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No Carnaval de 2012, as tradições se embaralham

Mangueira surpreende e inova na avenida, apesar de falhas técnicas. Campeonato deve ser decidido entre Tijuca, Beija-Flor, Vila Isabel e Salgueiro

Por Rafael Lemos, do Rio de Janeiro
21 fev 2012, 10h17

A despeito de erros que rendem pontos preciosos, a Mangueira deu de presente ao Rio o que faz de melhor: emoção na avenida e um Carnaval inesquecível

Imagine um gringo que cai de paraquedas na Marquês de Sapucaí e, momentos antes do espetáculo, tenta aprender algo sobre o universo das escolas de samba do Rio de Janeiro. O mais entendido dos bambas resumiria em linhas gerais: a Beija-Flor é a toda-poderosa, a Unidos da Tijuca é a mais inovadora e a Mangueira é o símbolo da tradição. Provavelmente, o tal gringo sairia muito confuso desse Carnaval.

Ao fim da segunda noite de desfiles na Sapucaí, as tradições parecem embaralhadas. Ousadia, criatividade e inovação vieram de onde menos se esperava. A bateria Surdo Um, da Estação Primeira de Mangueira, arriscou uma “paradona” em cada módulo de julgadores. Em silêncio, os ritmistas abriam caminho para o casal de mestre-sala e porta-bandeira atravessar a ala e, por fim, apresentar-se aos jurados. Enquanto isso, uma surpreendente roda de samba, comandada por Alcione, Dudu Nobre e outros, completava o atrevimento em verde e rosa.

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Se não chegou ao nível de execução que põe a Vila Isabel (noite de domingo), Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor no páreo para o campeonato, a verde e rosa fez em 2012 um desfile ‘quente’. A despeito de erros que rendem pontos preciosos, a Mangueira deu de presente ao Rio o que faz de melhor: emoção na avenida e um Carnaval inesquecível. Falta de emoção, aliás, é algo de que o público da Marquês de Sapucaí não pode reclamar. Mesmo desfiles que não disputam o título, como o da Portela, marcaram o Carnaval por seu alto poder de contagiar as arquibancadas. Descontadas as preferências e rivalidades dos foliões mais aguerridos, fazer cantar e sambar é, em última análise, a grande vitória de uma escola de samba.

Um problema no sistema de som do Sambódromo atrapalhou justamente a primeira “paradona” da Mangueira. Foi um susto e tanto para os espectadores mais distantes da bateria, que chegaram a suspeitar do que seria o erro mais esdrúxulo da história do Carnaval. Pouco depois, ao assimilarem a complexa e inédita operação, entraram em êxtase, deslumbrados.

A euforia do público, no entanto, está longe de significar uma vitória na Quarta-feira de Cinzas. Mais uma vez, alegorias mal acabadas comprometeram o visual da escola, sem falar nas falhas na evolução dos componentes. Mas, pelo menos em relação a um quesito, os mangueirenses podem dormir tranquilos: samba-enredo. Dificilmente, o contagiante samba da Mangueira perderá algum décimo.

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Unidos da Tijuca – Se até a Mangueira inovou nesse Carnaval, a Unidos da Tijuca deve ter virado a Sapucaí de cabeça para baixo, certo? Errado. O carnavalesco Paulo Barros teve dificuldades para imprimir seu estilo marcante no enredo sobre Luiz Gonzaga, que foge à sua linha de temas abstratos, como jogos, música, segredo ou medo. Dessa vez, havia uma história a ser contada, ainda que Barros tenha evitado uma narrativa biográfica.

Se faltou magia, a Unidos da Tijuca teve como ponto forte a sua própria infraestrutura, que nos últimos anos tem servido de base sólida para o inventivo Paulo Barros. A escola foi uma das poucas isentas de problemas como erros de evolução ou acabamento mal feito de alegorias. E é graças a essa perfeição técnica, e não à criatividade, que a Tijuca figura como uma das favoritas ao título.

Paulo Barros teve algumas boas sacadas, mas nada comparável às idéias mirabolantes dos últimos anos. Irreverente, o carnavalesco teve bom humor para alfinetar os jurados. Conforme o site de VEJA antecipou, a personagem Priscila (A rainha do deserto) saiu do abre-alas com uma placa na mão: “Voltei! Entenderam, agora?”. Foi uma resposta às críticas pela presença da drag queen no desfile do ano passado, sobre o medo. Se os jurados vão levar ‘numa boa’ a provocação, é outra história.

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A comissão de frente foi, talvez, a mais elaborada e criativa da safra 2012. No entanto, não conseguiu repetir o sucesso dos dois anos anteriores. Mesmo assim, deve garantir a nota máxima no quesito. A coreografia girou em torno do movimento do fole da sanfona, instrumento que era marca registrada do rei do baião.

Só para lembrar: o Carnaval é decidido na perda de pontos, nos erros. E não errar é a ‘regra de ouro’ em cada quesido.

Desfile da Salgueiro, no Rio de Janeiro
Desfile da Salgueiro, no Rio de Janeiro (VEJA)
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Salgueiro – O talento do carnavalesco Renato Lage brindou a Marquês de Sapucaí com um Nordeste vivo, lúdico e fantástico. Para falar da literatura de cordel, o Salgueiro contou uma história fictícia, recheada com elementos que habitam o inconsciente coletivo brasileiro.

Cangaceiros, mulas-sem-cabeça, romeiros e Padre Cícero são alguns dos personagens dessa trama. De extremo bom gosto, as alegorias vieram pequenas, bem menores do que o habitual. A medida é reflexo de um provável trauma após o maior drama da história da escola, que estourou o tempo em 10 minutos devido à dificuldade para colocar as alegorias na Avenida.

A decisão do experiente carnavalesco acabou se revelando providencial. O Salgueiro voltou a apresentar problemas na condução dos carros alegóricos, mas conseguiu contornar a situação. A tarefa foi facilitada, em grande parte, pelo tamanho reduzido das alegorias.

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Definitivamente, não foi um desfile arrebatador. No entanto, tirar pontos do Salgueiro será uma tarefa complicada. Por esse motivo, está firme e forte na briga pelo título.

Beija-Flor – No domingo, a Beija-Flor já havia deixado claro que sua outrora incontestável hegemonia ficou no passado. Para o bem do Carnaval, outras potências surgiram, pressionando todas as escolas a inovar continuamente.. Com um enredo sobre São Luís do Maranhão, a escola de Nilópolis foi responsável por um dos melhores desfiles do ano, ainda que em pé de igualdade com várias agremiações. A emocionante homenagem ao carnavalesco Joãosinho Trinta é o grande trunfo da agremiação.

Boatos sobre a saída do diretor de Carnaval Laíla, cabeça da escola, revelam o clima de instabilidade dentro da agremiação e deixam dúvidas sobre o seu futuro.

Vila Isabel – Com um enredo sobre Angola, a Vila Isabel fez um desfile alegre, envolvente e empolgante. Mostrou uma África colorida e festeira, embalada pelo ritmo do kuduro. Com um dos melhores sambas do ano e uma bateria afiada, é uma forte candidata ao título de 2012. Assim como a Tijuca, destacou-se pela ausência de erros.

A comissão de frente foi uma das mais interessantes do ano, reproduzindo uma savana africana. Os conjuntos de alegorias e de fantasias, assinados pela carnavalesca Rosa Magalhães, também foram um diferencial decisivo para a Vila. A precisão elegante do casal de metre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute Alves, foi outro charme do desfile.

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