Vítima sexual de Polanski lança livro e diz que o perdoou
Após trinta e seis anos, Samantha Geimer quebra silêncio e publica memórias sobre o abuso
Trinta e seis anos após ser violentada pelo diretor de cinema Roman Polanski, a americana Samantha Geimer publicou nesta terça-feira sey livro de memórias. Segundo ela, que tinha apenas 13 anos quando foi vítima do crime, chegou a hora de “recuperar sua própria história” e “perdoar”.
Em livro co-escrito com seu advogado, The Girl: A Life in the Shadow of Roman Polanski (A Garota: Uma Vida À Sombra de Roman Polanski, em tradução livre), Samantha, hoje com 50 anos, narra em detalhes o caso, que se passou em uma tarde em 10 de março de 1977. A história: em uma festa na casa do ator Jack Nicholson (que, para todos os efeitos, não estava presente), em Los Angeles, o diretor forneceu álcool e drogas à menina Samantha, enquanto a fotografava. Depois, contra a vontade dela, segundo o horripilante depoimento de Samantha ao júri popular que acolheu o pedido de indiciamento de Polanski, submeteu-a a sexo oral e a penetração vaginal e anal.
Polanski alegou que o sexo fora consensual. O código penal californiano em vigor desde 1913 diz que até os 18 anos não existe sexo consensual, só estupro, e ele é tanto mais grave quanto maior for a diferença de idade entre o estuprador e a vítima. O diretor, portanto, foi indiciado por estupro e sodomia. A promotoria e a defesa, então, fizeram um acordo – recurso usual na Justiça americana. O indiciamento seria atenuado para “sexo ilegal com uma menor” e Polanski, então com 44 anos, receberia uma sentença a ser cumprida em liberdade condicional. O cineasta chegou a honrar a primeira parte do acordo. Compareceu perante o juiz, declarou-se culpado (é portanto réu confesso, e por isso o crime não está sujeito a prescrever) e cumpriu 42 dias de avaliação em uma instituição psiquiátrica penal. Mas, solto sob fiança enquanto aguardava a sentença e temeroso de que o juiz decidisse encarcerá-lo, resolveu fugir dos Estados Unidos.
Sob a influência do álcool e das drogas, impressionada pela fama e pela diferença de idade, Samantha diz que não lutou contra o cineasta. “Por que lutar?”, escreveu. “Faria qualquer coisa para que aquilo acabasse”. Ela narra ainda seu medo, e as lágrimas que verteu mais tarde, no carro, enquanto Polanski a levava para casa e lhe perguntava se estava bem. “Sim, estou bem, não se preocupe”, respondeu. Nesse momento, o cineasta pedia à adolescente que não contasse nada à mãe.
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“Eu estava sendo fotografada por Roman Polanski e me estupraram”, escreveu depois em seu diário, de acordo com o livro. Sua vida mudou para sempre e, durante 13 anos, viveu sob a pressão da imprensa, da polícia e do tribunal da Califórnia, apesar dos esforços de sua família para protegê-la. “O que aconteceu não foi pior do que o que iria acontecer depois”, escreveu.
Em seu livro, Samantha denunciou o sistema judicial da Califórnia e os “atores corruptos” que, segundo ela, atuavam visando a publicidade mais do que a justiça. “Meu crime foi ter sido vítima de um estupro por parte de uma celebridade de Hollywood”, denuncia.
Hoje, Samantha é mãe de três filhos e divide seu tempo entre o Havaí e Nevada. “Minha família nunca pediu que Polanski fosse punido. Apenas queríamos que a máquina judicial parasse”, escreve ela.
No final de livro, ela diz que perdoou Polanski: “Não o fiz por ele, mas por mim”, afirma.
(Com agência France-Presse)