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‘Os jovens querem ser protagonistas da mudança’

O pesquisador do empreendedorismo de alto impacto diz que nova geração alia, pela primeira vez, negócios e ação social

Por Nathalia Goulart
1 abr 2012, 20h40

Durante parte das últimas duas décadas, as organizações não-governamentais monopolizaram as atenções quando o assunto era atacar um problema social fora da esfera dos governos – ou muitas vezes com ajuda deles. As ONGs, contudo, vêm cedendo espaço a uma nova prática: os negócios sociais. O canadense David Bornstein, pesquisador e autor de livros sobre empreendedorismo de alto impacto, é um entusiasta do modelo, que alia mobilização para solucionar um problema localizado (que vai do analfabismo em uma região à falta de saneamento básico) e rentabilidade. “Quando falamos sobre empresas sociais, estamos falando de negócios cujo principal objetivo é resolver um problema, como a pobreza. Geralmente, elas atuam em áreas onde negócios nunca se aventuraram antes, porque ninguém julgou que eles poderiam ser lucrativos”, diz Bornstein, autor do livro Como Mudar o Mundo. A modalidade ganha adeptos especialmente entre os jovens. “Eles estão buscando um novo tipo de comprometimento, que só é alcançado quando se encontra uma maneira de ajudar outras pessoas”, analisa. O interesse crescente pelo tema tem um feito colateral positivo: as universidades se veem obrigadas a tratar do assunto, impulsionadas pelo interesse de seus alunos. “Os professores e acadêmicos vivem em função dos estudantes. Eles precisarão se adequar às novas demandas.” Confira a seguir a entrevista que Bornstein concedeu ao site de VEJA de sua casa, em Nova York.

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O que o empreendedorismo social traz de novo ao mundo? Hoje, existe o reconhecimento de que é possível criar negócios rentáveis e, ao mesmo tempo, resolver um problema social sem a necessidade de atrelar essa ação a ONGs ou instituições sem fins lucrativos. Nos últimos dois anos, tivemos uma explosão desse modelo híbrido. Em muitos casos, é possível realmente lucrar ao invés de apenas viver de doações e caridade. Mas não é fácil estabelecer esse modelo. Existem milhares de experimentos acontecendo nesse momento, mas muitos desses negócios não sobreviverão: afinal, se já é difícil se manter no mercado com um negócio regular, imagine quando falamos em resolver um problema social.

David Bornstein: “Em muitos casos, é possível realmente lucrar ao invés de apenas viver de doações e caridade” (VEJA)

O que diferencia um negócio social de um tradicional? O que define é a prioridade do negócio. Antes da rentabilidade, a causa social deve aparecer em primeiro lugar. Algumas empresas desenvolvem alarmes de incêndio, por exemplo, e ganham dinheiro evitando que pessoas morram em uma situação de emergência. Podemos dizer, então, que esse é um negócio que existe para o bem das pessoas, correto? Correto. Mas há uma diferença: quando falamos em empresas sociais, estamos falando de negócios cujo principal objetivo é resolver um problema, como a pobreza. Geralmente, elas atuam em áreas onde negócios tradicionais nunca se aventuraram antes, porque ninguém julgou que eles poderiam ser lucrativos. Um exemplo simples. No Brasil, sei que existem supermercados que vendem comida orgânica. Mas eles estão localizados em áreas nobres da cidade, não estão nas favelas ou áreas carentes. No entanto, as pessoas pobres também precisam de comida de boa qualidade. Aqui está um bom negócio social: vender comida de qualidade para famílias de baixa renda. É claro que muitas pessoas dirão que não é possível fazer isso. Mas existem pessoas ao redor do mundo que já estão pensando em resolver esse problema. É assim que o microcrédito nasceu. As pessoas não achavam que seria possível emprestar dinheiro para pessoas pobres. E alguém foi lá e empreendeu nesse campo. Hoje, o microcrédito está em todas as partes do mundo. O mesmo pode ser feito com questões enérgicas, educacionais e de saúde. O limite é criatividade.

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O interesse pelos negócios sociais é crescente? Sim. O assunto está explodindo em todas as partes do mundo. É difícil colocar isso em números porque ainda é uma coisa nova. Mas posso dar alguns exemplos. Se você for à Universidade Harvard, verá que eles realizam uma conferência anual sobre o assunto que atrai um número enorme de estudantes e se tornou um dos eventos universitários mais famosos do mundo. Eu dou palestras em diversas partes do planeta sobre negócios sociais e microcrédito há mais de 10 anos. Quando lancei meu primeiro livro, em 2004, não falava para mais de 20 ou 30 pessoas. Hoje, falo para auditórios lotados de estudantes. Acabo de regressar de uma universidade de Hong Kong onde falei para mais de 1.000 pessoas. Pode parecer pouco, mas quando penso que apenas uma dezena delas queria ouvir sobre o assunto há menos de uma década, vejo que as coisas evoluíram. E essas pessoas não vão me ver por que sou escritor famoso e tenho livros sobre o assunto: é o tema que atrai esses estudantes. Eles querem ser protagonistas das mudanças.

Negócios socias interessam particularmente aos jovens? Geralmente, os jovens se sentem atraídos pela ideia. Especialmente aqueles da classe média, que cresceram com abundância em suas casas. Muitos deles receberam cuidados, não passaram muitas necessidades. Arrisco-me a dizer que muitos perceberam que apenas o sucesso financeiro não traria realização pessoal. Essas pessoas estão buscando um novo tipo de comprometimento, que só é alcançado quando se encontra uma maneira de ajudar outras pessoas. Não há nada que nos faça mais bem na vida do que ajudar uma pessoa. Eu posso comprar um Mercedes-Benz e me achar muito poderoso com isso. Mas quando uso a minha inteligência e meu potencial para ajudar outra pessoa, me sinto mais completo. Além disso, os jovens têm agora mais acesso a informações e compreendem os caminhos que levam ao empreendedorismo social. Antes, as informações demoravam a circular. Os jovens de outras gerações talvez não tivessem meios de se informar sobre determinados assuntos. Era como se isso fosse um segredo. Hoje, não existe mais isso.

Qual o papel das universidades nesse processo? Elas são essenciais. Mas não acho que elas tenham feito um bom trabalho no passado. No futuro, quem sabe. Elas serão obrigadas pelos alunos a se transformar: são os estudantes que estão falando sobre o assunto. Eles conversam entre si, formam grupos para discutir, para empreender. E os estudantes de todo o mundo estão conectados. A informação circula mais rapidamente, e a escola não está mais imune. Os professores e acadêmicos vivem em função dos estudantes e precisarão se adequar às novas demandas. Os estudantes querem ser empreendedores sociais. As escolas precisam atender a essa demanda e ensiná-los a fazer isso. Para ser inovador, você não pode exercer funções tradicionais: é preciso ousadia. A questão que as universidades precisam encarar agora é: como preparamos inovadores?

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Alguns especialistas acreditam que os negócios sociais se tornarão regra no futuro. O senhor concorda? Não acho que todos os empreendimentos serão sociais em um futuro próximo. Teremos, sim, um crescimento dos negócios e iniciativas sociais. Acho que essa geração de empreendedores, os jovens que hoje estão por aí apostando em suas ideias e lutando por um mundo melhor, criarão um ambiente mais propício para que gerações futuras invistam intensamente nisso.

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