Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

No Amapá, opostos ideológicos se unem contra Sarney

DEM e PSOL se unem para tentar impedir que o grupo político de José Sarney vença as eleições para o governo e o Senado

Por Mariana Zylberkan, de Macapá
4 out 2014, 09h34

No Congresso Nacional, as bancadas do Democratas (DEM) e do PSOL representam os pólos opostos no pulverizado universo partidário brasileiro. Criado em 2007 para rebatizar o PFL, o DEM é conhecido por reunir políticos com perfil conservador, integrantes da bancada ruralista e ferrenhos opositores ao governos Lula e Dilma Rousseff. O PSOL foi fundado em 2004 para abrigar um grupo estridente conhecido na época como “radicais do PT”. Ainda que em eleições regionais os interesses locais tenham mais peso do que alianças programáticas, se tomado o perfil e o comportamento das duas siglas em Brasília, imaginar o alinhamento de DEM e PSOL é algo improvável. Menos no Amapá: para tentar impedir a vitória do grupo político do senador José Sarney, as duas legendas decidiram unir forças no minúsculo estado (455.000 votos).

Com três mandatos no estado, Sarney desistiu de concorrer neste ano. Mas tenta fazer do Amapá um prêmio de consolação para a derrocada do seu grupo de aliados no Maranhão, onde até sua filha, Roseana, abriu mão de disputar cargos públicos tamanho o desgaste sofrido nos últimos anos. Adversários de Sarney afirmam que o peemedebista já visitou o estado nesta campanha mais vezes do que nos oito anos de mandato pelo estado. Neste ano, Sarney trabalha para eleger Gilvam Borges (PMDB) como sucessor no Senado e Waldez Góes (PDT) governador. Ambos lideram as pesquisas disponíveis.

Ao perceber a articulação de Sarney, o senador Randolfe Rodrigues (Psol), uma das novidades nas eleições de 2010, articulou a candidatura do jovem deputado Davi Alcolumbre (DEM), de 37 anos, para tentar impedir a vitória de Gilvam Borges. Ex-aliado de Sarney e de família tradicional na cidade, Acolumbre já foi vereador e teve três mandatos de deputado federal. Em 2012, tentou eleger-se prefeito de Macapá, mas terminou em terceiro lugar. Na ocasião, enfrentou o ex-prefeito Roberto Góes (PDT), preso por corrupção junto com o tio – hoje candidato ao governo -, Waldez Góes, em 2010 na Operação Mãos Limpas da Polícia Federal. No segundo turno, o apoio de Acolumbre foi decisivo para a vitória do prefeito Clecio Luís, do PSOL.

“Seria uma vergonha para o Amapá eleger um prefeito ex-presidiário, mas ao mesmo tempo nenhuma liderança política teve coragem de se opor ao grupo de Sarney e apoiar o candidato do PSOL, mas foi o que eu fiz”, diz Alcolumbre.

“Vamos fazer tudo para evitar que a barbárie se instale aqui, que é a candidatura desse representante do clientelismo em nosso país”, completa o senador Randolfe Rodrigues.

Continua após a publicidade

A família de Gilvam Borges é proprietária de 16 estações de rádio e de dois canais de TV. “Ele usa os canais de comunicação para derrubar os adversários. Por um ano, as rádios dele diziam todo dia que a minha candidatura era brincadeira, que eu era um balão de ensaio e queria dinheiro do Sarney para sustentar minha campanha para deputado”, diz Alcolumbre.

A coligação formada por PSB, PT, PSOL e PCdoB acionou o Tribunal Regional Eleitoral para tentar suspender os sinais das rádios e TVs da família de Borges sob acusação de favorecimento político. O pedido de suspensão do sinal chegou a ser atendido, e as rádios ficaram fora do ar por 48 horas, nos dias 13 e 14 de setembro, mas posteriormente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou as trasmissões.

‘Governo paralelo’ – Em 2012, Gilvam Borges resolveu instituir um “governo paralelo” para fazer oposição à gestão de Camilo Capiberibe (PSB), filho de seu maior adversário político, o senador João Capiberibe (PSB). Borges bancou o recapeamento de ruas e anunciou que iria equipar o hospital municipal com aparelhos de ar condicionado – chegou até a colocar os aparelhos na calçada em frente ao hospital para protestar contra o governador. “Gilvam é herdeiro do clientelismo político de Sarney, dessa política feita como negócio e não republicana”, diz o senador João Capiberibe.

A alta voltagem das eleições para o governo e Senado do Amapá é medida pela quantidade de representações recebidas pela Procuradoria Regional Eleitoral ao longo da campanha. De acordo com o procurador Paulo Santiago, foram protocoladas 500 representações por direito de resposta e propaganda indevida em menos de um mês.

Continua após a publicidade

Com histórico de compra de votos, o Tribunal de Justiça restringiu o limite de saque das contas bancárias de campanhas nesta reta final a 10.000 reais por dia. Em 2010, o limite fixado foi de 3.000 reais. O procurador eleitoral Paulo Santiago se manifestou contrário a um pedido de representante de campanha para sacar 60.000 reais em notas de 20 reais. “Ele não explicou o que faria com o dinheiro, então indeferimos.”

A Procuradoria também tem feito blitz em postos de gasolina em busca de vale-combustível distribuídos por políticos em troca de votos. “Os postos deixam de atender os clientes para vender somente a quem aparece com o vale”, diz o procurador eleitoral.

Em Macapá, bandeiras e cartazes de candidatos tomam praças, fachadas de prédios e muros de casas. É tradição na cidade as campanhas pagarem de 50 a 100 reais para moradores exibirem seus materiais nas janelas e muros. O exemplo mais emblemático é um conjunto de prédios construído com verba do programa federal Minha Casa Minha Vida, localizado no centro de Macapá, cuja fachada está repleta de placas e bandeiras. Nas ruas, o clima é de guerra entre as cores amarelo e azul. A primeira representa a oposição ao PMDB de José Sarney. O amarelo é símbolo do Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderado pelo senador e ex-governador João Capiberibe. Líderes das duas campanhas acionaram o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para tentar impedir que os fiscais não usem roupas com as duas cores no dia da votação.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

O Brasil está mudando. O tempo todo.

Acompanhe por VEJA.

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.