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Os cinco desafios para a Copa de 2014 no Brasil

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 jul 2010, 18h12

1 . NÃO DEIXAR OS CUSTOS ESTOURAREM

Chances: mínimas

Um dos lugares-comuns mais repetidos quando se trata de avaliar os efeitos benéficos de uma Copa do Mundo ao país que a sedia é dar como certo o crescimento econômico – as estimativas vão de uma expansão do PIB de 1% a 3% no ano imediatamente posterior ao torneio. Os ingleses Simon Kuper e Stefan Szymanski, autores do livro Soccernomics – o Freakonomics do futebol – enterram essa tese. “Na verdade, sediar torneios esportivos de modo algum deixa um país rico. O motivo pelo qual os países são tão ansiosos para sediar é completamente diferente: sediar deixa sua população feliz”, escreve a dupla. “Mas, estranhamente, os candidatos a anfitriões não parecem compreender seus próprios motivos”.

Mas compreendem, com facilidade assustadora, que o nome do jogo é dinheiro – dinheiro e tudo quanto é exagero (e malversação, muitas vezes) atrelado a ele. Sabe-se, desde já, que o Mundial brasileiro custará pelo menos o dobro do realizado na África do Sul. O custo total estimado é de 17,52 bilhões de reais, destinado a 59 obras, sendo 12 delas em estádios. Apenas com os trabalhos de construção ou reforma das arenas serão gastos 5,4 bilhões de reais. Na África do Sul, dados recentemente divulgados apresentaram um total de 7,9 bilhões de reais com infraestrutura geral – e 3,4 bilhões em estádios. Nenhum dos dois países pôs nessa conta as transformações necessárias nos aeroportos. As autoridades brasileiras atribuem despesas maiores que as sul-africanas em decorrência do número maior de sedes – 12 – ante 9 da Copa de 2010.

Mas não resta dúvida: tão ou mais certo que a realização da Copa no Brasil em 2014 é o estouro orçamentário com dinheiro privado e público.

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2. PÔR SÃO PAULO NO MAPA

Chances: boas

O presidente da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa de 2014, Ricardo Teixeira, foi direto ao ponto na semana passada, ao apresentar o logotipo do torneio brasileiro em Johannesburgo: “São Paulo não tem estádio”. A frase apenas ecoava o veto da FIFA ao Morumbi. “Temos que ver qual a participação São Paulo quer ter na Copa. Se quer ter a abertura ou outra participação. O estádio da Cidade do Cabo foi construído em dois anos e meio. O prazo está acabando e São Paulo precisa definir rápido”. É inconcebível não ter a cidade mais rica do Brasil, motor da economia, com jogos fundamentais. Seria como ter Milão fora da Copa de 1990, na Itália, ou Barcelona afastada do Mundial de 1982, na Espanha.

Nos bastidores há imensa preocupação da FIFA e das autoridades brasileiras – embora já se aceite a realização do jogo de abertura, assim como o de encerramento, no mítico Maracanã, vitrine obrigatória para o resto do mundo. Descartado o paulistano Morumbi, trabalha-se com três alternativas: a construção de uma nova arena no bairro de Pirituba, zona norte de São Paulo; e as reformas do Parque Antártica (do Palmeiras) e Pacaembu (de propriedade do município). Há boas chances de uma solução porque a ausência de São Paulo em 2014, para muito além da evidente incompetência dos organizadores, representaria um baque econômico.

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3. EVITAR O CAOS NOS TRANSPORTES

Chances: razoáveis

A mais recente Copa do Mundo realizada em um país de dimensões e distâncias semelhantes às do Brasil foi a dos Estados Unidos, em 1994. Deu certo porque o deslocamento de torcedores (além de jornalistas e das próprias seleções) foi facilitado pela rica rede de transporte aéreo. Teme-se muita confusão na Copa de 2014, na ausência de garantias privada e do governo. A solução para evitar o estrago definitivo veio da própria FIFA: o Brasil será dividido em quatro regiões, de maneira a evitar grandes deslocamentos. A saber:

Área 1: Curitiba (Arena da Baixada), Porto Alegre (Beira Rio), São Paulo (sem estádio definido)

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Área 2: Rio (Maracanã), Belo Horizonte (Mineirão), Salvador (Fonte Nova)

Área 3: Recife (Arena Capibaribe), Fortaleza (Castelão), Natal (Arena das Dunas)

Área 4: Cuiabá (Verdão), Manaus (Arena Amazônia), Brasília (Estádio Nacional)

A divisão preocupa o ministério de turismo, já que impedirá maior movimentação entre as regiões do país. Mas é, sem dúvida, o melhor caminho para evitar caos aéreo semelhante ao que atingiu a África do Sul nos últimos dias, quando centenas de torcedores perderam a partida semifinal entre Alemanha e Espanha, em Durban, em decorrência de atrasos e cancelamentos de voos que partiam de Johannesburgo. A FIFA estuda algum tipo de compensação.

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4. ENTUSIASMAR O POVO COM A SELEÇÃO

Chances: muito boas

O modelo mais adequado é o da Alemanha, sede da Copa do Mundo de 2006. A federação local incentivou o treinador Klinsmann a chamar jogadores que atuavam no país, preferencialmente muito jovens. Houve fascinante entusiasmo no país, algo que não se via ali desde o fim da Segunda Guerra. Nem mesmo a queda do Muro de Berlim produzira tanta alegria. Deu-se o casamento da felicidade em abrigar uma Copa do Mundo com a descontração de uma equipe rápida, com fome de gols. A Alemanha ficou apenas com o terceiro lugar ( foi derrotada na semifinal pela Itália) mas nem mesmo o decepcionante resultado final para quem sonhava com o título apagou a genuína celebração.

A CBF ainda não escolheu o novo treinador, mas já informou que a primeira convocação depois da Copa de 2010 – no início de agosto – terá apenas nomes de “brasileiros”. Será difícil manter essa mesma postura até 2014, mesmo porque é inegável o fortalecimento profissional de jogadores que atuam na Europa. Mas como não há outra saída (vencer, e vencer com sorriso e futebol bonito), o atalho para atrair os torcedores é oferecer a eles jogadores de seus clubes de predileção. A mais recente vitória da seleção com 100% de jogadores atrelados a equipes brasileiras foi o tri de 1970. De lá para cá, a economia globalizada engoliu também o futebol, num movimento natural e necessário. Mas talvez seja a hora de um pequeno passo atrás.

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5. TORNAR O LOGOTIPO OFICIAL BONITO

Chances: mínimas

Diz o batido chavão que gosto não se discute, mas nem sempre é assim. Foi quase unânime a impressão de mau gosto com o logotipo da Copa de 2014 divulgado na semana passada. Comparado a outros símbolos recentes – como as marcas da África do Sul, agora em 2010, e a da Alemanha, em 2006 – é triste, fechada, sem vida. Comparada a clássicos como o logo de 1974, é simplesmente brega. Nem é preciso listar as piadas que já cercam o desenho (uma delas diz que se parece com o médium Chico Xavier em momento de contrição) para entender que houve uma má escolha, apressada.

Soa complicado transformar o feio em bonito, mesmo com quatro anos pela frente – mas é inquestionável que, por força de contratos de marketing, a marca se espalhará com muita velocidade. Com o tempo, e como tudo na vida acaba se resolvendo, é certo que nos habituaremos com a figura simplória.

É fundamental, contudo, que a FIFA e o Comitê Organizador Local (leia-se CBF) esclareçam como foi feita a escolha, algo que ainda anda encoberto, nas sombras. Sabe-se apenas que a marca foi elaborada pela agência África e selecionada há um mês pelo escritor Paulo Coelho, a modelo Gisele Bündchen, o designer Hans Donner, o arquiteto Oscar Niemeyer, a cantora Ivete Sangalo e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Do ramo mesmo, só Donner e Niemeyer. Para o arquiteto de Brasília, a imagem é “bonita o suficiente”. Esperava-se mais.

Quase sempre, os logotipos são criticados – o de 2006 recebeu saraivada de tiros de tudo quanto é lado, disseram que “nada tinha a ver com o espírito da Alemanha, era pueril”. Mas perto do escolhido para o Brasil 2014 é uma obra-prima de bom senso e riqueza estética.

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