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Brasil se aproxima do topo do ranking do serviço de ensino gratuito de idiomas Duolingo

Grupo está entre os três mais numerosos da ferramenta on-line, afirma criador — que tem no currículo a invenção do sistema 'Captcha' de acesso a sites

Por James Della Valle
3 jun 2013, 16h21

Aos 34 anos, o guatemalteco Luis von Ahn é considerado uma das pessoas mais inteligentes e inovadoras do setor de tecnologia. Seu nome é frequentemente citado em rankings do setor. E não é à toa. Von Ahn tem em seu currículo dois dos principais (e mais conhecidos) sistemas de segurança para websites, o Captcha e o reCaptcha, vendidos para o Google em 2009, que obrigam usuários a digitar uma sequência de caracteres para ter acesso a uma página. Ambos são capazes de proteger sites contra o ataque de robôs responsáveis pela disseminação de spam em sites com comentários e fóruns. O empresário esteve recentemente no Brasil para conversar com usuários de seu novo projeto: o Duolingo, uma ferramenta de ensino de idiomas pela internet. O serviço gratuito oferece aulas a partir de textos fornecidos por empresas como a rede americana CNN: entre as tarefas dos alunos está a tradução desses textos (do inglês para o português, por exemplo). Como o processo é realizado simultaneamente por milhares de pessoas, seu produto – o texto traduzido – vai sendo lapidado a milhares de mãos. Resumo: os usuários aprendem o idioma e as empresas que fornecem textos obtêm uma nova versão deles vertida para outra língua. O Duolingo, por sua vez, recebe uma remuneração das empresas por facilitar a tradução – única fonte de financiamento do serviço. O modelo de captar na rede o conhecimento das milhões de pessoas se baseia no conceito de crowdsourcing. Na entrevista a seguir, Von Ahn fala sobre o desenvolvimento do Duolingo e a presença dos brasileiros na ferramenta: “O Brasil é um dos países mais importantes para nós. É o segundo ou terceiro no ranking de pessoas que mais utilizam o Duolingo.”

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Como surgiu a ideia do Duolingo? A história do Duolingo começou logo após a venda do reCaptcha para o Google, em 2009. Costumo brincar dizendo que tirei um dia sabático antes de embarcar no novo projeto. Cresci na Guatemala, que é um país pobre, com a ideia de criar algo que pudesse ajudar na instrução de pessoas mais necessitadas. Sempre achei que a educação deveria deixar todos no mesmo patamar de conhecimento, mas, com o passar dos anos, percebi as coisas não são da forma que eu imaginava. Quem tem dinheiro pode pagar pelo melhor que a educação tem a oferecer, mas os pobres não têm acesso a nada. A meta do Duolingo é, na medida do possível, oferecer os melhores cursos de idiomas a todos os interessados, sem que eles tenham que pagar por isso.

O ensino de idiomas é, portanto, a forma de realizar o sonho? Sim. Ensinar idiomas é algo muito importante, especialmente nos países onde o inglês não é a língua nativa. Eu estimo que haja mais de 1 bilhão de pessoas aprendendo inglês de forma ativa no mundo, e elas estão fazendo isso para conseguir empregos. É óbvio que poderíamos ter muito mais gente estudando, mas isso demanda investimento. Como cobrar pelo conhecimento não faz sentido para mim, criei uma solução gratuita.

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De onde vem o dinheiro que sustenta o Duolingo? Quando começamos o projeto, a questão era a seguinte: como criar o melhor sistema de ensino de idiomas sem cobrar por isso? Foi então que apresentamos a proposta de arrecadar dinheiro fazendo traduções para outras empresas. Ao entrar no Duolingo, você vai aprender uma nova língua, mas também vai nos ajudar a traduzir textos criados por alguém que está pagando por isso. Por exemplo, nesse exato momento, muitas pessoas estão trabalhando em trechos de textos da CNN que serão vertidos do inglês para o português. Todos ganham com isso. Você melhora suas habilidades, nós conseguimos o dinheiro para tocar o projeto e as companhias ganham um banco de dados com textos publicados em outros idiomas.

Qual é a aceitação do serviço? Nós lançamos uma versão de testes em 2011. Desde então crescemos bem para um projeto da área de educação. Em junho do ano passado, fizemos o lançamento oficial e hoje temos cerca de 3 milhões de usuários ativos.

A área de educação faz sucesso entre as startups. Como você analisa esse mercado? Até dois anos atrás, quase ninguém prestava atenção ao tema educação. Agora, podemos notar que houve uma mudança na mentalidade dos investidores, que procuram cada vez mais soluções nessa área. Posso dizer que o mercado está aquecido.

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Como vocês decidiram a metodologia de ensino? Essa é uma pergunta interessante. Se analisarmos a história da educação, vamos ver que ela não evoluiu tanto nos últimos anos. Cada professor tem sua classe, e boa parte deles segue um plano de aula definido. Mas as coisas estão mudando. No nosso caso, com milhões de usuários, nós podemos fazer experimentos para encontrar a melhor forma de ensinar tópicos específicos. Por exemplo, separamos uma amostra de 100.000 pessoas e decidimos ensiná-las de uma forma diferente da que fazemos com outros grupos. Se o teste for bem-sucedido, podemos aplicar os resultados a todos os outros usuários.

As pessoas não se importam com esses experimentos? A verdade é que elas não sabem quando e como estão sendo testadas. Se você entrar agora no Duolingo, poderá ver uma versão bem diferente da que eu acesso. O que fazemos visa melhorar cada vez mais a experiência dos estudantes para que eles aprendam mais rápido. Você pode publicar isso sem receio, pois não é um segredo.

O crowdsourcing é uma parte importante do serviço. Como vocês trabalham o conceito? De uma forma bem simples. Os 3 milhões estudantes traduzem, ao mesmo tempo, diversos trechos de um mesmo texto. É como se você tivesse vários profissionais trabalhando na mesma coisa e buscando os melhores resultados.

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O Duolingo tem vários recursos encontrados em jogos eletrônicos. Isso ajuda no aprendizado? Nós dividimos o nosso conteúdo em temas que testam as habilidades dos usuários, como animais, lugares e comida. Ao iniciar uma lição, você tem três chances ou “vidas”. Se errar todas, será obrigado a reiniciar o teste. Também há um sistema de níveis, baseado em pontos ganhos por completar atividades. Nós descobrimos que isso ajuda a motivar os estudantes, o que é ótimo para nós. Certa vez, em um experimento, removemos o sistema de níveis de um grupo de usuários. Infelizmente, eles nunca mais voltaram.

Qual foi o maior desafio na criação da startup? Nossa premissa é oferecer um produto gratuito, mas nós estamos em um mercado onde os rivais gastam muito dinheiro com publicidade. Como todos podem perceber, praticamente não há investimento nessa área por parte do Duolingo, o que me deixa orgulhoso da quantidade de usuários que utilizam nosso serviço hoje. Só investiremos dinheiro na melhora do produto.

Vocês não utilizam vídeos. Eles estão nos seus planos? Definitivamente queremos trabalhar com essa mídia. Provavelmente, teremos algo disponível no começo do ano que vem. A ideia é colocar legenda nos vídeos e trabalhar o aprendizado a partir da relação entre áudio, imagem e texto. Usaremos uma plataforma própria para isso.

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O que o Brasil representa para o Duolingo hoje? O Brasil é um dos países mais importantes para nós. É o segundo ou terceiro no ranking de pessoas que mais utilizam o Duolingo.

Vocês começaram com o site e depois lançaram o aplicativo para iOS. Por que a demora na criação da versão para Android? Para ser bem sincero, os desenvolvedores preferem programar para o iOS, da Apple, porque ele é mais simples. O Android tem muitas versões diferentes no mercado, e não há como ter certeza de que todas serão imediatamente compatíveis com o seu produto. Dito isso, é uma plataforma muito abrangente, e que recentemente ganhou a sua versão do nosso aplicativo.

E quando os usuários de Windows Phone vão ganhar o aplicativo? Não há previsão para isso, pois não há usuários suficientes da plataforma para justificar a adaptação do projeto.

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