Se os professores fossem também leitores e mediadores de leitura, se as famílias tivessem livros em casa e os pais costumassem lê-los na frente das crianças — e também para elas –, e se as bibliotecas fossem atrativas tanto na forma quanto no conteúdo, é possível que o Brasil pudesse ser chamado de um país de leitores. É o que defende a socióloga Zoara Failla, coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de março, e organizadora do livro de mesmo nome lançado agora na 22ª Bienal do Livro de São Paulo. No entanto, a obra, assim como a pesquisa, traz informações preocupantes. Se o índice de leitura do brasileiro é de quatro livros por ano, como aponta o levantamento, quando excluídas as obras indicadas pela escola, ou seja, quando considerada apenas a leitura espontânea, chega-se ao risível índice de pouco mais de um livro por ano por pessoa. Os colombianos leem 2,2 e os espanhóis, 10,3.
Na última edição da pesquisa, de 2007, feita também pelo Ibope Inteligência a pedido do Instituto Pró-Livro, formado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional de Editores (SNEL) e Associação Brasileira dos Editores de Livros Escolares (Abrelivros), a mãe era a maior incentivadora da leitura, com 49% das respostas. Hoje, responde por 43% e perde a liderança para o professor. Ele é apontado por 45% dos entrevistados como a pessoa que mais indica obras e leitura.
Segundo Zoara, 150 educadores responderam à pesquisa e acabaram reproduzindo o que a população apresenta como dificuldade de leitura e interesse pelo livro. No tempo livre, ao invés de ler, eles também assistem a televisão, lazer preferido de 85% dos brasileiros.
A obra traz artigos de pesquisadores, escritores e de profissionais do governo, de entidades do livro e de organizações do terceiro setor acerca dos mais variados temas abordados no levantamento que ouviu, em 2011, 5.012 pessoas de 5 anos ou mais, moradoras de 315 municípios. Traz ainda os números da pesquisa e gráficos comparativos, apresentando um mapa do comportamento leitor brasileiro — o que lê, quando e onde lê, por que lê.
A análise feita agora dos dados possibilita traçar tendências, identificar políticas e ações que estão dando certo e sugerir novos caminhos. Entre os autores, estão a escritora Ana Maria Machado, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL); Ísis Valéria Gomes, presidente da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; a pesquisadora Marisa Lajolo; Tania Rösing, idealizadora da Jornada de Literatura de Passo Fundo, e muitos outros.
Desenvolver a habilidade leitora da criança não é tarefa fácil, mas é um dos objetivos da educação básica. Mais difícil é transformar essa criança que está aprendendo a juntar letrinhas num leitor crítico e num leitor que terá prazer em ler um livro de literatura — e que continuará buscando novas leituras quando sair da escola e não for mais obrigado a ler.
RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL 3
Org.: Zoara Failla.
Editora: IPL e Imprensa Oficial (344 págs., R$ 30)
DESTAQUES DA BIENAL
Quinta, 16/8
16 h – Espaço do Professor
Oficina Biblioteca para Bebês ou Quando Apresentar Livros para Uma Criança, com Tania Rösing
17 h – Livros & Cia
Livros e o Lado Brilhante da Nova Classe Média, com Marcelo Neri (FGV)
Sexta, 17/8
19 h – Livros & Cia
A Cobertura do Mercado Editorial pela Imprensa, com Rinaldo Gama (editor do Sábatico), Antoune Nakkhle e Luiz C. Pereira
Sábado, 18/8
19 h – Rua N20
Homenagem a Lygia Fagundes Telles, com a presença da escritora e da neta Lúcia Telles
Domingo, 19/8
15 h – # Você + Quem = ?
Formação Profissional num Mundo Líquido, com Lucia Santaella e Miguel Nicolelis
(Com Agência Estado)