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Opaq: destruição de arsenal na Líbia e no Iraque também é desafio

Diretor da organização diz que instabilidade política dificulta atuação de inspetores em países com arsenal tóxico para ser eliminado

Por Edoardo Ghirotto
20 out 2013, 13h51

A missão na Síria não é o único desafio em curso da Organização para Proibição das Armas Químicas (Opaq). Ao mesmo tempo em que os inspetores da organização supervisionam junto com a ONU a destruição do arsenal químico do regime de Bashar Assad, também há especialistas acompanhando a construção de uma pequena fábrica no meio do deserto da Líbia para colocar fim às armas químicas no país ainda instável, dois anos depois da morte do ditador Muamar Kadafi. Segundo Marcelo Kós Silveira Campos, diretor brasileiro de investigação da Opaq, o trabalho é um dos mais arriscados do órgão. “É um problema de segurança um pouco maior, porque o país ainda não está completamente reestruturado. Por ser uma unidade no meio do deserto, a equipe fica mais exposta, e ainda enfrenta as questões climáticas. É um trabalho mais duro, de difícil acesso”, disse ao site de VEJA.

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Embora tenha assinado a Convenção de Armas Químicas em 2004, cuja finalidade é impedir a proliferação do uso de substâncias tóxicas, a Líbia só declarou todo o seu arsenal químico no final de 2012, quando o governo liderado pelo primeiro-ministro Ali Zidan assumiu o poder. A Opaq supervisionou a destruição de duas fábricas que produziam armas químicas durante o regime de Kadafi. Uma terceira indústria foi adaptada para a produção de bens de consumo. A operação de destruição do arsenal tóxico do país deverá ser concluída até o fim deste ano.

No Iraque, outro país explosivo do Oriente Médio, onde facções, clãs e grupos religiosos trilham o caminho do extermínio mútuo, a Opaq enfrenta obstáculos ainda maiores à sua atuação. A instabilidade torna impossível o envio de inspetores aos locais em que o ditador Saddam Hussein armazenava armas químicas. “Os locais em que se encontra o arsenal químico são muito difíceis de ser acessados, porque os inspetores teriam de entrar no que sobrou de bunkers e depósitos. Eles precisam ser tratados com muito cuidado. Não se sabe o que poderá ser encontrado lá dentro”, explica Campos.

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O brasileiro diz que ao lado de Líbia e Iraque, apenas os Estados Unidos e a Rússia ainda têm armas químicas a serem destruídas. Os dois países produziram agentes químicos em larga escala durante a Guerra Fria. Agora, para destruí-las, foi feito um acordo com a Opaq para a construção de diversas fábricas específicas para neutralizar esse tipo de arsenal. “É um processo gradativo de destruição. Para casos assim, a Opaq desloca equipes que acompanham essa evolução. Podemos dizer que é uma atividade rotineira”, afirmou Campos.

No total, 190 países assinaram e ratificaram a Convenção de Armas Químicas de 1993, que proíbe o uso, o desenvolvimento, a estocagem e a transferência de arsenal tóxico. O número já inclui a Síria, onde o tratado entrou em vigor nesta semana.

Nos países que não têm armas químicas, o trabalho dos inspetores da Opaq é realizar visitas periódicas para verificar empresas que trabalham com substâncias tóxicas. “Caso o uso seja desviado, esses produtos podem ser usados como armas químicas”, explicou o brasileiro.

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Não signatários – Apesar de toda aversão da comunidade internacional ao uso de armas químicas, a Opaq ainda não conseguiu convencer os governos de seis países a aderirem ao tratado. Israel e Mianmar chegaram a assinar a convenção em 1993, mas não ratificaram o pacto. Já Angola, Coreia do Norte, Egito e Sudão do Sul se negaram a assinar o documento.

Nestes países, o trabalho da organização é de convencimento. “Cada um tem sua dificuldade. Não há nenhuma razão para Angola e Mianmar não assinarem o tratado, e por isso eu acredito que eles devem aderir ao pacto em breve. O Sudão do Sul é um país mais novo e ainda está um pouco distante da nossa realidade de atendimento. Já Israel e Egito apresentam uma situação geopolítica complicada. Eles têm esse histórico de equilibrar forças dentro do Oriente Médio. Essa argumentação era, inclusive, utilizada pela Síria há pouco tempo. Eles diziam que possuir armas químicas era uma defesa contra agressões externas”, compara.

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Prêmio Nobel – Esse trabalho de convencimento pode ser facilitado, acredita o brasileiro, com o destaque conseguido pela organização a partir do trabalho na Síria e, principalmente, com o Prêmio Nobel da Paz conquistado na última semana. “Facilita a partir do momento em que se percebe a importância da atividade. Evidentemente, se você não é mais um ilustre desconhecido, você passa a ser tratado de maneira diferente”, afirma o diretor. “Ninguém na organização trabalhou em troca de reconhecimento, mas ele sempre é bom”.

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