‘Nossa democracia é muito antiga e isso é uma vantagem na crise’, diz embaixador britânico no Brasil
Para tranquilizar os brasileiros que pretendem visitar ou moram no Reino Unido, ele também disse que “no momento nada muda em relação às leis imigratórias"
“Não estou surpreso com o resultado, pois assim é a democracia”, disse ao site de VEJA Alex Ellis, embaixador do Reino Unido no Brasil, ao ser questionado sobre sua reação após a vitória do Brexit (contração, em inglês, para ‘saída britânica’). Sobre o pessimismo do mercado, com quedas das principais bolsas do planeta e desvalorização recorde da libra, o embaixador afirma que o Reino Unido tem um sistema financeiro forte para superar adversidades. “Temos condições de usar o Bank of England [o banco central britânico] para abastecer o mercado imediatamente e manter a liquidez, se for necessário.”
Aliando experiência diplomática e pragmatismo tipicamente britânico, o embaixador crê que neste momento de confusão inicial, o importante é “olhar para a frente” e trabalhar. “Ainda é muito cedo, mas é importante pensar nas questões práticas, entender quais são os próximos passos. Nosso país existia muito antes da União Europeia e vai continuar existindo por muito tempo depois.”
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Com 51,9% contra 48,1% dos votos, a vitória do Brexit foi bem apertada e há no ar ainda reminiscências inamistosas da agressiva campanha capitaneada, de um lado, pelo primeiro-ministro David Cameron (pela permanência) e, de outro, pelo ex-prefeito de Londres Boris Johnson (pela saída). Para o embaixador, o clima de disputa, que rachou o país e o Partido Conservador, atualmente no governo, precisa ser abandonado. “Há riscos políticos e institucionais, mas depende de nós, de como vamos resolver as questões. Foi uma campanha dura, e agora cabe a nós estabelecerr padrões, baixar os ânimos e olhar para o futuro. A nossa democracia é muito antiga e isso é uma vantagem em momentos de turbulência, temos instituições muito sólidas.”
Futuro do Reino Unido e da União Europeia – Ellis reconhece que há um crescimento do nacionalismo nos países que compõem o Reino Unido e em Estados-membros da UE, mas afirma que “ainda é muito cedo para fazer prognósticos” e que tudo neste momento não passa de especulação. “Houve o referendo de 2014 e a população escocesa optou por ficar no Reino Unido. Agora, com essa mudança repentina, cada lado reage da forma que lhe convém. Eu prefiro esperar e trabalhar com fatos, sem especular.”
O Reino Unido deve encaminhar em breve um pedido de desfiliação da UE. O primeiro passo é o novo governo britânico enviar uma carta formal aos 27 países-membros da UE para pedir o desligamento. Em seguida, o Conselho Europeu pedirá que a Comissão Europeia negocie o acordo de saída, que, para ser concretizada de fato, precisa do aval unânime do bloco. No total, o processo de desligamento pode durar ao menos dois anos. “A saída da União Europeia é algo previsto nos acordos comuns, mas é uma incógnita porque vai ser a primeira vez que isso vai acontecer”, reconhece Ellis.
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Relações com o Brasil – “As relações do Reino Unido com o Brasil são muito sólidas e antigas, somos parceiros comerciais desde a independência brasileira, em 1889”, afirmou. Ellis ressaltou que houve uma enorme aproximação nos últimos dez anos, com o aumento de investimentos britânicos aqui no Brasil nas áreas de educação, ciência e tecnologia. “Vamos ter um novo contexto, mas a parceria com os brasileiros vai continuar existindo e esperamos vê-la crescer.” Para tranquilizar os brasileiros que pretendem visitar ou moram no Reino Unido, ele também disse que “no momento nada muda em relação às leis imigratórias”.
Há três anos no país, Ellis foi Diretor de Estratégia do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido de 2010 a 2013, depois de ter sido, de 2005 a 2007, assessor do Presidente da Comissão Europeia (o português José Manuel Durão Barroso) para questões de desenvolvimento, comércio e estratégia. Ele também serviu como embaixador britânico em Lisboa entre 2007 e 2010.