Obra em prédio que desabou no Centro do Rio continua ‘órfã’
Engenheiro indicado como responsável pela empresa que reformava o 9º andar diz ao CREA que apenas forneceu orientação sobre localização e manejo de entulho - em novembro
Duas semanas após o desabamento de três prédios no Centro do Rio, na tragédia que matou 17 pessoas e deixou cinco desaparecidos, continua o jogo de empurra sobre a responsabilidade técnica da obra no Edifício Liberdade, que pode ter sido determinante para o desmoronamento. Nesta quarta-feira, Paulo Sérgio Cunha Brasil, apresentado pela empresa Tecnologia Organizacional como o engenheiro responsável pela reforma, negou ao presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ), Luiz Antônio Cosenza, ter emitido um laudo aprovando as mudanças realizadas pela TO em suas salas no Liberdade.
Segundo o engenheiro, ele foi contratado apenas para verificar se havia problemas com o entulho da obra realizada no 3º andar do edifício, e emitiu um parecer. Ele afirma que jamais foi consultado sobre qualquer outra obra da TO, e que não chegou a ver a obra do 9º andar, sobre a qual caem as principais suspeitas de irregularidades.
“Fui lá para ver o problema que estava havendo de armazenamento de entulho, em novembro. Fui lá apenas para verificar se existia quantidade de entulho excessiva em cima da estrutura e orientar se a empresa estivesse fazendo aquilo de forma errada. Eu não dei laudo. Eu dei uma explicação por escrito de todos os procedimentos que devem ter em estrutura. O que eu fiz foi pegar a norma brasileira e explicar. Eu diria verbalmente para o síndico do edifício e só não o fiz porque ele não estava presente, então deixei a explicação por escrito”, se eximiu o engenheiro.
A certeza de que não poderá ser responsabilizado pelo acidente faz Brasil argumentar que foi convocado para depor no CREA apenas para “prestar uma consulta”, uma vez que ele é o único filiado à instituição que verificou uma das obras da TO em andamento. “Eu era o único engenheiro que tinha o nome lá, que tinha dado um documento. Não tinha outro engenheiro. E a opinião de um engenheiro tem peso nessas horas”, disse.
Para o CREA, no entanto, Paulo Sérgio emitiu, sim, um laudo pericial, e não apenas uma explicação técnica, e pode ser punido pelo órgão por ter realizado um trabalho de engenharia sem fazer Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). “Ele deu as explicações dele para oito membros do conselho. Vamos analisar e acionar o nosso departamento jurídico para saber se lhe daremos alguma punição. Pode ser uma repreensão formal ou uma multa pela falta da ART”, declarou Luiz Antônio Cosenza.
O CREA-RJ informou que já convocou o síndico do Edifício Liberdade, Paulo Renha, para ajudar na apuração das causas do desabamento do prédio. De acordo com Cosenza, o depoimento de Renha deverá ocorrer na próxima semana, entre quarta e quinta-feira.
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