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Em novo filme, diretor de ‘Amélie Poulain’ explora a mente de uma criança

Cineasta Jean-Pierre Jeunet divulga no Brasil sua nova produção 'Uma Viagem Extraordinária', em cartaz no Festival Varilux de Cinema Francês

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 abr 2014, 11h02

“Ver a realidade no cinema como quem assiste à vida pela janela da sala não me interessa. Gosto de algo a mais”

O francês Jean-Pierre Jeunet é uma figura tão intrigante quanto seus filmes. Diretor de sucessos como o poético O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) e a ficção Alien – A Ressurreição (1997), Jeunet tem uma aparência discreta, que em nada se parece com outros cineastas de estilo parecido com o dele, como o extravagante Tim Burton (de quem é fã) ou Wes Anderson (a quem odeia). Contudo, sua mente é uma caixinha de surpresas, com ideias e gostos excêntricos, e alguns bem distantes de suas obras.

Por exemplo, apesar de produzir longas com estética marcante e fábulas que beiram o fantástico, com garotas sonhadoras ou crianças cheias de imaginação, que veem monstros embaixo da cama, o cineasta diz odiar qualquer tipo de produção de fantasia. Quem cita o nome de Game of Thrones ou Senhor dos Anéis perto dele verá uma careta seguida de uma frase de repúdio. Realismo? Ele também não gosta. Prefere o meio termo. “Ver a realidade no cinema como quem assiste à vida pela janela da sala não me interessa. Gosto de algo a mais”, diz o diretor em entrevista ao site de VEJA.

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Em seu novo filme, Uma Viagem Extraordinária, em cartaz no Festival Varilux de Cinema Francês, o diretor adapta para os cinemas o livro infantil O Mundo Explicado por T.S. Spivet, de Reif Larsen, editado no Brasil pela Nova Fronteira. Na trama, T.S. Spivet (Kyle Catlett) é um garoto de 10 anos superdotado, apaixonado por ciência e pelo irmão gêmeo, Layton (Jakob Davies), seu oposto, mas complementar. Ambos vivem em uma fazenda com os pais (Helena Bonham Carter e Callum Keith Rennie) e a irmã mais velha (Niamh Wilson). Certo dia, em uma brincadeira com armas no celeiro, um acidente acontece. Layton morre e T.S. carrega consigo a culpa do ocorrido.

Mais tarde, o jovem cientista é escolhido para ser condecorado com um prêmio em uma instituição em Washington, capital dos Estados Unidos. Sem a autorização dos pais, T.S. parte em uma longa aventura e cruza o país escondido da família. O que parece a busca por um sonho, logo se mostra ser apenas um garotinho tentando fugir do passado e de uma família danificada. Carregado de drama, mas com o famoso tom poético do diretor, com pitadas de humor, o filme entra na mente do garoto, encara seus medos infantis em contraponto com sua genialidade. Lados que, literalmente, saltam na tela, em belas ilustrações voadoras.

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Em uma rápida visita à cidade de São Paulo, onde recebeu a imprensa para divulgar o novo filme e foi tratado como convidado de honra pelo Festival, o diretor Jeunet falou sobre por que, apesar da fama, evita Hollywood, o que assiste na televisão e sua grande paixão: o futebol.

O senhor fez questão de conceder a entrevista em frente a um telão para continuar vendo o jogo entre Atlético de Madri e Barcelona, pelo jeito gosta de futebol. Gosto bastante, principalmente dos bons jogos, mas não tenho um time favorito. Acompanho aos principais times europeus. Essa semana o Paris de Saint-Germain perdeu para o Chelsea, mas não me importo, só faço questão de assistir.

Acha que o Brasil bate a França este ano? Pois é, talvez, acho que essa é a chance de vocês se vingarem por 1998.

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Além de futebol, o senhor gosta de ver outras coisas na TV? Sim, as séries de TV têm nos dado um frescor de boas produções recentemente. Os roteiros estão criativos. Isso é bom, pois o cinema precisa se reinventar, olhar para a TV e se espelhar. Estamos ficando velhos, eu já estou bem velho. Então me alegra ver produções como Breaking Bad e Downton Abbey.

Gosta de Game of Thrones? Não, odeio. Acho péssima. Tudo que envolve dragões, mágicos, elfos, varinhas com poderes, detesto tudo. Senhor dos Anéis e Harry Potter me dão vontade de vomitar.

É estranho ouvir isso de um diretor de cinema que faz produções que beiram o fantástico. Meus filmes são poéticos. Gosto da realidade, mas prefiro colocar algo a mais na realidade. O realismo cru também não me agrada. Ver a realidade no cinema como se assiste à vida pela janela da sala não me interessa. Gosto de algo a mais. Por isso sempre coloco um ponto de vista distinto, uma fotografia marcante, uma poesia no fundo.

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Você dirigiria uma série de TV? Não sei, acho que não. Já é muito difícil fazer apenas um filme, imagine 16 ou 20, de uma só vez, para ser exibido um por semana, deve ser quase impossível. Sei que eles possuem uma equipe gigantesca por trás da produção, mas por enquanto não tenho pique. Quem sabe no futuro.

Seu estilo de fazer cinema também é visto em alguns outros diretores, como Tim Burton. O que acha dele? Gosto muito do trabalho do Tim Burton e de cineastas que usam esse toque a mais. Por exemplo, na minha lista de dez filmes favoritos da vida está o Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Não falo isso porque estou no Brasil. Realmente gosto muito deste filme e representa bem o que eu penso sobre apresentar a realidade de uma forma mais interessante. O italiano Federico Fellini também é outro que me agrada muito, que serve de inspiração.

O senhor gosta de Wes Anderson? Não, detesto também. Não entendo nada que ele quer dizer com seus filmes. A estética é bonita, mas as histórias são confusas e chatas. Sai do cinema na metade durante a exibição do seu último filme O Grande Hotel Budapeste.

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Por que decidiu por filmar a história do Uma Viagem Extraordinária? A história é baseada no livro O Mundo Explicado por T.S. Spivet e me encantei com o design do livro, as ilustrações, o mundo visto pelos olhos daquele menino. Então pensei que renderia um bom filme, com uma história sensível e estética boa para se explorar.

O longa é uma parceria com o Canadá, porém a história é americana. Por que não produziu o filme com Hollywood? Porque para mim a coisa mais importante no meu trabalho é a liberdade. E essa liberdade não existe em Hollywood, é muito rara. Se um diretor quer fazer um filme com o seu corte final, então ele tem que procurar outras parcerias.

A sua parceria com a atriz Audrey Tautou rendeu boas produções além da mais famosa O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Alguma chance de que voltem a trabalhar juntos? Sim, com certeza. Ela é uma ótima atriz. Além de Amélie e de Eterno Amor fizemos comerciais do perfume Chanel Nº 5 juntos. É muito bom quando você pode explorar os diferentes lados de uma mesma atriz, por isso adoraria trabalhar com ela de novo no futuro.

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