Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O risco da internet de segunda

Tendência de governos de regular a web em bases locais pode levar a uma rede mais fechada e menos inovadora, afirma o professor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio e presidente do conselho do Porto Digital

Por Da Redação 15 fev 2016, 19h04

Silvio Meira elaborou uma sequência lógica que pretende traduzir o risco de a internet brasileira (e também a de muitos países) se tornar uma rede de segunda categoria. A criação de normas nacionais para disciplinar a web leva a conflitos entre as leis locais e provedores de serviços globais; isso resultará em uma rede mais fechada, menos inovadora e, portanto, menos rica. Se ele estiver certo, morre um sonho: a rede será menos global.

O episódio mais recente a ilustrar a hipótese de Meira ocorreu em dezembro de 2015. Uma juiza paulista determinou que o WhatsApp fosse retirado do ar – deixando 100 milhões de brasileiros sem o serviço – porque o aplicativo se negara a fornecer dados de um único usuário investigado pela Polícia. Ironicamente, a decisão se apoiou no Marco Civil da internet, cuja sanção no ano passado prometia estabelecer uma constituição para a rede, com garantias como a manutenção dos serviços. “É um caso em que a lei local foi usada de forma local para causar incômodo”, diz Meira.

Uma ação como essa pode afastar o WhatsApp do Brasil? Muito improvável, é claro. O app de mensagens instantâneas, que está sob o guarda-chuvas do Facebook, tem os pés fincados em território nacional. Contudo, exigências e restrições locais em demasia podem afugentar empresas e produtos nascentes (a rede social já foi um deles), que não têm fôlego para batalhas judiciais ou adaptações exigidas em cada território – esse parece ser o caso de nações como Rússia e Vietnã, observa Meira. A China fez o mesmo, mas o gigante tinha condições de criar suas próprias versões de Google e Uber. Além disso, um mecanismo legal à disposição de governos pode animar a sanha autoritária.

“Se o Brasil continuar atuando de forma tão proemienete na requisição de dados e no fechamento de serviços para forçar certos comportamentos no universo virtual, é óbvio que as empresas começarão a se questionar: ‘Por que vou entrar em uma batalha neste país se posso me concentrar em outros em que não há restrições?'”, diz. Como a criação de restrições legais na internet não é exclusividade nacional, empresas brasileiras também terão dificuldade para desbravar outros mercados. “É provável que haja aqui uma rede de segunda classe, com serviços que são bons para o Brasil, mas que não conseguem sair daqui e competir no mundo.”

Continua após a publicidade

Normas locais surgiram com a missão de estabelecer, de alguma forma e em alguma media, controle no ambiente desregrado da web. Sem um mecanismo que desse conta de aplicações e empresas, cada país começou a criar sua própria legislação. “O problema é que, quando você interpreta de maneira local sistemas informacionais como a internet, eles evidentemente não podem mais ser globais”, diz Meira. Isso não tira o valor do Marco Civil brasileiro. “Foi um avanço, pois o ambiente anterior é pior. Mas a conquista é relativa.”

Melhor resposta seria, na visão dele, a elaboração de uma salvaguarda global, que impedisse que dispositivos ou tentações autoritárias interrompessem o contato de uma população com o planeta. “Na prática, precisamos de uma legislação mais ampla, simples e internacional, prevendo que todas as disputas que envolvam guarda ou disponibilidade de dados e serviços sejam tratados por uma corte internacional que regule o espaço global, e não por cortes locais”, diz. É possível fazê-lo. A princípio, contudo, parece mais provável o WhatsApp deixar o Brasil. “É algo realmente difícil de se realizar”, reconhece o próprio proponente da ideia. Há, contudo, iniciativas, como as promovidas pela Internet Society e o Internet Governance Forum, da ONU, nesse sentido. “As bases do projeto já estão aí. É preciso avançar agora.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.