Relator da CPI quer poupar governo federal
Odair Cunha sugere que as investigações sobre a construtora Delta se restrinjam à atividade da empresa no Centro-Oeste, o que livra o Planalto
O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), apresentou nesta quarta-feira à comissão sua proposta de cronograma para os trabalhos. A agenda prevista delimita o foco da investigação e, ao tratar de um dos braços da quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira, a construtora Delta, faz menção apenas à diretoria da empresa na região Centro-Oeste, onde a companhia era comandada por Cláudio Abreu, que já está preso. A iniciativa poupa o governo federal, que mantém contratos bilionários com a empresa, e também livra o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
“A agenda buscará caracterizar a organização criminosa liderada por Carlinhos Cachoeira, de forma a caracterizar suas esferas de comando e as funções exercidas por cada integrante, as relações com membros do Legislativo, agentes públicos e governos estaduais, membros do Judiciário e do Ministério Público, as polícias Federal, Civil e Militar, setores empresariais e agentes de mercado, inclusive a diretoria da empresa Delta no Centro-Oeste”, afirmou o petista.
Cunha também sugeriu que os investigadores sejam os primeiros a ser ouvidos pela CPI: as oitivas de delegados e promotores teriam início na próxima terça-feira. O depoimento mais aguardado, o do próprio Carlinhos Cachoeira, está pré-agendado para 15 de maio. Depois, seriam ouvidos outros integrantes da quadrilha. O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) deporia em 31 de maio.
O plano de trabalho apresentado por Cunha ainda está em debate na comissão. O senador Fernando Collor (PTB-AL) quer incluir na lista de convocados o procurador-Geral da República, Roberto Gurgel. Collor quer saber por que o procurador demorou três anos para apresentar a denúncia contra Demóstenes Torres.
Impedimento – A reunião teve início com um debate sobre a participação do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) na CPI. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) questionou o fato de o deputado ser integrante da comissão, ao mesmo tempo em que é suspeito de atuar em conluio com a quadrilha de Cachoeira. Lima pediu que o parlamentar seja afastado da comissão.
Protógenes, segundo o senador, “é direta e pessoalmente interessado no objeto da investigação a ser realizada pela CPI, seja porque mantém amizade íntima com os investigados, seja porque pode ele mesmo figurar no rol de investigados”. O deputado se limitou a dizer que é autor do primeiro requerimento de criação de uma CPI para investigar a atuação de Carlinhos Cachoeira, o que provaria sua inocência: “A minha participação é legítima, legal e constitucional”, disse. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPI, negou a questão de ordem. O PSDB anunciou que vai recorrer à Mesa Diretora do Congresso.