Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Longe do esplendor turístico, a Baía de Guanabara é o retrato da poluição

Por Por Vitoria Vélez
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h34 - Publicado em 11 jun 2012, 14h27

Distante da imagem de cartão postal que encanta turistas, a Baía de Guanabara revela uma paisagem dominada pela sujeira, onde pescadores lutam para sobreviver do mar.

“Antigamente, um dia de pesca rendia 300 quilos de peixe e pagava entre R$ 80 e R$ 100. Hoje, quando dá, o pescador tira 30 quilos e ganha entre R$10 e R$30”, relata à AFP Milton Mascarenhas Filho, 62 anos, pescador há 29, presidente da colônia de pesca de Magé, cidade a 60 km do Rio de Janeiro, localizada no norte da baía.

Milton atribui a mudança à poluição industrial, especialmente ao vazamento de cerca de 1 milhão de litros de óleo após acidente na refinaria da Petrobras no município vizinho de Duque de Caxias, em janeiro de 2000.

“Apesar da poluição, ainda dá para sobreviver da pesca. O difícil é o lixo”, reclama Cláudio Batista, de 48 anos, pescador desde os 10, enquanto retira da rede alguns poucos peixes entre pedaços de plástico.

Continua após a publicidade

A quantidade de resíduos, sobretudo garrafas PET, flutuando na água, impressiona, mas nas margens e nos mangues se encontra de tudo: de roupas e calçados a sofás e tubos de televisão.

Os detritos, afirma Milton, são trazidos ao mar pelos rios das cidades vizinhas, que contaminam a água e danificam redes e ‘currais’, armadilhas artesanais utilizadas para capturar o pescado.

A Baía de Guanabara hoje é “uma imensa latrina e lata de lixo”, critica o biólogo Mário Moscatelli, que desde 1997 denuncia a degradação ambiental na cidade e no estado do Rio.

Continua após a publicidade

“É muito afetada pela grande carga orgânica que recebe dos rios que sofrem lançamento de esgotos sanitários indiscriminadamente”, admite Gerson Serva, coordenador de um projeto de saneamento da baía, a cargo do governo estadual.

Serva explica que os quinze municípios com rios que deságuam na Baía de Guanabara lançam ali 20.000 litros por segundo de esgotos. Deste total, cerca de um terço é tratado e outros 10% sofrem um processo natural de decomposição.

O problema é antigo, mas a solução parece distante.

Continua após a publicidade

Lançado durante a ECO-92, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara consumiu cerca de US$ 1 bilhão em recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), com contrapartida do governo do estado. O PDBG previa instalação de redes coletoras, ligações domiciliares e estações de tratamento de esgoto, mas 20 anos depois, está inacabado.

“O PDBG foi o maior programa de saneamento já desenvolvido no estado do Rio de Janeiro, entretanto teve muitas falhas em sua gestão e deixou um conjunto de obras inacabadas”, reconhece Gerson Serva.

“Esse programa é o resultado mais claro da certeza da impunidade governamental onde o administrador público tem certeza de que pode fazer praticamente tudo com o dinheiro público que não lhe acontecerá praticamente nada”, acusa Moscatelli.

Continua após a publicidade

Recentemente, o governo estadual assinou novo contrato com o BID para outro programa voltado para a baía, o Plano de Saneamento Ambiental dos Municípios no Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), que Serva coordena.

Com orçamento de US$ 640 milhões, o plano prevê construção, ampliação e melhoria da rede de esgoto no centro e na zona norte da cidade do Rio e municípios vizinhos da Baixada Fluminense e São Gonçalo.

Para Moscatelli, resolver o problema, atacando as causas, exigiria políticas públicas de habitação, transporte e saneamento pelos próximos 15 a 20 anos. Mas, afirma, ações de curto prazo, como a recuperação de manguezais, permitem enfrentar as consequências da degradação.

Continua após a publicidade

Há 12 anos, o projeto Mangue Vivo, instalado em Magé, tem como meta recuperar a vegetação destruída pela contaminação e pelo desmatamento às margens da baía.

O projeto, sob responsabilidade da ONG Onda Azul, se concentra em parte do total de 1,64 km2 que precisam ser recuperados, e visa a transformar a área reflorestada em um parque ecológico aberto à visitação, mas enfrenta problemas de financiamento, enquanto a retirada do lixo que se acumula no local atrasa o replantio.

Adeimantus da Silva, coordenador do trabalho de campo, e José dos Santos, ambos funcionários da ONG, inventaram um envoltório de garrafas PET para proteger as mudas dos predadores, que é retirado quando a planta está crescida. Graças à técnica, 120 mil m2 de mangue foram reflorestados e uma segunda área de 160 mil m2 teve 40% da vegetação recuperada.

“O mangue é um verdadeiro berçário marinho. Temos um grande número de aves, mamíferos e répteis já catalogados. Peixes de espécies comerciais, como tainha e corvina, e 70% dos caranguejos que viviam no local se reproduzem e já são encontrados no manguezal recuperado”, comemora Silva.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.