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Para o Brasil, as oportunidades estão na internet, diz Dave McCLure, da 500 Startups

O CEO da aceleradora americana diz que, a despeito da crise, há espaço para crescer na web. E desafia uma das máximas mais repetidas sobre empreendedorismo, a de que todo negócio deve ter ambição global

Por Da Redação 16 nov 2015, 17h57

Dave McClure é considerado um personagem controverso no Vale do Silício, nem tanto pelos palavrões que usa em palestras e artigos, mas pela inusitada estratégia de negócios que ele comanda à frente da aceleradora 500 Startups. Em apenas cinco anos, McClure e seu time já apostaram em nada menos do que 1.000 empresas nascentes de tecnologia. É um ritmo frenético, prova uma comparação: a Y Combinator, maior aceleradora do Vale, de onde saiu o Airbnb, levou o dobro do tempo para investir em 800 novatas. O cálculo de McClure é que, pulverizando o investimento e os esforços entre centenas de companhias, aumentam as chances de se encontrar um “unicórnio”, a startup que, depois de alimentada, atinja a mítica cifra de 1 bilhão de dólares. A estratégia também ajudaria a gestar o “centauro”, que não é um unicórnio, mas cujo valor ultrapassa os 100 milhões de dólares. A 500 Startups já encontrou alguns centauros, mas nenhum unicórnio – eis uma razão de questionamento por gente do mercado. Não é só. No discurso e na prática, McClure relativiza uma das máximas mais repetidas nas discussões sobre empreendedorismo: a de que todo negócio deve ter potencial global. “Em muitos casos, apostamos em oportunidades locais, e o Brasil é certamente um desses lugares”, diz. Aqui, a aceleradora já abraçou cerca de 30 startups. Também sobre o país, McClure apresenta outro olhar. “Apesar dos problemas no cenário econômico, há muito crescimento na internet.” Nesta semana, o americano vai falar a empreendedores brasileiros no Innovators Summit, em São Paulo, conferência promovida pela +Innovators em parceria com a CI&T que discute tendências da tecnologia. Confira a seguir a entrevista que ele concedeu a VEJA.com.

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O Brasil vive uma crise econômica doméstica. Qual será sua mensagem aos empreendedores brasileiros? Apesar dos problemas no cenário econômico, há muito crescimento na internet. Já constatamos isso em ramos como educação, saúde e imobiliário. Por exemplo, o serviço Viva Real está muito bem na área imobiliária, o Descomplica tem feito um belo trabalho em educação, crescendo de forma sustentável nos últimos anos, e o Conta Azul vem ajudando outras empresas a atuar de forma mais eficiente com serviços financeiros.

Como o investidor estrangeiro vê o Brasil hoje? Para muitos dos investidores americanos, o Brasil não está no topo das prioridades. Eles não estão familiarizados com o que acontece no país. Não é uma visão alterada pela crise. É que se você checar os dados verá que é muito improvável que o Brasil cresça mais do que os Estados Unidos no mercado de internet. O Brasil tem uma população jovem, vibrante, afeita à tecnologia…

Mas…? Mas o quê?

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Há um “porém” em relação ao Brasil? Não do nosso lado. Estamos muito otimistas em relação ao Brasil, embora haja os desafios conhecidos. Aceleramos cerca de 30 empresas brasileiras nos últimos dois ou três anos. Certamente, não estamos desacelerando.

A 500 Startups tem cerca de 30 empresas brasileiras, entre as mais de 1.000 aceleradas. É 3% do total. Isso representa o peso do Brasil no mercado global? Não. Temos cerca de 300 ou 400 startups internacionais. Então, as brasileiras são cerca de 10% da nossa estratégia internacional. Um terço do nosso time hoje está espalhado por 17 ou 18 países. Acreditamos que as oportunidades internacionais são tão grandes ou até maiores do que as oportunidades nos Estados Unidos. Por isso, a operação internacional hoje é uma parte importante de nossa operação global, e Brasil e a América Latina são elementos importantes.

Imigração, pobreza, desigualdade, escassez de água e energia… As startups podem ajudar a solucionar alguns dos grandes problemas do planeta? Depende do tipo de startups sobre o qual estamos falando. As que estão em estágio inicinal provavelmente só exercerão impacto em cinco ou dez anos. Se olharmos para startups maiores, elas provavelmente já exercem impacto graças à sua eficiência própria ou ao ajudar outros negócios a funcionar bem melhor. Mas temos que ser realistas: no longo prazo, startups podem ajudar a resolver grandes desafios, mas não acho que elas tenham respostas para questões de interesse público de curto prazo.

As startups podem ajudar a criar empregos? É basicamente o que a maior parte delas está fazendo. De maneira geral, elas são muito mais eficientes na tarefa de criar empregos de maneira acelerada. Elas estão provocando disrupção nos modelos das empresas grandes, e alguns empregos estão sendo transferidos de uma economia menos eficiente para outra mais eficiente.

Em artigo recente, você afirmou que a maior parte das companhias do mundo, reunidas no índice S&P 500 e que você chama de “dinossauros”, devem ser destruídas pelos “unicórnios” em talvez uma década. Depois dos setores de hospodagem, transporte, comunicações, entre outros, quais são próximos a serem atingidos? Assistiremos a transformações contínuas em setores já atingidos, como mídia, entretenimento, comunicações e imobiliário. Outras grandes indústrias passarão por isso, como serviços financeiros e seguros.

Algum dinossauro está fazendo a lição de casa, preparando-se para a competição das startups? Na minha opinião, eles não estão preparados. Por isso, veremos um incrível número de rupturas em setores que não são muito inovadores. Veremos muito mais disso em saúde e educação, assim como ocorre em transportes. Acho que há alguns poucos que podem se sair bem, como no caso das companhias de tecnologia. Mas não acredito que há muitas outras fora desse segmento que estejam de fato adotando as melhores práticas. Elas estão sobrecarregadas por custos e outras obrigações e essa não é a melhor condição se você precisa competir com startups, que são ágeis e leves.

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Os gurus dizem que as startups devem sempre aspirar ao mercado global, mas a 500 Startups também tem em seu portfólio negócios com potencial aparentemente local. É uma escolha deliberada? É claro que gostaríamos de apostar em negócios com potencial global todo o tempo. Em muitos casos, contudo, apostamos em oportunidades locais, e o Brasil é certamente um desses lugares. O mesmo vale para a Índia e alguns países do Oriente Médio e Ásia. São negócios não necessariamente globais, mas que operam em mercados grandes, com um público entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas ou até mais. Com 200 milhões de habitantes, o Brasil certamente é um território que pode sustentar negócios que não têm amplitude global, mas que podem ser bons regionalmente.

Você defende a tese de que fundos que investem em startups deveriam apostar em mais negócios para aumentar as chances de sucesso. Com mais de 1.000 companhias, a tese está provada no caso da 500 Startups? Certamente. Encontramos empresas em várias partes do mundo que estão crescendo vigorosamente. A Viva Real está avaliada em centenas de milhões de dólares e a Viki, outra que passou pela aceleradora, foi vendida por 200 milhões de dólares na Ásia. Há muitas companhias valiosas em partes do mundo para as quais qual as pessoas não costumam olhar.

Apesar de a 500 Startups ter em seu portifólio mais startups, o valor agregado dessas companhias é menor do que o exibido por outras aceleradoras. Como você responde a observações como essa, feita por analistas do mercado? Provavelmente eles estão se referindo à Y Combinator, que começou cinco anos antes de nós. Eles fazem um grande trabalho, com empresas chegando à casa dos bilhões de dólares. Nós temos companhias de vários milhões de dólares, mas se você olhar onde estamos hoje, apenas cinco anos após nossa fundação, e comparar com a posição da Y Combinator cinco anos após sua criação, verá que estamos muito perto, se não adiante deles. É claro que uma companhia com dez anos de vida tem startups mais valiosas do que outro que tem cinco anos. Mas acredito que estamos indo tremendamente bem.

Você se formou em engenharia e matemática aplicada. Como descobriu que tinha talento para fazer negócios e ajudar outras pessoas a fazer o mesmo? Na verdade, demorei muito a entender o funcionamento do Vale, cerca de dez anos. Então, quando finalmente entendi, achei que seria interessante ajudar aos demais a aprender de forma mais rápida.

Você é considerado uma figura controversa no Vale do Silício. Fala e escreve palavrões e palestrar e artigos, tem pontos de vista particulares. Isso ajuda ou atrapalha os negócios? (risos) Culpo minha mãe por isso: ela costumava preguejar contra outros motoristas enquanto dirigia. Algumas pessoas gostam do fato de que eu sou muito direto em minhas colocações. Outros, nem tanto. Não vou tentar mudar quem eu sou. Certamente, algumas pessoas acham que meu estilo as motiva. O fato é que, com a 500 Startups, construímos uma marca e uma comunidade de empreendedores. Não acho que devemos nos envergonhar disso. Ao contrário.

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