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Desorientados, jovens coreanos recorrem a acampamentos confucianos

Tendência surgiu há uma década, após a crise financeira asiática, quando a Coreia do Sul sofreu contratempos econômicos, aumento no desemprego e nas taxas de suicídio

Por Choe Sang Hun, do The New Tork Times
11 fev 2012, 16h08

Quando olha para o lado de fora da mais antiga academia confuciana privada da Coreia do Sul, congelada no tempo, Park Seok-hong vê o resto do país “se transformar em um reino de bestas”. Ele cita acontecimentos recentes como um indício dessa imagem: jovens que xingam passageiros idosos no metrô e crianças que tiram a própria vida para escapar do bullying ou da pressão da vida hipercompetitiva na escola.

“Nós podemos ter desenvolvido nossa economia, mas nossa moral está à beira de um colapso”, disse Park. “Temos que revitalizá-la e aqui é o lugar onde é possível encontrar uma resposta para isso”. Park é o curador-chefe da Sosu Seowon, um complexo de 11 salas de aula confucianas e dormitórios inaugurado em 1543, nesta cidade a 160 quilômetros ao sudeste de Seul.

Na Coreia do Sul, onde a palavra “confuciano” é há muito tempo sinônimo de “antiquado”, pessoas como Park ganharam recentemente terreno com sua campanha para despertar novamente o interesse pelos ensinamentos confucianos que acentuam a harmonia comunal, o respeito pelos idosos e a lealdade ao estado. Nos últimos cinco anos, um número crescente de estudantes – até 15 mil por ano – tem ido a esta escola para participar de um curso sobre etiqueta confuciana. Em outros lugares, cerca de 150 outras seowon, ou academias confucianas, reabriram para oferecer programas extracurriculares semelhantes, disse Park Sung-jin, diretor executivo da Associação Nacional das Seowon da Coreia.

“Vim para cá para que o vovô me repreenda menos”, contou Kang Ku-hyun, um aluno da 6ª série que vive em Seul. Recentemente, em uma segunda-feira, a mãe de Ku-hyun o levou apressadamente ao ônibus, junto à sua irmã. Após três horas de viagem, o ônibus deixou 40 alunos do ensino primário aqui para uma estadia em seowon. Por três dias, as crianças experimentaram a vida dos estudantes confucianos do passado, recebendo instruções que incluem etiqueta no jantar e à mesa de chá, assim como modos apropriados para se dirigir aos pais de alguém. “Meus joelhos estão doendo de tanto ajoelhar”, disse a irmã de Ku-hyun, Kang Chae-won, de 10 anos, após praticar reverências posicionada no chão. “Pelo menos aprendi como me curvar de modo correto. O vovô vai ficar contente”.

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A estadia na seowon faz parte de uma tendência mais ampla que surgiu há uma década, após a crise financeira asiática, quando a Coreia do Sul sofreu contratempos econômicos, aumento no desemprego e nas taxas de suicídio. Naquela época, muitas pessoas perceberam uma perda dos valores que elas acreditavam terem sustentado os coreanos mais idosos durante privações muito mais graves, especialmente após a Guerra da Coreia, ocorrida de 1950 a 1953. Nos últimos meses, a Coreia do Sul também tem passado por um exame de consciência depois do suicídio de meia dúzia de alunos que sofriam bullying na escola. Uma série de suicídios de soldados também chocou o país, que depende do recrutamento militar para se precaver contra a Coreia do Norte.

Para lidar com esse desconforto, templos budistas passaram a oferecer “estadias em templos”, onde moradores das cidades tentam meditar e entrar em equilíbrio. Os fuzileiros navais oferecem “campos de sobrevivência”, onde as crianças se arrastam em percursos de obstáculos, em um regime que visa estimular o companheirismo e a perseverança.

Limites – Apesar de suas advertências, Park não chega a defender uma substituição do atual sistema escolar por academias confucianas. Ele pode passar horas falando sobre o que acha que está errado com a “péssima educação” de hoje – uma ênfase excessiva em inglês e matemática em detrimento de ética e história. Contudo, até mesmo ele reconhece que pregar o confucionismo na Coreia de Sul atualmente pode ter limites. Nas últimas duas décadas, ele aproveitou cada oportunidade que teve para promover o aprendizado do confucionismo – para todos, de autoridades do governo a turistas que visitavam o local. “Eles aceitam um décimo do que digo”, ele disse. “Eles me olham como se eu fosse maluco, ultraconservador, fora de moda. Eu me sinto um marginal”.

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História – Séculos atrás, meninos de toda a Coreia, cuidadosamente selecionados, viviam de modo recluso neste campus cercado por pinheiros, um riacho e um lago. Eles liam os clássicos confucianos e recitavam poemas sobre a natureza. Iniciavam e encerravam seus dias visitando um templo onde os sábios confucianos eram adorados. Ajoelhavam-se duas vezes, com a cabeça tocando o chão, antes de responderem as perguntas de seu professor sobre a leitura do dia.

No seu auge, havia mais de 700 dessas academias na Coreia, treinando os candidatos ao funcionalismo público e servindo como guardiãs do confucionismo, que consistia na ideologia de governo da dinastia Yi (1392-1897).

Lee, atual presidente do Conselho Presidencial da Imagem Nacional, cujas funções incluem a promoção da imagem internacional da Coreia do Sul, está liderando uma campanha do governo para que as seowon passem a integrar a lista do patrimônio histórico da humanidade da UNESCO. Em janeiro, a UNESCO concedeu a nove seowon, incluindo a Sosu, uma designação provisória.

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