Doença de Chagas pega ‘carona’ em lesão celular
Protozoário aproveita reparo de membrana para ser 'engolido'
Pesquisadores brasileiros e americanos demonstraram como o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, aproveita um mecanismo próprio de reparo da membrana da célula hospedeira para invadi-la. Um artigo sobre o trabalho, publicado no periódico especializado Journal of Experimental Medicine, detalha o mecanismo da infecção.
Quando membranas celulares sofrem danos, os lisossomos – organelas celulares que degradam partículas provenientes do meio extracelular – são recrutados para se fundir ao revestimento da célula, reparando a lesão.
A pesquisadora brasileira Maria Cecília Di Ciero Fernandes, pós-doutoranda da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, observou então que o parasita se vale deste processo para invadir a célula: induz uma lesão para que, durante o reparo, seja carregado ao interior da célula.
Os lisossomos, que deveriam recuperar o dano, liberam uma enzima que promove a entrada do parasita ao estimular um processo conhecido como endocitose, pelo qual as células vivas absorvem material externo através da membrana celular.
O trabalho explica também por que estes parasitas tendem a infectar certos músculos, em particular do coração, já que nestes tecidos os processos de reparo ocorrem com mais frequência. Por este motivo também a doença ocasiona a insuficiência cardíaca (o coração fica dilatado e não bombeia corretamente o sangue) e desordens do sistema digestivo (esôfago ou cólon dilatados, dificultando a ingestão de alimentos e passagem das fezes pelo intestino).