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Aguinaldo Silva: “Um criador tem que saber vender seu peixe”

De Lisboa, o autor diz que as redes sociais renovaram seu público: "Os jovens abstraem que sou um Matusalém"

Por Leo Pinheiro
29 ago 2010, 09h08

“Portugal é muito mais aberto a certos temas ‘delicados’ do que o Brasil. O beijo gay, por exemplo, já aconteceu na televisão portuguesa, sem que houvesse outro terremoto em Lisboa. O brasileiro faz qualquer negócio, mas não quer que se diga isso na televisão. Qual é mesmo o nome pra isso? Ah sim: hipocrisia”

“Arrependo-me sim, mas de ainda não ter falado de mais alguns por falta de tempo.” Esta é a resposta de Aguinaldo Silva quando perguntado sobre a exposição que assume quando expressa suas opiniões sobre pessoas públicas em seu blog, no Facebook e em seu popular perfil no Twitter. De celebridades instantâneas como o ex-BBB Marcelo Dourado a nomes consagrados e queridos pelos telespectadores, ninguém escapa das agulhadas de Aguinaldo, que aos 66 anos é dono de uma das línguas mais afiadas do meio artístico brasileiro. Uma de suas vítimas recentes foi a atriz Glória Pires, que após declinar ao convite para protagonizar a próxima novela de Aguinaldo foi “esquecida” pelo autor em texto sobre o lançamento de sua própria biografia.

Aos inimigos, a lei, e às amigas, elogios. Ao confirmar o nome de Lilia Cabral como substituta de Glória Pires em Fina Estampa, diz que trabalhar com a atriz é o “sétimo céu”. E refere-se a Susana Vieira, que fará participação especial na novela Laços de Sangue (a primeira novela co-produzida entre o canal SIC e a Rede Globo), como “minha amiga e eterna musa”. Tudo divulgado em primeira mão por ele mesmo na internet, onde virou ícone pop. “Hoje em dia, um criador tem que saber vender seu peixe, e as mídias sociais são os melhores veículos para isso”, declara. Aguinaldo tomou tanto gosto pela coisa que já começou a desenvolver um projeto exclusivo para Internet para depois que se aposentar das novelas. Mas isso somente em 2014.

Neste momento, Aguinaldo está em Portugal supervisionando Laços de Sangue. Depois de uma primeira reunião que começou com “estranheza” por parte dos portugueses convenceu os novelistas a aderirem o melodrama sem temer o ridículo. “Tive que insistir um pouco, mas agora eles já reconhecem o valor de um bom barraco ou, como chamam aqui, uma peixeirada. De Portugal o autor fala com exclusividade a VEJA.com dos detalhes da estreia de Laços de Sangue, em setembro, e dos seus novos projetos, que incluem uma minissérie com personagens de Cinquentinha.

Como aconteceu o convite para supervisionar o texto de Laços de Sangue?

A Rede Globo me convidou e, depois de pesquisar para saber se eu tinha sido a primeira opção – tinha (risos) – eu aceitei. Fizemos um contrato à parte, que não tem nada a ver com o meu contrato com a emissora.

A Globo fará pelo menos mais uma co-produção com a SIC. Você será novamente o responsável pela supervisão do texto?

Falou-se numa versão portuguesa de Roque Santeiro. Nesse caso, eu, que escrevi a maior parte da versão brasileira, teria que participar. O problema é que no ano que vem tenho que escrever minha própria novela. E se você quiser saber minha opinião, bem, eu acho que em vez de um remake brasileiro os portugueses devem escrever suas próprias novelas.

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Como os autores de Laços de Sangue, encaram sua interferência no texto?

Eu deixei bem claro para a Rede Globo que sem a total adesão dos autores, eu desistiria do meu trabalho. Aí, tivemos uma primeira reunião e, após a meia hora inicial de estranheza, embarcamos no projeto e viramos parceiros. Pedro Lopes e sua equipe são roteiristas da maior competência; como trabalham para uma produtora independente, tocam vários projetos ao mesmo tempo. São profissionais mesmo.

Qual foi a sua principal colaboração para Laços de Sangue até agora?

Eu carreguei nas tintas, fiz com que os roteiristas aderissem sem culpas à linguagem do melodrama.

Foi difícil convencer os autores portugueses a não seguir fórmulas às quais já estavam acostumados?

Foi. Principalmente foi difícil convencê-los de que novela é folhetim, é melodrama, tem que ser rasgada e não teve temer o ridículo. Eu tive que insistir um pouco, mas agora eles já reconhecem o valor de um bom barraco ou, como chamam aqui, uma peixeirada. Nenhuma novela sobrevive se não oferecer aos seus telespectadores uma sucessão de fofocas e escândalos.

Recentemente você supervisionou Tempos Modernos, mas a interação com os autores não foi bem-sucedida. O que deu errado?

Faltou a adesão de que eu falei há pouco. Bosco Brasil tinha um projeto de novela e deixou claro que não se afastaria dele. Assim, a minha supervisão se tornou impossível.

Os autores brasileiros são mais resistentes às colaborações ou críticas do que os portugueses?

Há autores e autores. Os portugueses trabalham melhor em equipe, os brasileiros resistem a isso. Eu e Gilberto Braga somos os únicos a ouvir os colaboradores.

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Aguinaldo Silva em Lisboa com a equipe portuguesa de “Laços de Sangue” (VEJA)

Em suas novelas no Brasil você já abordou assuntos como prostituição, relações bissexuais etc. Acha que os portugueses estão preparados para experimentar esses temas ou ainda existem pudores?

Portugal é muito mais aberto a certos temas “delicados” do que o Brasil. O beijo gay, por exemplo, já aconteceu na televisão portuguesa, sem que houvesse outro terremoto em Lisboa. O brasileiro faz qualquer negócio, mas não quer que se diga isso na televisão. Qual é mesmo o nome pra isso? Ah sim: hipocrisia.

Você já criticou a qualidade das novelas brasileiras dos últimos tempos. O que está faltando à nossa teledramaturgia?

O que todo mundo já percebeu: criatividade. Escrever novelas virou um ato de pura burocracia, e burocracia é coisa para Ideli Salvatti.

O que você pretende trazer de novo na dramaturgia de suas próximas novelas?

O velho. (Risos) Fina Estampa, minha próxima novela, será um novelão, mas sem a menor vergonha de sê-lo, porque eu acho, embora possa estar errado, que o público está querendo é isso.

Como será Fina Estampa? Este é o título definitivo da novela?

Sim, é o título definitivo. Não posso adiantar nada, a não ser o tema central, que perpassa por todas as tramas, e que é uma pergunta: o que é mais importante para uma pessoa, a aparência ou o caráter?

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Depois de tantos anos, ainda fica ansioso com a estreia de uma novela?

Para um autor que não seja megalômano, qualquer novela é sempre a primeira. Mais do que do talento dos que a produzem – autor, diretor, atores, produtores, etc. – uma novela depende do gosto do público, e o gosto do público é um mistério, pois sempre muda. Assim, uma estreia de novela para mim é sempre motivo para muito choro e ranger de dentes – eu sempre acho que dessa vez não vai dar certo. Deve ser, também, um pouco de má consciência, porque autor de novela, você sabe, ganha muito bem.

Mudar os rumos de suas tramas de acordo com os índices de audiência não o incomoda artisticamente?

Quando escrevo novela eu me considero um gatilho de aluguel, pois a novela não é minha, é de quem a produz, quem põe o dinheiro nela. O que o produtor quer é audiência. E eu não estaria fazendo jus ao que ele me paga se não lhe desse isso. Por isso lhe dou, mesmo tendo que mudar os rumos da novela.

A minissérie Lara com Z é a continuação de Cinquentinha ou trata-se de outra história?

É o que os americanos chamam de um spin off, e os portugueses, de uma sequela. É também uma contribuição, da minha parte, para dar aos nossos seriados uma linguagem mais brasileira. Ah, sim: depois de Cinquentinha já estrearam uns seis seriados, mas nenhum chegou nem perto da audiência dela.

Você se tornou uma personalidade pop, inclusive entre o público mais jovem. A que se deve isso?

A uma necessidade imposta pelos novos tempos. Até hoje vejo escritores a dizer que não usam computador, porque este cerceia a criatividade. Como é que pode? Hoje em dia um criador tem que saber vender seu peixe, e as mídias sociais são o melhor veículo para isso.

Acha que a popularidade de seu blog e de seus perfis no Twitter e Facebook são indicadores da renovação de sua audiência?

Sim, porque atinjo um público jovem, juvenilíssimo, que, por conta dos meus escritos no blog e no Twitter, abstraem o fato de que sou um verdadeiro Matusalém (risos) e se identificam comigo.

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Já pensou em se dedicar a algum projeto exclusivo para internet?

Tenho um projeto neste sentido, mas não posso dar mais detalhes.

Você tem usado a internet para expressar suas opiniões sobre o trabalho e a vida de algumas pessoas públicas como Glória Pires, Marília Pêra, Du Moscovis, Carolina Dieckmann, Guilherme Fontes, Gilberto Braga, Zeca Camargo, Patrícia Poeta, e muitos outros. Arrepende-se de ter falado mal de alguém?

Arrependo-me sim, mas de ainda não ter falado de mais alguns, por falta de tempo.

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