Vacina contra HPV previne lesões anais pré-cancerosas
Segundo pesquisa, homens vacinados contra o HPV tiveram 75% menos lesões anais que evoluíram para o câncer do que outros que receberam placebo
Uma vacina contra o papilomavírus humano (HPV), infecção sexualmente transmissível que pode causar câncer de útero nas mulheres, também previne a maior parte das lesões pré-cancerosas anais em homens homossexuais, destacou um estudo publicado na revista New England Journal of Medicine.
Os homens vacinados contra o HPV tiveram 75% menos lesões anais que evoluíram para o câncer do que outros que receberam um placebo. As descobertas foram divulgadas um dia depois de que um comitê de especialistas instou os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos a recomendar a vacinação de rotina contra o HPV em meninos de 11 e 12 anos. Espera-se que o CDC aceite a recomendação e emita um anúncio formal em dois meses.
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HPV
O HPV é a doença sexualmente transmissível mais comum, e tem mais de 40 subtipos, alguns dos quais podem causar câncer cervical e verrugas genitais. Normalmente, porém, o HPV não causa sintomas. Pelo menos 50% dos homens e mulheres sexualmente ativos contrairão HPV em algum momento de suas vidas. Geralmente o organismo humano consegue eliminar a infecção sozinho em dois anos, mas certos suptipos do vírus, conhecidos como cepas oncogênicas, podem evoluir para o câncer e precisam ser acompanhados de perto.
Se detectadas a tempo, as lesões causadas pelas quatro cepas do HPV particularmente virulentas podem ser eliminadas, prevenindo o desenvolvimento do câncer. Mas os especialistas dizem que a vacinação contra o HPV é crucial antes de as pessoas começarem a vida sexual.
Segundo dados oficiais, nos Estados Unidos são diagnosticados 6.000 casos de câncer de ânus e cerca de 800 pessoas morrem por causa da doença. “O que este estudo mostrou é que estes tipos de câncer e mortes poderiam ser evitados”, disse o cientista chefe das pesquisas, Joel Palefsky, diretor da Clínica de Neoplasia Anal da Universidade da Califórnia, em San Francisco.
Participaram da pesquisa 602 homens homossexuais, sexualmente ativos, do Brasil, Austrália, Canadá, Croácia, Alemanha, Espanha e Estados Unidos. Os voluntários do estudo, financiado pelo laboratório Merck, receberam aleatoriamente um placebo e três doses injetáveis da vacina Gardasil, do Merck. A vacina, tetravalente – ou seja, atua em quatro cepas independentes do HPV – é a única contra o HPV com licença de uso em meninos e homens.
O experimento foi realizado entre 2006 e 2008 e incluiu três anos de acompanhamento, prazo após o qual os que nunca foram expostos ao HPV demonstraram uma taxa 75% menor de infecções anais de HPV e lesões pré-cancerosas anais. As pessoas expostas a um ou mais tipos de HPV que o Gardasil busca prevenir apresentaram 54% menos lesões do que os que não tomaram a vacina.
“Com base nestes dados, a vacina funciona bem para prevenir a infecção por HPV e as doenças pré-cancerosas anais, e é provável que previna o câncer anal nos homens”, disse Palefsky. “O momento ideal para iniciar a vacinação seria antes da vida sexual, mas a vacina também pode ser útil depois de ter sido iniciada”, acrescentou.
A maioria dos homens HIV positivo nos Estados Unidos também está infectada com HPV, e a incidência de câncer anal aumenta tanto em homens quanto em mulheres, disse Palefsky. O HPV está vinculado a quase 13.000 casos de câncer de útero ao ano em mulheres americanas, 4.300 deles fatais, e também se suspeita que esteja relacionado a um aumento dos casos de câncer de cabeça e pescoço, devido à sua transmissão durante o sexo oral.
(Com agência France-Presse)