Tempestade matou meio bilhão de árvores na Amazônia
Estudo financiado pela NASA mostra que 500 milhões de árvores foram destruídas em uma forte tempesdade em 2005 na região amazônica
Uma única e violenta tempestade varreu a Amazônia em 2005 e matou meio milhão de árvores, de acordo com um novo estudo financiado pela NASA e pela Universidade de Tulane, em Nova Orleans, EUA.
Apesar de que as tempestades são reconhecidas como causa da morte de árvores na Amazônia há muito tempo, o estudo financiado pela NASA e pela Universidade de Tulane é o primeiro a quantificar quantas árvores morreram de fato. E de acordo com os autores da pesquisa, as perdas são muito maiores do que se imaginava. O estudo sugere que as tempestades possuem um papel definitivo na dinâmica das florestas amazônicas, maior do que os cientistas reconheciam.
Estudos anteriores de um dos co-autores do artigo, o brasileiro Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, mostraram que a mortalidade das árvores em 2005 foi o segunda maior desde 1989 na região de Manaus. Além disso, também em 2005, grande parte da floresta amazônica passou por uma das mais graves secas do último século. Um estudo publicado na revista científica Science, em 2009, apontou que a seca foi a única causa pelo aumento da mortalidade das árvores na bacia amazônica. Porém, uma grande parte com imensa perda de árvores (na região próxima a Manaus) não foi afetada pela seca.
Já o novo estudo diz que uma linha de instabilidade (uma longa linha de chuvas pesadas e trovoadas) teve um papel importante na morte das árvores. A pesquisa sugere que esse tipo de tempestade pode se tornar mais freqüente no futuro por causa da mudança do clima, matando um maior número de árvores e lançando mais carbono na atmosfera.
Do dia 16 ao dia 18 de janeiro de 2005, uma linha de instabilidade de 1.000 km de extensão e 200 km de largura cruzou a Amazônia à partir do sudoeste em direção ao nordeste, causando várias mortes nas cidades de Manaus, Manacaparu e Santarém. Ventos de 145 km/h associados à tempestade arrancaram árvores pela raiz que estavam no caminho. Em muitos casos, os troncos arrancados derrubaram árvores vizinhas enquanto caíam.
Os pesquisadores usaram uma combinação de imagens de satélite, medição de campo da mortalidade das árvores e modelagem científica para determinar o número de árvores mortas pela tempestade. Ao relacionar os dados de satélite com as observações no solo, os pesquisadores conseguiram levar em consideração pequenas quedas de árvores (menos de 10) que não teriam sido detectadas pelas imagens de satélite.
Analisando as imagens que mostravam as redondezas de Manaus antes e depois da tempestade, os cientistas identificaram mudanças na refletividade da floresta, o que poderia indicar perda de árvores. Pedaços de floresta saudáveis são visíveis como verdes nas imagens de satélite. Quando árvores morrem e caem, uma clareira é aberta na floresta, expondo madeira, vegetação morta e substâncias acumuladas na superfície. Esse sinal das clareiras só é visível durante um ano na Amazônia. Depois disso, a vegetação cresce e cobre a madeira exposta e o solo. Isso significa que o parâmetro é um bom indicador para mortes recentes de árvores.
Depois que identificaram discrepâncias nas imagens de satélite, os cientistas estabeleceram cinco pontos de referência em uma das regiões de queda, e contaram o número de árvores que foram mortas pela tempestade; normalmente, especialistas conseguem diferenciar o que matou uma árvore apenas olhando para ela.
Nas áreas mais afetadas, próximas aos centros de grandes quedas, até 80% das árvores foram mortas pela tempestade. Os pesquisadores explicaram que se uma árvore morre por causa da seca, ela morre de pé e são muito diferentes daquelas que foram arrancadas por uma tempestade.
Comparando os dados de campo e de satélite, os pesquisadores determinaram que as imagens de satélite estavam apontando de maneira precisa as regiões de morte das árvores. Eles calcularam que a tempestade, nessa região, matou entre 300.000 e 500.000 árvores. O número de árvores mortas na tempestade em 2005 é equivalente a 30% do desflorestamento anual daquele mesmo ano na região de Manaus, que normalmente sofre pequenos níveis de desflorestamento. A equipe então extrapolou os dados para toda a bacia amazônica.
Os pesquisadores estimam que entre 441 e 663 milhões de árvores foram destruídas por toda a bacia. Isso representa uma perda equivalente a 23% da acumulação anual estimada de carbono da floresta amazônica.