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Os primeiros frutos de uma nova era da exploração espacial

Missões como a Rosetta e a New Horizons revelam a retomada de aventuras espaciais ambiciosas e cientificamente desafiadoras. Jornadas assim podem nos levar não só à planejada conquista de Marte mas também à compreensão de nosso passado, presente e futuro

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 Maio 2016, 14h45 - Publicado em 2 ago 2015, 11h40

Sete estudos publicados na última edição da revista Science revelam que a missão Rosetta encontrou um cometa muito mais complexo e rico em compostos orgânicos do que o esperado. O 67P/Churyumov-Gerasimenko, onde pousou o robô Philae entregue pela nave Rosetta, foi descrito como uma “sopa primordial congelada” pelo astrônomo Ian Wright, da Open University, na Inglaterra, responsável por um dos instrumentos da missão que detectou as substâncias. Trata-se de um aglomerado de moléculas que formam o que os cientistas chamam de “ingredientes básicos da vida”. É uma minúscula, mas importante, pista que sugere de onde podem ter vindo os aminoácidos que formaram micro-organismos, plantas e animais que povoam a Terra. Reunindo a melhor e mais avançada tecnologia, a missão da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) é um dos programas que marca a retomada de jornadas mais ambiciosas pelo espaço. A Rosetta, assim como a New Horizons (que, pela primeira vez, viajou até Plutão) e a Juice (The Jupiter Icy Moons Explorer), programada para ser lançada em 2022, buscam explorar os confins do Universo e decifrar enigmas ancestrais, como a origem da vida no cosmo.

“Estamos em uma nova fase de exploração espacial. Desenvolvemos tecnologias para chegar a pontos muito longínquos, que podem nos trazer informações inusitadas, e já conseguimos detectar condições propícias para a formação de processos vitais de maneira muito precisa nesses locais distantes”, disse ao site de VEJA o astrônomo Daniel Mello, do Observatório do Valongo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Exploradores espaciais – Com essa ousadia, as agências espaciais recuperam o entusiasmo dos primeiros desbravadores do Universo, como o cientista dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), um dos pioneiros da astrofísica. Para ele, quanto maior a compreensão do cosmo, mais entenderíamos o passado, presente e futuro de nosso planeta e qual o lugar do ser humano nesse contexto.

Essa foi, por séculos, a motivação de inúmeros astrônomos e pesquisadores que buscaram no espaço as explicações para as origens da Terra e para o significado da existência de vida sobre ela. Outras galáxias, estrelas e sistemas planetários parecidos com o nosso poderiam trazer rastros de atividades pretéritas ou pistas para as próximas eras.

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Foi assim, com essa inspiração, que, nos anos de 1960, o homem deixou seu planeta e rumou em direção ao corpo celeste mais próximo. As missões em direção à Lua começaram em 1959 e, dez anos depois, a primeira nave espacial tripulada pousou no astro. Até a década seguinte, a agência espacial americana levou astronautas até lá em outras cinco ocasiões – a última foi em 1972. Desde então, houve um crescente desinteresse pela atividade aparentemente inútil da astronomia (é sempre interessante recordar que, sem a tecnologia desenvolvida para possibilitar as viagens à Lua, não teríamos GPS, wi-fi e os smartphones como os conhecemos).

Na década de 1960, o governo americano destinava por volta de 5% do PIB americano à Nasa. No ano passado, foi 0,5%. A redução das verbas fez com que entre os anos 1980 e 2000 poucas pesquisas fossem levadas a cabo. O cenário se modificou apenas nesta década de 2010, quando a agência espacial americana deixou os serviços que não exigiam tanto fôlego e atrevimento científico para empresas privadas, como a Boeing e a SpaceX, do genial empreendedor Elon Musk, que estão construindo foguetes para levar astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS). O interesse recente de outros países, como Índia e China, pelo espaço também ajudou a compartilhar os gastos. A missão Rosetta, por exemplo, teve seu custo de 1,3 bilhão de euros dividido entre vinte países europeus.

“A exploração espacial precisa ser fruto da cooperação internacional, de cientistas e países que estão empenhados em conhecer mais do Universo. Afinal, o espaço não é de ninguém, não é privado ou de um governo, e ainda há milhões de coisas esperando para ser descobertas. Não conseguiremos dar conta de tudo isso se trabalharmos isolados”, definiu o astrônomo Ian Wright, da missão Rosetta, ao site de VEJA.

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Exploração espacial 2.0 – Com isso, a exploração de locais próximos à Terra ficaram a cargo de investidores privados, enquanto as agências espaciais podem se dedicar a projetos cientificamente mais desafiadores. Enquanto em 2030 a SpaceX pretende concretizar a chegada do homem a uma colônia em Marte, a ESA espera que, no mesmo ano, a sonda Juice chegue a Ganimedes, Europa e Calisto, as luas de Jupiter. O objetivo é analisar a atmosfera e superfície desses astros, onde pode haver reservatórios de oceanos de água líquida sob superfícies geladas (em teoria, bom ambiente para o florescimento de vida). Com o aprendizado dos dez anos de viagem da Rosetta, a missão deve ser equipada com sensores e instrumentos potentes o suficiente para detectar compostos orgânicos.

Europa é a região do espaço onde os astrônomos acreditam que há a maior possibilidade, até o momento, de ser encontrado algo semelhante a um sinal vital rudimentar. Em 2013, a Nasa anunciou que a missão Galileo havia identificado algo semelhante a barro em sua superfície, substância que pode ter sido formada pelo impacto de um asteroide ou cometa. “Encontrar resíduos rochosos desse choque na superfície de Europa poderia abrir um novo capítulo na história da busca por vida”, disse o astrofísico Jim Shirley, um dos cientistas da missão Galileo. A combinação entre os oceanos submersos, a fonte de luz solar e compostos orgânicos seria a melhor combinação possível para originar seres vivos.

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Neste momento, já devem estar disponíveis as análises dos últimos dados da missão Rosetta – os astrônomos calculam que, se Philae continuar se comunicando, todas as informações sejam decifradas em até dez anos. O cometa 67P chegará à posição mais próxima do Sol em agosto, enviando informações preciosas sobre sua trajetória e composição.

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“Ainda não podemos sequer afirmar com toda a certeza que a água do cometa 67P seja diferente da existente na Terra. É possível que, ao chegar próximo do Sol, a composição química se modifique. Só conseguimos analisar até agora os dados dos primeiros 20 minutos do pouso. Ainda há muito a descobrir”, explica Wright.

Os últimos estudos publicados na Science sobre a missão mostraram que, como esperado, os cometas são ‘sopas orgânicas congeladas’. Provavelmente, se um cometa com a composição do 67P caísse em um planeta propício à vida, ou seja, com atmosfera que propicie temperaturas nem quente, nem frias demais, e recebendo energia suficiente de uma estrela para a existência de água na forma líquida, ele provavelmente desencadearia uma série de reações químicas que poderiam, no futuro, construir aminoácidos, a fração fundamental para a formação de moléculas como RNA e DNA.

No embalo do sucesso da chegada da Rosetta, a Nasa anunciou para 2019 uma missão que deve capturar um asteroide e trazê-lo até as proximidades da Lua. Algumas teorias afirmam que a água (e talvez a vida) podem ter se originado do impacto de cometas e asteroides durante a formação do Sistema Solar, há quase 5 bilhões de anos.

Esses dois tipos de corpos celestes são considerados relíquias dessa época, que continuam vagando pelo espaço. Se a água não veio dos cometas, a outra opção é buscar por ela nos asteroides. Além disso, cogita-se lançar novas missões que poderiam minerar esses asteroides trazidos para as proximidades de nosso planeta, em busca de metais preciosos. Assim, a exploração espacial começaria a ter um evidente fim lucrativo, como apostam empresas como a SpaceX de Elon Musk.

Além da busca pelas origens, novos planetas, fora do Sistema Solar, possivelmente continuarão a ser descobertos em velocidade crescente. A missão Kepler, lançada há seis anos, já revelou 4 696 candidatos a planetas, confirmou 1 030 e descobriu alguns muito semelhantes à Terra, como o Kepler 425b, descrito pelos astrônomos na última semana. Os próximos e mais potentes telescópios a fazer esse trabalho serão o Transiting Exoplanet Survey Satellite (Tess) e o James Webb, substituto do Hubble, que devem ser lançados em 2017.

O Tess vai monitorar planetas ao redor de estrelas anãs, enquanto o James Webb pretende examinar a atmosfera desses corpos celestes e procurar substâncias que só poderiam ser geradas por organismos vivos, como os seis elementos essenciais à vida (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre).

“Os próximos anos comporão, certamente, uma era fantástica para as missões espaciais. Chegaremos a Marte e, principalmente, telescópios e sondas avançadas possibilitarão o estudo de planetas, astros e corpos celestes que estão apenas esperando para nos contar sua história”, diz Wright. Assim poderemos achar mais algumas pistas que nos ajudem a compreender nossa caminhada pelo universo, desde as origens. Como previam os pioneiros da astronomia. Também continuaremos a notar o quão pequeno (e, provavelmente, banal) é o ser humano quando comparado à imensidão do universo que nos rodeia.

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