Anna Muylaert, Regina Casé e Camila Márdila. Três mulheres protagonizam o sucesso do filme Que Horas Ela Volta?, premiado em Sundance, no Festival de Berlim e cotado para representar o país no Oscar 2016. O destaque feminino parece ter incomodado dois cineastas já consolidados de Pernambuco, Lírio Ferreira (Baile Perfumado e Sangue Azul) e Claudio Assis (Baixio das Bestas e Amarelo Manga), que desrespeitaram a diretora do filme, Anna Muylaert, em debate promovido no sábado pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Cinema do Museu, no Recife. Presentes a convite da própria cineasta, Assis e Ferreira tumultuaram a discussão ao interromper insistentemente as falas de Anna e dos organizadores, assim como as questões da plateia. Em uma atitude inédita, a direção da Fundaj anunciou nesta segunda-feira que “suspendeu” os dois diretores por um ano. Nesse período, a instituição não abraçará qualquer evento relacionado a seus filmes ou que conte com a presença dos dois.
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“É uma decisão duríssima. Não foi personalizada, não fui eu nem o Kleber. Foi uma determinação da instituição, que há mais de 60 anos se dedica à pesquisa e trabalha para tornar a sociedade brasileira mais igualitária”, comenta Luiz Joaquim, que divide a curadoria do cinema com o diretor Kleber Mendonça (O Som ao Redor) e participou do debate como mediador. “A decisão foi no sentido de se colocar para a sociedade. Foi a forma mais direta de dizer que a fundação não vai aceitar a intolerância.”
Em relação à represália, Anna Muylaert diz ter dois sentimentos: “Como pessoa, acho humilhante para os meus amigos, mas como cidadã acho importante”. Disse ainda que a medida serve para esclarecer onde começa o machismo. “Não é o caso de demonizar. A discussão é muito maior”, disse a diretora, que afirma sentir, com o sucesso alcançado por Que Horas Ela Volta?, a tentativa de diversos homens de ofuscá-la em várias situações. “Como se o brilho feminino fosse algo perigoso.”
Anna, que tem viajado muito para divulgar o filme, descreve situações similares fora do Brasil. “É uma questão nacional e mundial. Em Hollywood, as mulheres também estão falando sobre isso. Não dá mais, as mulheres vão brilhar sim, não vão ficar em casa. E os homens têm que aprender a ficar na sombra, a ouvir, não só a falar”, diz a diretora. “No início do cinema, quase só tinha mulher. Quando o negócio começou a dar dinheiro, elas foram expulsas. O mundo do dinheiro é masculino. Quando meu filme vendeu e cresceu, pequenas coisas passaram a me fazer sentir como uma intrusa. É como se ninguém soubesse muito bem como lidar comigo agora.”
(Com Estadão Conteúdo)