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Células de defesa ajudam a piorar o quadro em doenças como Alzheimer e Parkinson

Estudo brasileiro mostra que o sistema imunológico provoca a quebra de fibras amiloides em pedaços menores e mais prejudiciais para o organismo

Por Da Redação
16 out 2012, 19h35

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descreveu pela primeira vez o processo que transforma fibras amiloides, presentes em doenças como Parkinson e Alzheimer, em pedaços menores e mais tóxicos. A pesquisa está disponível no portal do periódico Journal of Biological Chemistry, e será publicado na edição impressa de novembro.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Amyloid fibrils trigger the release of neutrophil extracellular traps (NETs), causing fibril fragmentation by NET-associated elastase

Onde foi divulgada: revista Journal of Biological Chemistry

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Quem fez: Estefania P. C. Azevedo, Anderson B. Guimarães-Costa, Guilherme S. Torezani, Carolina A. Braga, Fernando L. Palhano,Jeffery W. Kelly, Elvira M. Saraiva e Debora Foguel

Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Resultado: A pesquisa mostrou que a presença de amiloides no organismo ativa uma resposta do sistema imunológico, que envia neutrófilos ao local. A partie da NETose, o neutrófilo libera a enzima elastase, que fragmenta as fibras amiloides em partes menores e mais tóxicas.

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Amiloidose é o termo que designa todas as doenças caracterizadas pelo acúmulo de amiloides, que são aglomerados de proteínas que seguem uma ordenação específica, formando uma fibra. O que muda em cada doença é o tipo de proteína que se acumula e o local do organismo em que isso ocorre. “No Parkinson, os amiloides se depositam em uma região específica, que controla o movimento, por isso o paciente apresenta tremores. No caso do Alzheimer, esses agregados se encontram no hipocampo, em uma região que controla a memória, então o sintoma da doença depende de onde está aquela estrutura amiloide”, disse ao site de VEJA Debora Foguel, professora do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e integrante do grupo de pesquisadores.

A pesquisa mostra que a presença das fibras amiloides provoca uma reação do sistema imunológico, que começa a atacá-las como se fossem um vírus ou uma bactéria. Os neutrófilos são as primeiras células de defesa que chegam aos amiloides e então sofrem um processo denominado NETose, que é uma espécie de suicídio da célula. Por meio da NETose, o neutrófilo se rompe e expele uma rede com seu próprio DNA, que contém a enzima elastase, que ataca os amiloides, quebrando-o em pedaços menores. “É como se você pegasse uma fila de pessoas e separasse em grupos de três em três ou quatro em quatro. Então essas entidades pequenas entram na célula e fazem um estrago maior do que a fibra inteira”, afirma Foguel.

Os fragmentos de amiloides são mais tóxicos porque se espalham com mais facilidade pelo organismo, podendo atravessar a membrana das células e alterar a entrada e saída de substâncias da célula, causando desequilíbrio metabólico. “Esse DNA decorado com enzimas, entre elas a elastase, ataca a fibra amiloide. Isso poderia ser bom, mas o organismo não sabe que, ao digerir as fibras, ao invés de melhorar ele está piorando o quadro”, diz a pesquisadora.

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Perspectivas – De acordo com Debora Foguel, já era conhecido o fato de que os pedaços menores de amiloides são mais tóxicos. O ineditismo do estudo realizado na UFRJ está em mostrar que os amiloides provocam uma resposta do sistema imunológico e que é por meio da NETose que ocorre a fragmentação das fibras.

Por se tratar da descrição de um processo, a pesquisa ainda não tem aplicação prática para o diagnóstico ou tratamento da amiloidose, mas Debora acredita que ela abre caminho para diversas possibilidades de estudo, que antes não eram visíveis. “Uma possibilidade mostrada por esse estudo seria desenvolver um composto para impedir a chegada dos neutrófilos, ou para impedir que esses neutrófilos sofram o processo de morte [NETose], ou ainda administrar um inibidor de elastase, que são essas enzimas que quebram as fibras. Mas para isso serão necessários muitos anos de estudo”, afirma a pesquisadora.

O próximo passo da pesquisa é investigar a presença da enzina DNAse nos pacientes de doenças amiloides. A DNAse é uma enzima capaz de digerir DNA. Ela é responsável, entre outra funções, pela quebra das redes de DNA resultantes do processo de NETose. Se os resíduos na NETose não são digeridos, eles se acumulam no organismo. Esse acúmulo passa a ser reconhecido pelo organismo como um corpo estranho, de modo que ele aumenta o “ataque” de neutrófilos, que realizam mais NETose, aumentando assim o volume do corpo estranho.

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Saiba mais

AMILOIDE

Aglomeração ordenada de proteínas, geralmente iguais entre si. O acúmulo de amiloides, denominado amiloidose, está relacionado a diversas doenças e pode causar sintomas variados, dependendo de qual proteína se acumula e em qual tecido do organismo.

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NEUTRÓFILO

Célula do sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo. O neutrófilo é a primeira célula a chegar ao local onde se encontra a infecção ou o corpo estranho. Para defender o organismo, ele sofre um processo chamado NETose (o NET é uma sigla que significa Neutrophil extracellular traps: armadilha extracelular neutrófilica), uma espécie de suicídio da célula. O neutrófilo se rompe e libera no organismo uma rede de DNA com enzimas, que atacam o corpo estranho. No caso da amiloidose, a elastase presente na rede dos neutrófilos quebra a fibra amiloide em pedaços menores e mais perigosos para o organismo.

ELASTASE

Enzima encontrada na rede de DNA liberada pelo neutrófilo no processo de NETose. Ela tem função de quebrar proteínas e por isso é capaz de romper os amiloides.

DNAse

Enzima capaz de romper as redes de DNA liberadas pela NETose.

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