Fósseis de dois novos anfíbios brasileiros revelam como eram os animais antes dos dinossauros
É a primeira vez que os pesquisadores descrevem animais que habitavam o Hemisfério Sul há 278 milhões de anos
Nas águas límpidas dos lagos do Hemisfério Sul, há 278 milhões de anos, viviam dois anfíbios carnívoros que pareciam uma mistura de uma enguia com uma salamandra. Com a ajuda das garras de suas quatro patas, os predadores, que podiam chegar a quase um metro de comprimento, caçavam os pequenos peixes e invertebrados da região. É a primeira vez que os cientistas são capazes de fazer essa descrição dos animais que habitavam a porção Sul do planeta nessa época, graças a fósseis encontrados no Maranhão e no Piauí, no Nordeste brasileiro. A descoberta, publicada nesta quinta-feira (5) na revista Nature Communications, ajuda a compreender como se deu a evolução dos animais no período anterior à era dos dinossauros e revela como era o ambiente da região conhecida como Gondwana, que abrangia a América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica.
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Há 278 milhões de anos, durante o período Paleozoico (entre 542 milhões e 245 milhões de anos atrás), as terras do globo (chamadas Pangeia) se separaram em dois supercontinentes, a Larásia, ao Norte, e Gondwana, ao Sul. Há registros fósseis e conhecimentos sobre a flora dos dois continentes, composta de samambaias e pinheiros gigantes, mas apenas a fauna da porção Norte era conhecida. Não havia vestígios fósseis das espécies animais que habitaram o Hemisfério Sul no período.
De acordo com os pesquisadores, a descoberta dos fósseis é surpreendente, pois até então se acreditava que os anfíbios teriam vivido apenas no Hemisfério Norte.
“Agora que sabemos que seus parentes distantes habitavam em um vasto sistema de lagos na região tropical do supercontinente da Pangeia, em zonas que hoje correspondem ao Nordeste do Brasil, podemos saber mais sobre sua abundância, paleobiologia e sobre a amplitude de sua distribuição longe do equador”, afirmou Marta Richter, do Museu de História Natural, na Inglaterra, e uma das autoras do estudo, à Agência France Presse.
“Sapo de fogo” – A equipe de cientistas, composta pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e instituições internacionais como o Museu de História Natural em Londres, na Inglaterra, batizou as novas espécies de Timonya annae, em homenagem à cidade maranhense de Timon, onde foram encontrados os restos da espécie, e o Procuhy nazariensis, que em língua indígena significa “sapo de fogo” – o animal vivia em um local chamado “Pedra de Fogo”.
O “sapo de fogo” podia chegar a até 80 centímetros e se alimentava também do Timonya, que tinha entre 30 e 40 centímetros de comprimento e se movimentava como uma enguia.
Os pesquisadores também descobriram a mandíbula de um réptil similar ao Captorhinus aguti, um lagarto que se encontra na América do Norte e que é o fóssil de réptil mais antigo achado na América do Sul, datado entre 278 a 280 milhões de anos.
Todas essas espécies se extinguiram há 250 milhões de anos, com a erupção de um vulcão na região que hoje corresponde à Sibéria, para dar lugar aos dinossauros.
(Da redação)