Antonio Martín Guirado.
Los Angeles (EUA), 20 jan (EFE).- O blues e o jazz estão agora menos emocionantes sem a sugestiva e apaixonante voz de Etta James, uma lenda da música que lutou contra seus próprios demônios em forma de dependências químicas durante décadas e que deixou canções, radiografias de seus lamentos, para a eternidade.
A intérprete de ‘At Last’, ‘I Just Wanna Make Love to You’, ‘The Wallflower’ e ‘Something’s Got a Hold On Me’ morreu nesta sexta-feira aos 73 anos, na companhia de seu marido e seus filhos, por complicações derivadas da leucemia.
Jamesetta Hawkins, seu nome real, foi sobrevivente de uma vida levada ao limite.
Nasceu em Los Angeles em 25 de janeiro de 1938. Nunca chegou a conhecer o pai e sua mãe, adolescente no momento do parto, não pôde cuidar dela durante sua infância. Porém, sua poderosa voz foi notada rapidamente no coro gospel de uma igreja de seu bairro após receber aulas do professor James Earle Hines.
Sua mãe a levou para San Francisco em 1950 e Etta formou a banda ‘The Peaches’ – o apelido da artista -, onde foi descoberta por Johnny Otis, que a levou à fama com o tema ‘The Wallflower’, uma joia do rhythm and blues que teve que ser rebatizada – foi criada como ‘Roll With Me Henry’ – por suas conotações sexuais.
Posteriormente em Chicago assinou com a gravadora Chess Records em 1960, onde acabou aderindo a um estilo mais pop, com ‘Stormy Weather’, ‘A Sunday Kind of Love’, ‘All I Could Do Is Cry’ e a mítica ‘At Last’, que com seus acordes de violino se transformou em um estandarte do romantismo.
Foi uma das canções escolhidas por Barack e Michelle Obama na festa pela nomeação do político democrata como novo presidente dos Estados Unidos.
Em meados da década de 1960, Etta optou por um som mais descarnado enquanto enfrentava sua dependência à heroína e criava canções como ‘Tell Mama’ e a apavorante declaração de amor ‘I’d Rather Go Blind’.
Seus problemas com as drogas – especialmente cocaína e álcool – não cessaram e Etta foi internada em várias clínicas de desintoxicação durante as décadas de 1970 e 1980, uma época descrita de forma sórdida em sua autobiografia ‘Rage to Survive’.
No entanto, e apesar de contar com uma saúde muito delicada – chegou a pesar mais de 180 quilos -, conseguiu retornar aos estúdios de gravação e fazer shows incríveis, já transformada em uma dama da música, embora necessitasse de ajuda para entrar e sair do palco.
‘Pensava que ia morrer’, admitiu à revista ‘Ebony’ em 2003. ‘Estava constantemente preocupada com um possível ataque no coração’, explicou a artista, que foi submetida a uma operação em 2002 para reduzir seu peso até a metade.
Durante sua carreira, abriu shows dos Rolling Stones em 1979, venceu três prêmios Grammy e foi incluída no Salão da Fama do Rock and Roll em 1993.
Beyoncé Knowles, uma das artistas influenciadas por sua música, da mesma forma que Tina Turner, Bonnie Raitt e Christina Aguilera, levou sua vida ao cinema no filme ‘Cadillac Records’ (2008). EFE