A futura designação de um sucessor pelo líder espiritual dos tibetanos é “ilegal”, advertiu o governo da China nesta segunda-feira, ao afirmar que a atribuição do título de Dalai Lama é uma prerrogativa do governo central de Pequim.
“O título de Dalai Lama é atribuído pelo governo central e é ilegal em qualquer outro caso”, declarou Hong Lei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, dois dias depois de o Dalai Lama afirmar que será o responsável por escolher o sucessor.
O líder espiritual dos tibetanos, de 76 anos, e Prêmio Nobel da Paz em 1989 vive no exílio desde 1959.
“Quando tiver 90 anos, consultarei os grandes lamas das tradições budísticas tibetanas, os tibetanos e outros adeptos do budismo tibetano, e farei uma reavaliação da instituição do Dalai Lama para saber se é necessário perpetuá-la ou não. Com base nisto decidirei”, afirmou o líder espiritual no sábado.
Segundo a tradição tibetana, os monges têm que identificar um jovem que apresente sinais que indiquem que se trata da reencarnação do último líder espiritual.
O Dalai Lama já mencionou em outras oportunidades a possibilidade de romper com a tradição. Assim, não descartou a possibilidade de escolher ele mesmo o sucessor ou de organizar uma eleição para a nomeação do próximo Dalai Lama.
“A reencarnação do Dalai Lama inclui um conjunto de rituais e convenções religiosas. O Dalai Lama nunca teve o costume de identificar o próprio sucessor”, afirmou Hong.
Na China, o Partido Comunista decide as questões religiosas e nomeia os dirigentes das confissões toleradas no país, apesar de anunciar que respeita a liderdade de culto.
Em 1995 Pequim rejeitou a escolha do Dalai Lama sobre a reencarnação do Panchen Lama, a segunda autoridade religiosa do budismo tibetano.
O Panchen Lama escolhido pela China, Gyaincain Norbu, tem atualmente 21 anos e é objeto de elogios do governo chinês no Tibete. O nomeado pelo Dalai Lama, Gedhun Choekyi Nyima, não é visto em público desde 1995, quando foi detido na China.
Pequim afirma ter “libertado pacificamente” o Tibete com uma ocupação em 1951. O governo chinês controla de maneira rígida a região autônoma.
O Dalai Lama reclama uma autonomia real para o chamado teto do mundo, mas Pequim o considera um “separatista” perigoso.
Nesta segunda-feira, dois religiosos do mosteiro de Kirti, região tibetana do sudoeste da China, tentaram atear fogo aos corpos, informou a agência oficial Xinhua.
A polícia atuou de maneira imediata para controlar o fogo.
A ONG Free Tibet, com sede em Londres, os monges gritaram “longa vida ao Dalai Lama” antes da tentativa de imolação.
O mosteiro tibetano de Kirti foi cenário de protestos na primavera passada (hemisfério norte) depois que em 16 de março um monge se imolou em ocasião do aniversário do início dos protestos contra a China de 2008 em Lhasa.