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A luta por Jerusalém oriental, casa por casa

Dentro do território palestino, há um prédio judeu

Por BBC
18 jul 2010, 12h50

Algumas vezes você pode ver porque é tão difícil encontrar a paz em Jerusalém. A cidade gera fortes paixões. Não apenas é sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos. É também um símbolo nacional para israelenses e palestinos.

Nenhum pedaço de terra no planeta é mais contestado. Já trocou de mãos de forma violenta várias vezes. Numa pequena, íngreme e empoeirada rua da área ocupada por Israel no lado oriental ergue-se um edifício de sete andares. Há marcas de queimado nas pedras ao redor de algumas janelas.

Quando os carros passam por ali, seguranças com coletes surgem da pesada porta do prédio para acompanhar os passageiros. Por vezes, aparecem as patrulhas de fronteira de Israel, com capacetes de combate e fuzis M-16 de assalto, com balas de borracha dentro das mochilas.

O prédio é chamado Beit Yonatan, ou casa de Jonathan em hebreu. Leva o nome de Jonathan Pollard, que cumpriu pena de 23 anos numa prisão americana por espionar para Israel. As manchas nas janelas foram feitas por coquetéis molotov, disse Daniel Luria, que trabalha para o grupo Ateret Cohanim, uma organização que ajuda os judeus a comprar casas, apartamentos e terras de palestinos. Geralmente, eles pagam mais que o preço de mercado.

Os palestinos que vendem as propriedades têm de desaparecer; em geral seguem para fora do país, porque são considerados traidores. Para Luria, é apenas negócio. “Um árabe quer vender, um judeu quer comprar. É simples. Nós os ajudamos a fechar negócio.”

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Os moradores do edifício chamam a área ocupada de Jerusalém Oriental de Yemenite Village, depois que um pequeno grupo de judeus passou a viver ali desde 1938. O distrito, predominantemente palestino, é conhecido como Silwan. Os israelenses que vivem lá, incluindo família com crianças pequenas, são muito motivados por nacionalistas religiosos. Acreditam estar fazendo a vontade de Deus. Querem que o Beit Yonatan seja o começo de uma comunidade judaica em Silwan. Luria afirma que se os palestinos não gostarem, devem deixar o local.

O governo israelense vem trabalhando duro e gastou muito dinheiro para fazer da Cidade Velha e do território capturado em torno de Jerusalém na guerra de 1967 um local mais judaico. O projeto começou logo que os tiros pararam em 1967, e continua. O Ateret Cohanim se considera um personagem vital num conflito nacional. O estado ajuda de várias formas.

Os veículos ao redor do Beit Yonatan são blindados. O governo paga pela empresa de segurança privada que protege o edifício e os moradores. Numa petição no tribunal, advogados do governo justificaram os gastos dizendo que há vidas em perigo. Uma ordem foi emitida há mais de dois anos para que os judeus que vivem no Beit Yonatan deixem o local, pois o prédio foi construído ilegalmente. Mas a polícia nunca cumpriu a determinação.

Os colonos que vivem no coração das comunidades palestinas de Jerusalém são considerados problemáticos por muitos israelenses que acreditam na paz. Sua presença ali aumenta consideravelmente a tensão.

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Luria, sentado em seu Land Rover blindado, dirigindo por ruas hostis, desmente essa ideia e insiste que suas opiniões são compartilhadas pela maioria dos israelenses. “Terra por paz não funciona. O mundo precisa despertar para a realidade de que Jerusalém não pode ser dividida”, diz Luria. “Jerusalém é o centro do mundo judaico. Para um judeu, por gerações, a melhor coisa que pode fazer é cantar ‘ano que vem em Jerusalem’ na Páscoa. Hoje eles têm a oportunidade de viver perto da casa de Deus, perto do Monte do Templo.”

Descendo a rua do Beit Yonatan, atrás de uma porta de aço amassada, fica a casa da família do palestino Abu Nab. Três irmãos vivem com as mulheres e crianças ali, 45 pessoas no total. A família aluga a propriedade desde 1948. A Ateret Cohanim, que está de olho na casa, disse que o prédio já foi uma sinagoga. Abdullah Abu Nab, um dos irmãos, disse que anos atrás receberam uma oferta de 1 milhão de dólares para sair dali. Eles recusaram.

“Disse a eles que mesmo se me pagassem cada centímetro em ouro eu não concordaria em sair. Só deixarei minha casa morto, ou eles terão de me jogar na rua”, disse Abu Nab. “Quem não tem religião vai vender, mas aqueles que têm fé não deixarão suas terras, a terra de nossos avós palestinos. O dinheiro não é uma tentação, porque dinheiro vem e dinheiro vai.”

Sua família já recebeu um aviso de despejo. A comunidade palestina em Silwan reagiu com fúria e houve sérios confrontos com forças de segurança israelenses. A área ainda está tensa. Ainda que alguns palestinos peguem o dinheiro oferecido pela Ateret Cohanim e seus ricos patrocinadores, muitos outros não aceitam as ofertas. Os palestinos aprenderam com o passar dos anos que se deixarem sua terra, Israel não os receberá de volta. Luria afirma que seu lado está vencendo. Mas não há chance de paz em Jerusalém se Israel ignorar os direitos dos palestinos na cidade sagrada que os dois lados acreditam ser sua por direito.

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