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Os momentos que antecederam a queda do Airbus A330

Dados foram divulgados pelo escritório francês que investiga acidentes aéreos

Por Da Redação
27 Maio 2011, 10h51

A pedido do site de VEJA, um piloto com 15 anos de experiência no trecho Rio-Paris, que preferiu não revelar sua identidade, comentou as informações divulgadas pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês). Leia abaixo:

Cronologia do acidente

22h 29m O voo AF 447 sai do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, rumo ao Charles de Gaulle, em Paris 1h 35m O controlador de voo pede que a tripulação mantenha a altitude em 10.668 metros (35.000 pés) 1h 55m O comandante, Marc Dubois, acorda o segundo copiloto e pede para que ele o substitua na cabine. Em viagens internacionais, após a primeira hora de voo, o piloto pode descansar, mas deve retornar para a última hora antes do pouso 1h 59m Antes de descansar, o comandante acompanha a conversa entre os dois copilotos. Um deles diz que deverão encontrar mais turbulência à frente. O comandante de bordo deixa a cabine. Além disso, é relatado que a tripulação não conseguiu entrar em contato com o centro de controle de voo na África 2h 01m A aeronave mantém a altitude de 35.000 pés e a velocidade de máxima de operação de 984 quilômetros por hora. O peso e o centro de gravidade do avião estão em níveis normais. Nesse momento, o piloto automático é ativado 2h 06m Um dos copilotos chama o comissário de bordo e diz que entrarão em uma área mais agitada e que é preciso tomar cuidado 2h 08m 7s O avião começa uma leve mudança de rota para a esquerda, de 12 graus. A turbulência aumenta e a tripulação decide reduzir a velocidade do avião para 849,6 quilômetros por hora Comentário do piloto

É perigoso entrar nessas nuvens por causa do granizo extremamente forte. Pode haver algum problema de buraco na fuselagem, quebrar parabrisa, além da turbulência excessiva. Se o avião perder a sustentação dentro de uma nuvem dessas, com certeza ele vai cair 2h 10m 05s A partir deste momento começa a dar tudo errado. O piloto automático é desligado e o copiloto diz “eu tenho os comandos”. O avião vira para a direita e o copiloto tenta controlar o avião fazendo uma manobra para à esquerda. A velocidade registrada do lado esquerdo da nave cai de 849,6 para 130 quilômetros por hora

Comentário do piloto

Tirar do piloto automático não é um procedimento recomendado pelo fabricante nesses casos. Isso pode ter sido uma decisão do piloto, por motivos ainda desconhecidos. O normal é manter o piloto automático e desligar o auto-thrust (sistema que controla a aceleração do avião) para não provocar situações desconfortáveis aos passageiros e evitar funcionamento instável do motor. Resta saber por que ele tomou essa decisão 2h 10m 16s O copiloto anuncia a queda de velocidade e o avião entra em ‘alternate law’, um modo de voo no qual o avião ainda funciona eletronicamente, mas sem as proteções de controle de movimentos do leme e excesso ou falta de velocidade Comentário do piloto

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Avião entra em ‘Alternate law’: degradação da capacidade da aeronave de ter informações diretas de velocidade e atitude. Ele perdeu todas as informações, só do ISIS ou só do lado direito? A caixa preta tem essas informações, mas elas foram omitidas 2h 10m 50s O copiloto tenta, por várias vezes, chamar o comandante 2h 10m 51s O alarme de perda de sustentação da nave soa novamente. Os motores são ajustados para usar força máxima, numa tentativa de fazer o avião subir e retomar o controle Comentário do piloto

É o início do momento crítico. Os pilotos não podem mais contar com os sensores do avião porque a aeronave acredita que perdeu a sustentação. Contudo, ela não está necessariamente fora de controle. Esse é o momento em que a tripulação tem que ter muita calma para ver o que está acontecendo e manter o avião voando. Eles tentam acelerar o máximo e elevar o nariz para ganhar altitude, mas a manobra para ganhar sustentação de novo é baixar o nariz e acelerar 2h 11m 06s Velocidade mostrada no ISIS, aparelho que fornece o horizonte vertical, sobe abruptamente. O copiloto continua tentando elevar o nariz do avião, que chega à sua altitude máxima: 11.500 metros Comentário do piloto

A subida abrupta para 37.500 pés pode ter sido causada pela turbulência, a nuvem pode ter jogado a aeronave pra cima 2h 11m 40s Finalmente o comandante retorna à cabine. Neste momento, a altitude está em cerca de 10.668 metros, o avião está inclinado 40 graus e está caindo a 183 quilômetros por hora. Os motores ainda continuam em força total, na tentativa desesperada de recuperar o controle da nave. O copiloto ainda tenta virar o máximo para a esquerda para levantar o nariz do avião. A manobra dura 30 segundos

Comentário do piloto

O comandante volta à cabine com o avião em queda. O nariz manteve-se alto e o motor estava acelerado. O A330 está oscilando lateralmente (40 graus) como se estivesse virando a aeronave. O tolerável é 30 graus no máximo, uma manobra extrema. O piloto tenta consertar o nariz do avião para mantê-lo reto 2h 12m 02s O pilotos percebem que não têm mais nenhuma informação válida (a esta altura, os equipamentos passam dados contraditórios devido à queda brusca da aeronave). Então os pilotos tentam outra manobra: reduzir a velocidade dos motores enquanto o copiloto tenta ações de pique, pequenas tentativas de levantar o bico do avião. Eles recobram o controle parcialmente, mas o avião não para de cair

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Comentário do piloto

O piloto, em queda, desacelera o motor completamente e o coloca em marcha lenta. Ele consegue diminuir o ângulo de incidência da nave e as informações sobre velocidade voltam. O relatório, contudo, não revela quais informações eram essas 2h 13m 32s Um dos pilotos diz que estão prestes a chegar a 3.000 metros (caíram 7.000 metros em pouco menos de um minuto). Em uma ação desesperada, os dois pilotos tentam acionar os minimanches e um dos pilotos diz “Vamos! Você tem os comandos.” É a última frase registrada pelas caixa-pretas

Comentário do piloto

Piloto passa o comando da aeronave para o copiloto por motivos desconhecidos 2h 14m 28s Cessam os registros. Os últimos dados indicam uma queda a 200 quilômetros por hora com velocidade de solo de 198 quilômetros por hora e 16,2 graus de elevação do nariz, mostrando que a cauda do avião foi a primeira parte a bater no mar. Além disso, o avião caiu virado para o Brasil, indicando que ele teria caído rodopiando. No total, a queda durou três minutos e 30 segundos

*Correção: Ao contrário do que a reportagem informava anteriormente, o avião não caiu rodopiando.

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