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Nelson Freire cancela concertos com a OSB

O maior pianista brasileiro está solidário aos colegas da orquestra, que demitiu 32 músicos que se recusaram a se submeter a avaliação de desempenho.

Por Lucila Soares
5 abr 2011, 17h43

A Orquestra Sinfônica Brasileira, fundada há 70 anos, tem projeção internacional modesta. Mas, nas últimas semanas, tornou-se assunto obrigatório no mundo da música clássica internacional. O motivo é uma guerra trabalhista que jogou em campos opostos o maestro Roberto Minczuk (e a Fundação OSB) e o corpo da orquestra. Até agora, foram demitidos 32 músicos que se recusaram a participar do processo, mais de um terço do total. Em solidariedade aos colegas, o pianista Nelson Freire anunciou, nesta terça-feira, o cancelamento de sua participação nos concertos agendados com a orquestra. Antes dele, a pianista Cristina Ortiz e o maestro Roberto Tibiriçá fizeram o mesmo.

O barulho em torno da crise da OSB é amplificado pelas redes sociais e por manifestações em blogs especializados, como o Slipped Disc, do crítico inglês Norman Lebecht, autor dos livros Quem Matou a Música Clássica e O Mito do Maestro. Lebecht vem acompanhando com indignação os acontecimentos. Nesta terça-feira, disse que Minczuk está em total desacordo com “as práticas modernas de orquestras civilizadas”. E acrescentou que a viagem do maestro à Inglaterra, no mês que vem, tem por objetivo “tentar recrutar alguns músicos famintos para fechar as lacunas que ele causou na OSB”.

É mais do que compreensível que, em situação como essa, a opinião pública em geral – e a dos músicos em particular – apoie a orquestra, e não seu regente e a fundação, que é a empregadora do conjunto. Vai contra o senso comum que artistas possam passar por avaliações de desempenho como outros trabalhadores passam em suas empresas. Até porque o trabalho dos músicos de uma orquestra exige ensaios e apresentações regulares, o que poderia ser oportunidade para uma avaliação cotidiana por parte do maestro. Por outro lado, não há como negar que a Fundação OSB, na qualidade de empregadora, pode sim decidir que método de avaliação considera mais adequado.

É verdade que, desde que Minczuk assumiu o posto de regente, há cinco anos e meio, a orquestra se aprimorou, o número de concertos aumentou, e a situação financeira estabilizou-se – o que fez com que o salários dos músicos, que era de 2.200 reais em 2005, varie hoje entre 6.177 reais e 7.777 reais. Em julho, a proposta da Fundação é que a remuneração fique entre 9.377 e 11.047, dependendo do número de concertos de que cada músico participar. É uma situação completamente diferente da que acontece com a Orquestra do Teatro Colón, de Buenos Aires, cujos músicos estão em greve por atraso de pagamento. Mas, assim como se sabe o mal que o corporativismo pode fazer ao desempenho de qualquer grupo profissional, é sabido que o estilo do maestro Roberto Minczuk comporta pouco jogo de cintura e negociação.

A situação que se criou é lamentável. Como escreveu em artigo publicado hoje o maestro Isaac Karabtchevsky, o bom nome de uma orquestra é essencial a sua sobrevivência. “Que patrocinador gostaria de unir sua instituição a uma orquestra esfacelada, dividida?” Essa é a pergunta que ainda não tem resposta.

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