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Brasil e Fifa: demora, conflito de interesses ou uma tradução mal-feita?

Por Da Redação
6 mar 2012, 09h53

Eduardo Davis.

Brasília, 6 mar (EFE).- A grande polêmica gerada entre o Brasil e a Fifa em torno da Copa do Mundo de 2014 pode ocultar um atraso real nas obras, conflitos políticos e comerciais ou até um simples mal-entendido por uma tradução mal-feita.

O pontapé inicial da polêmica foi literalmente dado na última sexta-feira pelo secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ao criticar o atraso das obras de infraestrutura e da aprovação da Lei Geral da Copa.

Segundo o dirigente francês, o Brasil deveria receber ‘um pontapé no traseiro’ para começar a levar a sério as obras e concluir o trâmite parlamentar também delicado, sobretudo pela exigência da Fifa da permissão de venda de cerveja nos estádios, algo proibido pelas leis brasileiras.

O Brasil reagiu por meio do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que no sábado considerou as declarações de Valcke ‘impróprias’, ‘ofensivas’ e ‘inaceitáveis’ e anunciou que o governo não o reconhece mais como ‘interlocutor’ para questões vinculadas à Copa.

Ao ministro uniu-se o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, que rotulou Valcke de ‘vagabundo’ e ‘boquirroto’ e também, entre muitos outros, o presidente do Senado, José Sarney, que considerou as declarações como uma ‘intromissão grosseira’.

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Na segunda-feira, após dois dias de bate-boca, o governo informou que recebeu uma carta de Valcke na qual ele se desculpa e atribui tudo a ‘interpretações incorretas’ de suas palavras.

Segundo o governo, o secretário-geral disse ter usado a frase ‘se donner un coup de pied aux fesses’, que, segundo ele, em francês não seria mais do que ‘acelerar o ritmo’, e que, na sua opinião, foi traduzida ‘usando palavras muito mais fortes’.

A tradução literal dessa frase é ‘dar um pontapé no traseiro’ e até na França seria considerada ‘ofensiva’, pois tem um conteúdo claramente ‘pejorativo’, disse à Agência Efe a francesa Alice Maria de Araújo, professora do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade de Brasília.

As desculpas de Valcke não convenceram o governo brasileiro que, segundo fontes consultadas pela Efe, ainda ‘não entendeu’ suas duras declarações, sobretudo pelo fato de que há um mês esteve no país e se disse satisfeito com os preparativos, embora tenha alertado sobre problemas em alguns estádios e obras de infraestrutura.

Valcke se referiu a deficiências em hotéis e nos transportes, nas quais o governo garante que está trabalhando, e em particular no estádio que está sendo construído em Natal, uma das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, que as autoridades admitem que está atrasado, embora não o considerem um problema incontornável.

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Apesar de reconhecer a demora, a imprensa local vai além e há setores que vinculam a polêmica a conflitos internos da Fifa e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e até a interesses comerciais, já que empresas patrocinadoras estariam fazendo pressão para terem seus negócios garantidos na lei que tramita no Congresso.

A imprensa fala há meses das frias relações entre a chefe de Estado, Dilma Rousseff, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que por sua vez estaria distanciado do presidente da Fifa, Joseph Blatter, por apetites pessoais e questões internas do organismo.

Valcke, considerado um ‘incondicional’ de Blatter, já havia ficado com uma imagem ruim diante do governo em outubro do ano passado, quando às vésperas de uma visita ao Brasil disse que não reconhecia como ‘interlocutor’ o então ministro do Esporte Orlando Silva, que foi destituído dois dias depois por suposta corrupção.

Apesar de em sua carta de desculpas Valcke garantir que o Brasil ‘é a única opção’ que existe na Fifa para a Copa de 2014, no meio deste conflito sem origem muito clara a imprensa lembrou que isso pode não ser bem assim.

Segundo o contrato assinado pelo governo brasileiro e a Fifa em 2007, a entidade reitora do futebol mundial tem prazo de até 1º de junho deste ano para trocar a sede do campeonato sem ter que pagar indenização alguma.

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A cláusula 7.7 estabelece que a rescisão pode ocorrer ‘se leis e regulamentos necessários não forem aprovados para essa data e se as autoridades competentes não estiverem cumprindo as garantias governamentais exigidas’. EFE

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