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Mundo árabe sob a tensão de um efeito dominó

A queda de Mubarak e a crise de seu modelo político abrem um período de instabilidade não só para os egípcios, mas para o já conturbado Oriente Médio

Por Manuela Franceschini
11 fev 2011, 19h23

A renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, representa o fim de um regime forte e ditatorial, mas que garantia grande parte da estabilidade do conturbado Oriente Médio. Com a queda de Mubarak nesta sexta-feira, abre-se um período de incertezas para a região. Outros países, como Síria, Argélia, Jordânia, Marrocos, podem aderir ao levante em efeito dominó já iniciado na Tunísia. “São países com governo forte, ditatorial e centrado no Exército. Esse modelo está em crise de legitimidade”, diz Edgard Leite, especialista em Oriente Médio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O levante da sociedade civil egípcia ratifica a insatisfação que começou na Tunísia, país que esteve mergulhado em protestos no último mês. Diante da impossibilidade de participar da vida política do país e sofrendo com os problemas de corrupção, pobreza e desemprego, a população se organizou e foi às ruas pedindo o fim deste padrão de governo.

Ibrahim Moheildeen, chefe do setor da América na Liga Árabe, ouvia a população gritar “Liberdade, liberdade!” nas ruas do Cairo enquanto conversava com a reportagem do site de VEJA. Ele falou sob condição de cidadão egípcio, não sendo a opinião dele necessariamente o que expressa a organização. Moheildeen acredita que cada país tem sua própria dinâmica, mas afirma que o que aconteceu nesta sexta-feira ainda será visto em muitos lugares. “A Tunísia foi o primeiro passo. Tenho certeza que muitas pessoas estão assistindo à televisão, vendo o que está acontecendo no Egito e se perguntando quando isso acontecerá com eles”, afirma.

Se, por um lado, a população alcança seus direitos democráticos, por outro, a situação de instabilidade se complica. “Há aqueles que vêem isso com muito otimismo, porque a forma como a sociedade civil se posicionou e não pode ser calada foi importante para redundar em uma democracia egípcia. Mas há os que vêem com preocupação, já que o fim de um regime forte no Egito pode complicar a situação de instabilidade no Oriente Médio”, avalia.

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Moheildeen acredita que independente do rumo que a oposição ou um novo regime dê ao país, as pessoas terem saído às ruas e conseguido o que pleiteavam já é motivo de comemoração. “Essa revolução foi feita pelo povo, não há líderes. Os egípcios escolheram a democracia e, definitivamente, o impacto disso em muitos outros países que ainda não a alcançaram será imenso”. Nas relações comerciais, sociais e diplomáticas ele também vê avanços. “Acho que agora haverá mais respeito dos outros países, haverá uma nova visão sobre o Egito porque escolhemos um modelo democrático”, diz.

EUA e Israel – Enquanto o modelo democrático de fato não chega, duas questões importantes não só para o Egito, mas para os países da região, podem determinar o futuro de muitos. São os acordos que o Egito mantém com Estados Unidos e Israel. Nesse sentido, é provável que o regime fixado por Mubarak ainda sobreviva. “Não será como foi até agora, mas vai sobreviver”, aposta Leite.

Isso porque, à parte da controversa Irmandade Muçulmana – maior e mais antiga organização islâmica do país -, a oposição sabe que a vida financeira do Egito está atrelada ao apoio dos Estados Unidos através do acordo comercial. E também sabe que uma indisposição com Israel seria suicida. “A aliança entre Egito e Israel é estabilizadora da região, e Mubarak foi sempre seu fiador. Mas é um acordo de sistemas, não de pessoas. Não creio que haja ruptura. Isso explodiria o Oriente Médio, poderia conduzir a uma nova guerra entre os dois”, diz Leite. “De todo modo, por algum tempo os riscos de uma mudança radical vão continuar assombrando o horizonte.”

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