Ex-líder do Khmer Vermelho expressa remorso pela 1ª vez
Nuon Chea nunca tinha assumido a responsabilidade pela morte de milhares
O notório genocida cambojano do Khmer Vermelho Nuon Chea expressou remorso nesta quinta-feira pela morte de 1,7 milhão de pessoas durante o regime da década de 1970 e assumiu pela primeira vez a responsabilidade durante seu processo judicial. “Sou responsável pelo o que aconteceu durante o tempo da Kampuchea Democrática”, disse a um tribunal apoiado pela ONU, referindo-se ao nome do país nesse período.
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À ocasião, Nuon Chea era o número dois no comando do partido no poder. “Estou muito arrependido pelos eventos que ocorreram intencionalmente ou não. Sinto-me moralmente responsável”, acrescentou, expressando “condolências” às vítimas presentes no tribunal, onde ele enfrenta acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Nuon Chea e o co-réu Khieu Samphan, chefe de estado durante o período do Khmer Vermelho, até agora negavam responsabilidade ou mesmo conhecimento dos assassinatos. Khieu Samphan também aproveitou a oportunidade para “lamentar o sofrimento indizível infligido ao povo do Camboja sob o Khmer Vermelho”.
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Não ficou claro por que os dois homens decidiram expressar remorso neste momento, mas Lars Olsen, um porta-voz do tribunal, saudou a atitude. “Muitas vítimas esperaram há mais de 30 anos para ouvir qualquer declaração de desculpas ou arrependimento de líderes do Khmer Rouge”.
O tribunal foi criado em 2005 com o objetivo de julgar “os principais responsáveis” pelo derramamento de sangue. Até o momento, a corte expediu uma sentença de prisão perpétua a Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, notório chefe da prisão de Tuol Sleng, antiga escola de Phnom Penh, onde até 14.000 pessoas podem ter sido executadas.
O julgamento atual teve início em junho de 2011 com quatro réus. Além de Nuon Chea e Khieu Samphan, o ex-chanceler Ieng Sary e sua mulher, Ieng Thirith, que foi ministra de Assuntos Sociais. Ieng Thirith, que era cunhada do sanguinário ditador Pol Pot, morto em 1998, foi depois declarada incapaz de ser julgada por sofrer da doença de Alzheimer. Ieng Sary morreu em março deste ano.
O Khmer foi uma organização criminosa, de orientação maoísta, que tomou o poder no Camboja em 1975, tendo Pol Pot à frente. Até ser deposto por tropas vietnamitas, em 1979, o grupo matou 1,7 milhão de pessoas ou 25% da população do país, por meio de execuções sumárias ou exaurindo-as em campos de trabalho forçado.
(Com agência Reuters)