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MP revela que Hopi Hari tinha problemas de segurança

Para a promotoria, parque de diversões marcado pela morte de uma adolescente de 14 anos apresentava graves problemas

Por Renato Jakitas
23 mar 2012, 19h00

O parque de diversões Hopi Hari, que fechou os portões há 20 dias para uma vistoria em 15 de suas 50 atrações, não dispunha de todas as condições de segurança necessárias para seu funcionamento. A conclusão é da promotora dos Direitos do Consumidor Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, responsável pelo inquérito civil aberto pelo Ministério Público (MP) depois da morte de Gabriella Yukari Nichimura, de 14 anos. No dia 24 de fevereiro deste ano, a adolescente despencou da atração La Tour Eiffel, caindo de uma altura de 30 metros.

Nesta sexta-feira, a promotora deu detalhes do novo Termo de Ajustamento de Contuda (TAC) firmado com a direção do Hopi Hari, o terceiro em menos de um mês. Nele, o parque está livre para reabrir neste fim de semana, desde que mantenha três atrações inoperantes: o West River Hotel, o Simulakron e o La Tour Eiffel. Segundo o MP, foram diagnosticados problemas graves nesses brinquedos, que precisam ser solucionados antes que eles voltem a funcionar.

Também foram diagnosticados problemas em outras duas atrações, Montezum e Vurang – as duas montanhas-russas do parque. No entanto, o MP não reuniu um conjunto de fatores que inviabilizassem a operação desses brinquedos. Eles podem continuar em atividade, mas terão que passar por reformas.

Uma força tarefa formada por técnicos e peritos de diversas instituições avaliou por 20 dias os 15 brinquedos considerados de maior risco, incluindo o La Tour Eiffel. Foram inspecionados: Vurang, Ekatomb, Montanha Russa, Vula Viking, Leva I Traz, Lokolore, Evolution, Rio Bravo, Crazy Wagon, West River, Trakitanas, Simulakron, Giranda di Musik e Dispenkito.

Manutenção – Além dos problemas observados nas atrações do Hopi Hari, a promotoria chamou atenção para uma falha no sistema de gestão de segurança do parque. Os técnicos desconheciam os parâmetros importantes para a manutenção de cada equipamento.

Todos os dias, antes da abertura dos portões, era realizada uma manutenção periódica em cada um dos brinquedos. Nela, verificavam-se, além do aspecto geral dos equipamentos, detalhes como a pressão de um parafuso importante ou o nível de determinada bomba. Segundo a promotora Ana Beatriz, aí estava o problema. Faltava conhecimento sobre qual o torque exato do parafuso analisado ou a pressão máxima e mínima da bomba. Embora constassem no manual de fabricação de cada brinquedo, esses dados não foram traduzidos nem divulgados para os técnicos.

“A equipe da manutenção é capacitada, mas concluímos que há falha de informação na medida em que os parâmetros técnicos de cada brinquedo não são dados a eles”, observou Ana Beatriz. “Nosso TAC determina que isso seja feito o mais rápido possível”.

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Interditados – Espécie de “trem fantasma”, o West River Hotel foi barrado pelo pente-fino do MP depois de serem diagnosticadas falhas, principalmente na área de fuga do equipamento. O laudo dos técnicos apontou que, caso a operação do brinquedo precise ser interrompida e os ocupantes tenham de abandonar o local, precisarão percorrer um longo trecho sobre os trilhos energizados até a saída. Isso colocaria em risco a integridade dos usuários.

Quanto ao Simulakron, um cinema com imagem tridimensional em que os assentos se movimentam no ritmo do filme, o risco diz respeito justamente a esse chacoalhar. O cinto de segurança que prende a pessoa à cadeira não foi considerado suficientemente seguro. “Pode-se abrir o cinto voluntariamente e, aí, a pessoa fica solta, podendo sofrer uma queda brusca”, explica Ana Beatriz.

Os técnicos indicaram soluções para todos os brinquedos barrados. Depois da adoção das medidas, o parque deverá submeter-se a uma nova inspeção para, somente assim, voltar a funcionar plenamente.

A respeito do Montezum e do Vurang, os brinquedos deverão receber imediatamente procedimento de duplo controle do fechamento das travas de segurança. A implantação dessas melhorias deverá ser comprovada em sete dias.

Sinalização – O MP também exigiu que o parque adote imediatamente uma sinalização clara e objetiva para indicar assentos que não possam ser utilizados nos brinquedos. No dia do acidente, Gabriella se sentou numa cadeira que estava inoperante há anos, sem nenhuma identificação. Também fica proibido o funcionamento de brinquedos que apresentem qualquer tipo de defeito conhecido pelo parque.

Mesmo autorizado a voltar a funcionar, o Hopi Hari tem trinta dias para contratar uma empresa de consultoria que fará o diagnóstico dos sistemas de qualidade, segurança, riscos e saúde do parque. Em seguida, terá de cumprir as recomendações apontadas por essa empresa para, ao final do processo, apresentar um Certificado de Qualidade do Sistema de Gestão.

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O parque terá que substituir todos os avisos dirigidos aos técnicos de manutenção e operação que estejam em língua estrangeira. No prazo de 12 meses, os manuais das atrações deverão ser traduzidos para o português. Até maio, o parque precisará apresentar um plano de resgate para cada atração e realizar o treinamento dos funcionários envolvidos.

Duas atrações, Aribabiba e Giranda Mundi, ainda não foram vistoriadas, o que deve acontecer antes da reabertura do parque, marcada para domingo. Caso o parque descumpra qualquer uma das exigências pagará multa diária de 95 000 reais.

Justificativas – Apesar das evidências apontadas pelo MP, Claudio Guimarães, vice-presidente do Hopi Hari, afirmou em entrevista ao site de Veja que o parque não tem problemas de segurança. “Não posso acreditar que o Ministério Público disse que temos problemas com segurança”, disse. “O que precisamos realizar em nossos brinquedos são benfeitorias, coisas normais e que são requeridas de tempos em tempos”.

Para ele, a morte de Gabriella não abala a credibilidade da marca. “Já recebemos milhões de pessoas nesses anos todos de atividade”, ressaltou. “Nunca tivemos nenhuma morte, nenhum problema”.

Questionado sobre as falhas no treinamento da equipe de operadores, Guimarães negou que a empresa disponibilize apenas um manual antes de escalar os funcionários para atuarem nas atrações – segundo Bichir Ale Bichir, advogado de dois dos operadores que atuavam no La Tour Eiffel no dia do acidente, seus clientes receberam apenas uma cartilha com 10 páginas em frente e verso para se prepararem para a tarefa. “Isso é mentira”, afirmou Guimarães. “Nós oferecemos todo o suporte para os operadores, desde o manual até o treinamento presencial”.

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