Espião libertado por Cuba era agente duplo que trabalhou para CIA
Tenente cubano passou quase 20 anos na cadeia por repassar segredos
A reaproximação entre Cuba e os EUA anunciada nesta semana também marcou a libertação de um dos mais importantes espiões que os EUA já recrutaram na ilha comunista: o tenente Rolando Sarraff Trujillo, de 51 anos, que passou quase 20 anos preso por repassar segredos do Estado cubano. Segundo uma reportagem do jornal The New York Times, Sarraff era um oficial extremamente importante do aparato de inteligência de Cuba que se converteu em agente duplo para a Agência Central de Inteligência (CIA). As informações que repassou antes de ser descoberto foram tão importantes que a agência americana ainda consegue fazer uso delas quase duas décadas depois da sua prisão.
Sarraff foi libertado em troca de três espiões cubanos presos nos Estados Unidos. No discurso em que anunciou a reaproximação com Cuba, Barack Obama não citou o nome do agente, mas destacou que ele era um dos “mais importantes” espiões que os Estados Unidos já tiveram na ilha.
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Antes da sua prisão, em novembro de 1995, Sarraff trabalhava na seção de criptologia da Direção de Inteligência de Cuba. Ele atuava como um especialista em códigos usados por espiões cubanos nos Estados Unidos para se comunicar com Havana. De acordo com parentes, ele estudou jornalismo na Universidade de Havana e tinha uma patente de primeiro-tenente quando trabalhava para a inteligência cubana.
Ainda não se sabe quando Sarraff passou a trabalhar para os americanos. Segundo o NYT, o ex-agente da Agência de Inteligência da Defesa (DIA) Chris Simmons afirmou que o tenente trabalhava em conjunto com outro funcionário, chamado José Cohen, que havia sido seu amigo de infância. Segundo esse ex-agente, as informações repassadas pela dupla levaram à prisão um grande número de agentes cubanos nos EUA, inclusive os três que foram trocados por Sarraff.
Simmons também afirma que a inteligência cubana costumava usar mensagens criptografadas para falar com seus agentes nos EUA. Os dados repassados por Sarraff permitiram quebrar os códigos de segurança. Os americanos continuaram fazendo uso das informações, que resultaram em novas prisões, mesmo anos depois da detenção do seu agente duplo.
Sarraff foi preso pouco antes de tentar desertar. Ele foi julgado por espionagem e condenado a 25 anos de prisão, escapando da pena de morte. Simmons afirmou ao NYT acreditar que ele não foi executado porque seus pais eram funcionários do governo cubano. Já o seu colega Cohen conseguiu fugir para os EUA em uma balsa. Ele vive hoje em Miami e contou que nem ele e Sarraff ganharam dinheiro repassando informações. “Fiz isso porque admirava os valores desse país (os EUA)”, disse ele ao jornal.
Vilma, irmã do espião libertado nesta semana, disse que Rolando Sarraff nunca discutiu suas atividades de espionagem com a família. Segundo a irmã, Sarraff ficou em solitária por 18 anos durante seu tempo de prisão. “Se o que eles estão dizendo é verdade, muito bem, ele pagou essa dívida com 20 anos de prisão”, afirmou ela.