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Nicki Minaj: difícil dizer o que ela é

O certo é que ela faz parte da lista de músicos pop que apostam na controvérsia - e nas mudanças bruscas de imagem - para se manter em evidência

Por Carol Nogueira
20 fev 2012, 17h10

Faça um teste. Digite no Google as palavras “Nicki Minaj é…” e veja as respotas do site para a pesquisa, baseadas no que a maioria das pessoas procura sobre a cantora de 29 anos, natural de Trinidad e Tobago. Algumas delas: Nicki Minaj é feia. Falsa. Terrível. Uma piada. Nicki Minaj é um homem (!). Verdade seja dita, esse último ela não é. O Google lista uma opção positiva para a cantora, a única aliás: “Nicki Minaj é uma ótima rapper”. E isso ela também não é… Mas o grande volume de comentários negativos não impediu que Nicki fizesse sucesso – e muito dinheiro. Em pouco mais de um ano, seu disco de estreia, Pink Friday, vendeu 1,7 milhão de cópias. Ela ganhou vários prêmios, como o American Music Awards, o BET e o da MTV, e foi considerada pela revista Billboard uma “estrela em ascensão”. Tudo isso porque Nicki Minaj faz parte da lista de músicos pop que apostam na controvérsia para se manter em evidência. Não é o talento que está em jogo, mas a habilidade de manter-se sob os holofotes.

No Grammy do último dia 12, por exemplo, a rapper americana apareceu vestida de freira e protagonizou, no palco, o “exorcismo” de um de seus muitos alteregos, o personagem Roman. O figurino, assim como a performance, faz lembrar que algumas estrelas são capazes de tudo para alcançar seus objetivos. Duvida? Então, relembre algumas das últimas bizarrices de Lady Gaga: em 2010, ela foi ao Video Music Awards vestida da cabeça aos pés de carne fresca. No ano passado, chegou ao palco do Grammy usando implantes de “chifres” no rosto e nos ombros, e a bordo de um ovo, no qual diz ter passado 72 horas. Para este ano, Gaga planeja o lançamento de um perfume com cheiro de sangue e sêmen. Em pouco mais de três anos de fama, a cantora de Poker Face já parece ter esgotado sua capacidade de chocar. A conferir o seu novo jeitinho de chamar a atenção. Ou o próximo vestido bisonho para o guarda-roupa.

Para orquestrar essas mudanças, artistas como Gaga e Madonna trabalham com um exército de profissionais de criação. À frente deles, estão os diretores criativos, gente que é paga para tirar excentricidades da cartola. Faz parte desse time a americana Laurieann Gibson, que esteve com Lady Gaga desde o começo da fama da cantora até o ano passado, quando as duas se separaram alegando “diferenças criativas” – na verdade, Gaga não gostou nem um pouco de Laurieann ter admitido que Madonna era a sua grande referência. Foi a diretora artística, também, quem criou a performance de Minaj para o Grammy, que, segundo a rapper, deve virar um filme até o fim do ano.

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Outro famoso nesse meio é Jamie King, responsável pela apresentação de Madonna no Super Bowl deste ano. Treinado pelo cantor Prince quando era apenas um de seus dançarinos, King hoje é um dos mais famosos e requisitados diretores criativos do mundo. Ele já trabalhou com Madonna, Britney Spears e Rihanna, entre outros famosos. E será produtor do reality show de dança Q’Viva!, que será apresentado por Jennifer Lopez e terá eliminatórias no Brasil.

Como funciona Normalmente, o artista diz ao profissional o que precisa ou quer mudar em sua imagem. Depois, cabe a essa equipe descobrir um jeito de traduzir o desejo do artista em imagem. “Em geral, as pessoas querem parecer mais velhas ou menos frágeis. Para passar essa impressão, eu aconselho roupas de cores mais escuras e formas mais retas”, explica Bia Paes de Barros, consultora de imagem que já atendeu atores e uma apresentadora de TV. Segundo ela, é possível mudar completamente aos olhos do público, apenas alterando o visual. “Tenho dois tipos de clientes: os que não conseguem refletir sua personalidade no visual e os que precisam, ou querem, transmitir uma imagem diferente, como, por exemplo, um jovem que é promovido a presidente de uma empresa e quer parecer mais sério e confiante”, explica a consultora.

Porém, no caso das celebridades, diz Bia, a mudança deve acompanhar a pessoa também em seu dia a dia, caso em que Lady Gaga é exemplar. Do contrário, é impossível passar a credibilidade desejada. “O público não gosta de ver na celebridade uma pessoa comum, afinal, é o diferente que sobressai e é copiado”, diz. Para Bia, este não será o caso de Nicki, embora, para a consultora, a escolha de um alterego pela rapper demonstre fragilidade. “É mais fácil se vestir como um personagem do que assumir a personalidade dela. É como um figurino de novela”, diz Bia.

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Repetição – É como diz a crença popular: o povo tem memória curta. No Grammy, Nicki apareceu vestida de freira e com um padre a tiracolo, e enfureceu a Igreja Católica, exatamente da forma que Gaga e Madonna já fizeram ao usar referências religiosas em suas performances. Gaga já se fantasiou de freira e de hóstia, e até ousou ao vestir uma roupa de látex vermelho para conhecer o Papa Bento XVI. Madonna, pioneira em incorporar elementos religiosos em suas apresentações, pelo menos, tinha motivos para questionar o catolicismo, já que ela mesma fora criada em uma família extremamente religiosa.

Ainda assim, Bia explica que a rainha do pop é o exemplo mais perfeito de celebridade que operou várias mudanças na imagem para se manter no topo. “Quando era mais jovem, suas músicas e suas roupas eram modernas e sensuais. Quando se tornou mãe e casou, ela fez o que era necessário para ser vista como uma mulher mais madura pelos fãs.Ela sempre soube fazer o que era necessário.”

O que será? Para Ilana Berenholc, uma das principais consultoras de imagem do Brasil, cópias Gaga e Minaj não conseguem reproduzir completamente os feitos de Madonna. “Quando Madonna estava no auge, todo mundo aguardava o que ela faria a seguir, e, embora ela tenha feito muitas loucuras, conseguia passar uma imagem consistente. Já Lady Gaga, por exemplo, prefere chocar usando sempre uma imagem mais esquisita e bizarra. E sempre uma diferente por vez. Só que, fazendo isso, o público não consegue se identificar tanto com ela como acontecia com Madonna”, diz Ilana.

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No caso de Nicki, que tem cinco anos de carreira, mas apenas dois tentando conquistar o público, só o tempo vai mostrar a que ela veio. Seu segundo disco, Roman Reloaded, sai em abril e deve vir para confirmá-la como talento ou enterrá-la de vez no limbo dos fracassos cheios de pretensão. Por enquanto, o que se pode dizer é que a rapper e seus alteregos parecem sofrer do mesmo mal apontado por Ilana. Nicki tenta justificar a criação desenfreada de personagens alegando que usava a criatividade como estratégia para fugir da realidade caótica de sua casa, já que, segundo ela, seus pais, imigrantes de Trinidad y Tobago que criaram a filha em Nova York desde menina, brigavam demais. Mas, no momento, é difícil acreditar na tal sugestão de “ótima rapper” oferecida pelo Google em sua pesquisa sobre a cantora. Ao que tudo indica, ela não passa de mais uma imagem fabricada pela indústria da música.

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