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No Rio, Roger Waters descarta reunião com o Pink Floyd

Ex-líder da banda inglesa se apresenta nesta quinta com uma reedição do álbum 'The Wall' e homenageia o brasileiro Jean Charles de Menezes

Por Luís Bulcão, do Rio de Janeiro
28 mar 2012, 21h44

“Quando eu escrevi The Wall estava nos meus 30 anos. Eu achei que era só sobre mim e sobre meu pai, sobre minhas preocupações. Me dei conta, nesses trinta anos, de que não é. Há implicações mais amplas. É por isso que, com a ajuda da minha equipe, nós criamos visuais que expandem o significado da obra. E tornam a polêmica mais generalizada e a história muito mais ampla do que somente eu e meu pai, minha mãe e minhas ex-esposas”

Roger Waters, 68 anos, prefere falar sério. Em pouco mais de meia hora de entrevista coletiva, concedida na tarde desta quarta-feira, no hotel Fasano, no Rio de Janeiro, o ex-líder de uma das bandas mais influentes da história do rock não deu atenção a brincadeiras. Foi objetivo em suas respostas e buscou convergir os assuntos em torno de questões de política internacional. “Há um muro entre nós, o público em geral, e o que acontece nos corredores do poder”, afirmou. Prestes a erguer no Rio o muro construído com o Pink Floyd em 1979, Waters descartou uma reunião com os ex-integrantes e disse acreditar que David Gilmour, guitarrista e responsável por boa parte dos vocais da banda, está aposentado: “Não acho que ele tenha qualquer interesse nisso (em tocar juntos novamente). E eu não tenho interesse nisso”.

‘Mura da desinformação’ – Engajado em questões como a luta da Palestina por um estado independente, Waters considera que o maior problema do mundo atual é a falta de transparência no âmbito do poder. “O muro da desinformação é provavelmente a força mais perturbadora que eu sugeriria”, diz. Segundo ele, as pessoas não são informadas sobre as questões que envolvem as principais decisões. “Precisamos escapar da fantasia de que se você é o (Barack) Obama, você vai fazer tudo direito. Aquele cara jovem, negro, que aparece e passa por todo aquele processo em Illinois e chega ao senado e à presidência é um homem de proeminência e de um intelecto enorme. Você não poderia imaginar algo melhor. Mas uma vez que você chega à Casa Branca, alguém te puxa e diz: venha cá, filho, é assim que as coisas realmente funcionam. Esqueça tudo. Isso é o que você vai fazer agora”, opina Waters.

Após se posicionar a favor da reivindicação das Ilhas Malvinas pela Argentina, em seu show em Buenos Aires, e de ter feito homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por policiais no metrô de Londres em 2005, durante o show em Porto Alegre, no último domingo, o compositor afirmou que não está trazendo nada de especial sobre as problemáticas locais do Brasil. Ao contrário, elogiou as mudanças que tem percebido nas viagens que faz pela América do Sul: “Vejo as mudanças acontecendo. Particularmente no Brasil. O Brasil é muito rico. Vocês devem se organizar e aproveitar o fato de que isso é verdade e dividir isso de forma muito mais justa do que vocês jamais fizeram”, afirmou.

Jean Charles – O músico não considera a homenagem que faz a Jean Charles o foco do show. Mas ele fez questão de colocar a imagem do brasileiro entre as diversas pessoas relembradas, que Waters considera terem morrido injustamente: “Obviamente sendo inglês e vendo uma manifestação do estado terrorista onde eu sou cidadão, mesmo que não more mais lá, senti que era legítimo levantar a questão. Ninguém foi culpado por nada. Ninguém foi responsibilizado pelo fato de que esse cara inocente foi caçado no metrô. Atiraram na cabeça dele oito vezes. Eles erraram três tiros. Mas acertaram oito. Como sabemos, ele não tinha feito nada. Eles vieram com essa história de que o Jean estava correndo e depois se descobriu que nada disso aconteceu”, disse. Waters lembrou que seu pai, morto na Segunda Guerra Mundial, também é um dos homenageados: “Não sou um pacifista. Eu acredito que a guerra em que meu pai morreu foi necessária. O fascismo na Europa precisava ser parado. E todos que se juntaram para combatê-lo fizeram um grande favor ao mundo”, afirmou.

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Já a Guerra das Malvinas, que completa 30 anos no dia 2 de abril, é um exemplo, para Waters, de como governantes podem desperdiçar a vida de pessoas futilmente: “Galtieri (general Leopoldo Fortunato Galtieri) e Margaret Tatcher eram políticos de muito pouca imaginação em situações políticas desesperadas, perdendo o controle sobre as rédeas do poder e aquela luta onde 900 vidas foram perdidas foi uma tática de distração”, julgou.

Pink Floyd e o futuro – Mesmo descartando uma reedição do Pink Floyd, Waters lembrou com carinho do reencontro do grupo durante o Live 8, em 2005: “O Live 8 foi sensacional. Mas não podemos esquecer que o Rick (Richard Wright) estava vivo. Foi a reunião de quatro pessoas que estiveram em uma banda juntos por quase vinte anos e ter aquela experiência foi muito importante para mim e agradeço a eles a muitas outras pessoas por aquele momento. Mas acho que está meio que acabado”. Ao contrário de Gilmour, que Waters afirmou estar aposentado, ele não pretende parar. “Continuo ameaçando fazer um novo álbum. Escrevi uma nova canção nas últimas semanas, ainda não quero falar nela ainda. Mas acho que busco algo que juntasse os pensamentos, sentimentos e experiências musicais que tive nos últimos 15 anos em uma nova peça”, disse..

O velho muro – Waters afirmou ainda que o conceito do The Wall, reeditado após 30 anos, mudou. “Quando eu escrevi The Wall estava nos meus 30 anos. Eu achei que era só sobre mim e sobre meu pai, sobre minhas preocupações. Me dei conta, nesses trinta anos, de que não é. Há implicações mais amplas. É por isso que, com a ajuda da minha equipe, nós criamos visuais que expandem o significado da obra. E tornam a polêmica mais generalizada e a história muito mais ampla do que somente eu e meu pai, minha mãe e minhas ex-esposas”, disse.

Questionado se a possibilidade de chuva durante o show de quinta-feira no Rio, ele disse que não teria problemas em se molhar, mas que a segurança é prioridade. “Só não toco se qualquer um da minha equipe ou do público estiver em perigo. Chuva não é perigosa, é só molhada”, disse. O show The Wall será apresentado em São Paulo nos dias primeiro e 3 de abril.

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