Joana Gama, criadora da página do Brechó da UFFRJ, campus Seropédica.

Embora homens participem dos grupos, a grande maioria é de mulheres. “Elas costumam ser mais colaborativas na hora de comprar. Gostam de trocar informações e de interagir, o que dá bem certo com a ideia desses grupos que existem em um local específico”, diz o professor Fábio Mariano, especialista em comportamento do consumidor na ESPM, em São Paulo.

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As regras são colocadas na descrição dos grupos do Facebook, que geralmente são “fechados”. Em tese, a aceitação de um novo membro deveria passar por algum crivo. Na prática, o descontrole é total. Todos os que pedem para entrar acabam sendo aceitos, uma vez que é impossível conhecer todo mundo. Além disso, é fácil achar reclamações de produtos vendidos como seminovos mas que, na realidade, estão estragados. Muitos também colocam críticas porque alguém não apareceu no lugar e hora combinados.

Os brechós virtuais não contam com um sistema de avaliações dos usuários feitas por eles mesmos, como acontece em sites como Mercado Livre ou OLX, que também permitem a troca de mercadorias usadas. Com esse recurso, os membros podem dar preferência para fazer negócio com aqueles com mais avaliações positivas de seus pares. No Facebook, esse expediente não existe.

Outra diferença: nos brechós do Facebook, os prejudicados não têm a quem recorrer. Não existe um sistema de atendimento ao consumidor, como acontece nos sites específicos para isso. Em tese, quando um vendedor começa a ter lucros, ele passa a se enquadrar na lei de comércio eletrônico e a ter certos deveres. A transição, contudo, nem sempre acontece. “Se um vendedor começa a ter algum lucro, ele deve começar a seguir certos requisitos, como ter um endereço físico para contato, responder as mensagens em até cinco dias e dispor de uma política de privacidade”, diz o advogado Renato Opice Blum, presidente de tecnologia da informação da Fecomercio.

Entre as estudantes dos brechós, muita gente que se empolga com o sucesso na internet e tenta voos mais altos. A estudante Patrícia Sestari, estudante de Relações Internacionais na ESPM, de 21 anos, já ganhou 3 000 reais com as vendas virtuais. Ela também já organizou três brechós presenciais. Ela marca um local e um horário e manda o convite pelo grupo do Facebook. O lugar escolhido geralmente é a empresa do pai, no bairro da Vila Clementino, em São Paulo. “Eu queria dinheiro para viajar. Como tinha muita coisa que não usava em casa, decidi fazer dinheiro do jeito que dava”, diz Patrícia, que consegue reunir dez pessoas ao mesmo tempo para comprar em seus brechós, aos sábados.

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