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Dor de cabeça infantil não recebe atenção dos médicos

Muitos pediatras e pais veem as enxaquecas como um problema apenas de adultos

Por The New York Times
6 set 2010, 17h25

“Em muitas regiões as pessoas simplesmente acham que seus filhos não podem ter uma enxaqueca”, diz Andrew Hershey, professor de pediatria e neurologia e diretor do centro de cefaleia no Hospital Infantil de Cincinnati

Médicos dizem que dores de cabeça e enxaquecas estão entre as reclamações infantis mais comuns, e mesmo assim o problema recebe pouca atenção da comunidade médica. Muitos pediatras e pais veem as enxaquecas como um problema de adultos. E como muitas crianças reclamam de dores de cabeça com maior frequência durante o ano escolar do que no verão, os pais muitas vezes acham que elas estão apenas exagerando sintomas para escapar da escola.

A questão real, segundo os médicos, é que as mudanças na agenda de sono da criança, incluindo o ato de acordar cedo e dormir tarde para estudar, além de pular o café da manhã, não beber água suficiente e as mudanças climáticas, tudo pode desencadear enxaquecas quando começa o ano letivo.

“Em muitas regiões as pessoas simplesmente acham que seus filhos não podem ter uma enxaqueca”, diz Andrew Hershey, professor de pediatria e neurologia e diretor do centro de cefaleia no Hospital Infantil de Cincinnati. “Mas as crianças não deveriam perder atividades ou ter problemas na escola porque estão com dores de cabeça. Se isso acontecer, não deve ser ignorado”.

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Condição hereditária – A enxaqueca é uma condição neurológica hereditária, caracterizada por uma dor de cabeça severa e muitas vezes incapacitante. Durante um ataque de enxaqueca, diversas mudanças ocorrem no cérebro, causando dilatação de vasos sanguíneos, dor aguda, maior sensibilidade a luz, sons e cheiros, náuseas e vômitos, entre outros sintomas. Estima-se que aproximadamente 10% das crianças e até 28% dos adolescentes sofram de enxaqueca. (Alterações hormonais durante a puberdade também podem ser um gatilho.)

Mas a enxaqueca infantil muitas vezes não aparece da mesma forma que a adulta. Enquanto as enxaquecas adultas chegam a durar quatro horas ou mais, numa criança, a duração pode variar entre uma e até 72 horas. Em adultos, as enxaquecas geralmente ocorrem em um lado da cabeça, mas nas crianças as dores são frequentemente sentidas ao longo da testa e nas duas têmporas. Como resultado, as enxaquecas infantis são muitas vezes classificadas como sinusite.

Para complicar ainda mais, algumas vezes as enxaquecas pediátricas nem mesmo envolvem dores de cabeça. Em vez disso, a criança pode sentir dores abdominais, náuseas ou vertigens.

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Apenas 20 centros norte-americanos são especializados em enxaquecas pediátricas, obrigando muitos pais a consultar pediatras com pouca experiência nesse tipo de tratamento – ou neurologistas especializados em tratamento adulto.

“A apresentação de sintomas é distinta o bastante para passar despercebida por um neurologista adulto”, explica Philip Overby, professor-assistente de neurologia e pediatria do Hospital Infantil em Montefiore, Nova York. “Crianças de três anos podem ter enxaquecas; até mesmo uma de cinco anos teria problemas em explicar o que está sentindo”.

Sintomas reais – Os pais frequentemente passam maus bocados distinguindo entre dores reais e males imaginários que as crianças às vezes inventam. Hershey conta a história de um garoto de seis anos com dores de cabeça diárias, cujos pais acharam que ele estava apenas tentando evitar a escola. Eles finalmente buscaram tratamento e, quando o menino estava na terceira série, as dores já estavam sob controle.

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“Ele era um menino diferente, mais ativo e feliz o tempo todo”, conta Hershey. “Os pais perceberam que ele estava realmente sentindo dores de cabeça, mas estavam negando o fato”.

Porém, os pais também dizem lutar para encontrar um médico que encare a dor de cabeça de uma criança com seriedade. Quando a filha de Cathy Glaser começou a sofrer com enxaquecas, ainda bem nova, seu pediatra em Nova York não conseguiu ajudar. Aos 15 anos de idade, sua filha ficou praticamente incapacitada pelas enxaquecas – mas finalmente encontrou ajuda no Michigan Headache and Neurological Institute, em Chelsea, Michigan.

A experiência estimulou Glaser a ajudar na criação da Fundação de Pesquisa sobre Enxaqueca (Migraine Research Foundation). A iniciativa “Por Nossas Crianças” do grupo gera reconhecimento e verbas para pesquisas sobre a doença. O site do grupo, https://www.migraineresearchfoundation.org, também oferece uma lista de centros que atendem crianças.

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“É chocante que um problema tão incapacitante receba tão pouca atenção”, diz ela.

Novos remédios – E alguns dos mais novos e eficazes tratamentos preventivos para enxaqueca ainda aguardam a aprovação da FDA (agência regulatória de alimentos e medicamentos nos EUA) para uso pediátrico. Por exemplo, uma classe de medicamentos para enxaqueca chamada triptans, que constringe vasos sanguíneos no cérebro, tem sido um salva-vidas para pacientes de enxaqueca, mas até agora apenas um dos remédios foi aprovado para uso pediátrico nos Estados Unidos. (Três remédios dessa classe já são aprovados para uso pediátrico na Europa.) Mesmo assim, muitos tratamentos adultos contra a enxaqueca já têm sido usados sem prescrição, há anos, em crianças.

Janet Podell de Highland Park, em New Jersey, conta que sua filha Hannah começou a sofrer de enxaquecas por volta dos oito anos. A dor foi ficando tão debilitante que Hannah perdeu dois anos de escola. Finalmente, a família encontrou um médico que prescrevia uma combinação de medicamentos. Embora Hannah, hoje com 20 anos, ainda tenha enxaquecas, as dores estão essencialmente sob controle.

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“Foram dois anos de sofrimento absoluto, que mudaram drasticamente a sua vida e a da família”, afirma Podell. “Ela perdeu dois anos de seu início de adolescência”.

Hershey trata pacientes pediátricos com uma abordagem de três pontos. Ela começa com um alívio imediato da dor, usando o ibuprofeno ou um medicamento triptan. Como o uso frequente de analgésicos de balcão pode gerar um efeito “rebote”, levando a mais dores de cabeça, o tratamento deve ser discutido com um médico.

Crianças que sentem mais de uma dor de cabeça por semana podem precisar de tratamento preventivo, como pequenas doses de antidepressivos ou anticonvulsivos que provaram evitar enxaquecas adultas. Mudanças no estilo de vida são essenciais, como fazer mais exercícios, consumir mais água, obter um tempo adequado de sono e não pular refeições.

“Essas são crianças que frequentemente ficam acordados até tarde para estudar, acordam cedo para ir à escola e estão sempre pulando refeições”, diz Overby. “Não vou dizer que você pode curar completamente as dores de cabeça apenas mudando o estilo de vida, mas se isso não for feito você nunca será capaz de controlá-las”.

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