Protestos contra missão da ONU no Haiti deixam 2 mortos
Boatos de que a organização teria levado cólera ao país enfureceram população
Duas pessoas morreram e pelo menos 25 ficaram feridas em incidentes e confrontos durante manifestações contra a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), lideradas pelo Brasil. Os haitianos acusam a organização de ter levado o cólera ao país, que matou 1.034 pessoas e deixou outras 16.700 hospitalizadas, segundo o ministério da Saúde.
O porta-voz da missão da ONU, Vincenzo Pugliese, confirmou que uma das mortes nos protestos foi registrada em Quartier-Morin, quando homens armados tentaram entrar no heliporto da base militar. Manifestantes começaram a atirar contra soldados que dispararam de volta “em legítima defesa”, indicou ele. A segunda vítima fatal foi um jovem baleado em Cap-Haïtien. Segundo a imprensa local, das 25 pessoas feridas, 15 foram por arma de fogo, durante estes enfrentamentos ocorridos em Cap-HaïTien. Moradores disseram ter ouvido disparos e visto barricadas de pneus em chamas pelas ruas.
Em comunicado, a Minustah pediu à população para “permanecer vigilante e não se deixar manipular pelos inimigos da estabilidade e da democracia no país”. Pugliese destacou que “o povo do Haiti tem medo e a vulnerabilidade das pessoas é explorada e manipulada por alguns partidos.”
Boatos – O medo, a confusão e a desinformação estão caminhando junto à epidemia no país. Espalhou-se um boato de que a doença teria chegado ao Haiti por meio de uma base militar de soldados do Nepal, país que teve um surto de cólera recentemente. Os soldados estão instalados desde outubro perto do Rio Artibonite, região que seria o ponto de partida da doença. A ONU reconheceu que existem alguns problemas de saneamento na base do Nepal, mas garante que os soldados não foram responsáveis pelo surto de cólera no Haiti. “A conclusão foi que seria impossível determinar de onde e como veio a doença”, salientou Nigel Fisher, chefe da missão.
Políticos haitianos da oposição e candidatos à presidência do país aproveitaram o incidente como pretexto para denunciar a presença dos 12.000 soldados da ONU no país, antes das eleições presidenciais de 28 de novembro. No último domingo, o presidente do Haiti, René Préval, tentou acalmar os ânimos e fez um discurso na televisão. Ele desmentiu os boatos e instruiu a população sobre normas de higiene, como a necessidade de lavar as mãos com água limpa antes de manusear alimentos e beber água limpa e potável. A orientação, no entanto, é difícil de ser seguida, já que em grande parte do país a água limpa e tratada é escassa.
Epidemia – Na última segunda-feira, estimativas da ONU apontaram que outros 200.000 casos da doença devem ser confirmados nos próximos doze meses. Para conter a epidemia, meio milhão de comprimidos de água, sabão e sais de reidratação oral estão sendo distribuídos em áreas onde a cólera já tenha sido detectada.
(Com agência EFE)