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Interface permite que homem movimente o rabo de um rato apenas com o pensamento

Procedimento permitiu a comunicação entre o cérebro de duas espécies distintas, de maneira não invasiva

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h21 - Publicado em 4 abr 2013, 14h40

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Harvard conseguiram fazer com que um ser humano movimentasse o rabo de um rato desacordado usando apenas seu pensamento. Os cientistas foram capazes de ligar os cérebros dos dois participantes sem nenhum tipo de intervenção cirúrgica, usando apenas um eletroencefalograma para captar a atividade cerebral do homem e ondas de ultrassom para estimular as áreas do cérebro do rato responsáveis pelo movimento. O estudo foi publicado nesta quarta-feira na revista PLOS ONE.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Non-Invasive Brain-to-Brain Interface (BBI): Establishing Functional Links between Two Brains

Onde foi divulgada: periódico PLOS ONE

Quem fez: Seung-Schik Yool, Hyungmin Kim, Emmanuel Filandrianos, Seyed Javid Taghados, Shinsuk Park

Instituição: Faculdade de Medicina de Harvard

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Dados de amostragem: Seis voluntários humanos, que deveriam usar seus pensamentos para movimentar o rabo de um rato

Resultado: Em cerca de 94% dos testes os voluntários conseguiram fazer com que o animal se movesse, demonstrando assim o estabelecimento de uma interface cérebro-cérebro.

A primeira interface cérebro-cérebro foi anunciada em fevereiro, quando o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis fez com que dois ratos transmitissem sinais tácteis e motores entre seus cérebros. Nesse caso, no entanto, foram instalados pequenos eletrodos – menores que fios de cabelos – em áreas especializadas de seus cérebros. Em um dos animais, localizado no Instituto Internacional de Neurociências de Natal, os eletrodos captaram a atividade elétrica do cérebro, enquanto no outro, localizado na Universidade Duke, nos Estados Unidos, eles aplicaram os sinais.

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Seung-Schik Yoo, pesquisador da Faculdade de Medicina de Harvard responsável pelo estudo atual, reconhece que os trabalhos de seu grupo de pesquisa são inspirados nos realizados no laboratório de Nicolelis, mas sua pesquisa pretende ir um pouco além. Ele pretende demonstrar que a interface cérebro-cérebro também pode ser atingida entre duas espécies diferentes, e sem utilizar procedimentos invasivos. Em vez eletrodos de implantados no cérebro, eles usaram um eletroencefalograma para capturar a atividade elétrica do órgão. Para isso, treinaram seis voluntários em uma técnica que poderiam usar para estimular a atividade de seu cérebro de maneira intencional.

No treinamento, os voluntários foram colocados de frente a um vídeo, onde apareciam objetos piscando. Quando o indivíduo focava sua visão no objeto brilhante, seu cérebro se sincronizava com as luzes que piscavam e passava a gerar uma atividade elétrica em frequência semelhante. Se ele desviava seu olhar, mesmo que não fechasse os olhos, a atividade elétrica sumia. Como resultado, quando o voluntário queria que o rabo do rato se movimentasse, bastava focar sua visão no objeto, que o aparelho de eletroencefalograma captaria a atividade do cérebro e transmitiria a intenção à frente.

O animal, no outro extremo da interface, estava anestesiado e preso a um aparelho que emitia ondas às usadas nas máquinas de ultrassom de consultórios médicos. Quando o sinal que indicava a intenção de movimento era transmitido ao aparelho, ele passava a emitir as ondas em direção ao córtex motor do animal, responsável pelo movimento. A partir de um sensor instalado no rabo, os pesquisadores puderam ver que todos os seis voluntários foram capazes de estabelecer a interface cérebro-cérebro e induzir o rabo ao movimento.

Interface de vestir – Ao analisar os dados, os pesquisadores descobriram que o teste deu certo em cerca de 94% das vezes e o tempo de demora entra o homem sinalizar a intenção de movimentar o rabo e o movimento em si foi em média de 1,6 segundo.

Por não conseguir entrar diretamente no cérebro – e por isso não conseguir transmitir sinais tão complexos – a tecnologia deve ter aplicações diferentes da desenvolvida por Miguel Nicolelis. O uso do ultrassom para estimular determinadas áreas cerebrais, por exemplo, já é estudado para combater, de modo não-invasivo, condições como a epilepsia e a depressão. “As aplicações terapêuticas imediatas da técnica ainda requerem considerações cuidadosas. Outra aplicação em que temos pensado, muito mais ousada, é em permitir o controle da tecnologia para promover a comunicação entre os indivíduos com problemas de expressão”, disse Seung-Schik Yoo em entrevista ao site de VEJA.

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No estudo atual, a informação correu somente em uma direção – do homem para o rato – mas os pesquisadores pensam que ela também poderá ser implementada de modo bidirecional, entre dois indivíduos acordados. “Agora, estamos trabalhando para estabelecer a interface cérebro-cérebro entre humanos despertos, partilhando especialmente sensações rudimentares de tato. Como o método não é invasivo e utiliza as ondas de ultrassom em intensidade muito baixa, as aplicações em humanos devem ser simples de ser realizadas. Estamos trabalhando em pequenos sensores, que possam até ser vestidos pelos voluntários”, disse o pesquisador.

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