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Lula atuou para blindar Bumlai na Lava Jato, diz Delcídio

Em delação premiada, senador detalhou ao Ministério Público o que chamou de “a entrada de Lula” no esquema

Por Da Redação
15 mar 2016, 13h06

Implicado na Operação Lava Jato por suspeitas de ter recebido benesses de empreiteiras enroladas no escândalo do petrolão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuou secretamente para blindar o amigo José Carlos Bumlai no escândalo de corrupção instalado na Petrobras. A revelação foi feita pelo senador e delator Delcídio do Amaral (afastado do PT-MS). Ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio detalhou ao Ministério Público o que chamou de “a entrada de Lula” no esquema. Além da articulação pelo amigo pecuarista, Lula tentou, de acordo com Delcídio, comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. “O depoente pode dizer que o pedido de Lula para auxiliar José Carlos Bumlai, no contexto de ‘segurar’ as delações de Nestor Cerveró, certamente visaria o silêncio deste último e o custeio financeiro de sua respectiva família, fato que era de interesse de Lula”, explicou o senador.

Confira a íntegra da delação de Delcídio

Segundo o parlamentar, Lula “pediu expressamente” a ele que ajudasse Bumlai porque o amigo já havia sido citado em outros depoimentos de delação premiada, os do lobista Fernando Baiano e do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, como um dos personagens da engrenagem criminosa montada na estatal de petróleo. Depois do pedido de Lula, Delcídio informou que tinha mais proximidade com o filho do pecuarista, Maurício Bumlai, e a partir daí tiveram início as remessas de dinheiro para comprar o silêncio de Cerveró. Delcídio acabou preso no dia 25 de novembro do ano passado depois que vieram à tona informações de que ele estava pagando pelo silêncio de Nestor Cerveró e armando um mecanismo para que o ex-diretor não fechasse acordo de delação premiada e ainda conseguisse fugir do país. Na versão do senador, porém, partiu de Lula a orientação para os pagamentos à família do ex-dirigente da Petrobras.

Rasgadinho - delacao Delcicio - trecho agenda
Rasgadinho – delacao Delcicio – trecho agenda (VEJA)

“No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró com recursos fornecidos por Bumlai”, diz trecho da delação premiada do senador. A primeira remessa de dinheiro para comprar o silêncio do ex-diretor, no valor de 50.000 reais, foi entregue pelo próprio senador ao advogado Edson Ribeiro, que atuava na defesa do ex-dirigente. Os valores haviam sido repassador por Maurício Bumlai em um almoço na churrascaria Rodeio do Iguatemi, em maio de 2015.

EXCLUSIVO: governo tentou comprar o silêncio de Delcídio do Amaral

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Somadas às outras entregas de dinheiro à família de Cerveró, o delator Delcídio do Amaral disse que a família do ex-diretor da Petrobras recebeu ao todo 250.000 reais, sendo que o filho do ex-dirigente, Bernardo Cerveró, recebeu dinheiro vivo do esquema. “O depoente pode dizer, então, que, inicialmente, o motivo fundamental para sua intervenção na engrenagem voltada ao embaraço da delação de Nestor Cerveró consistia em evitar que viessem à tona fatos supostamente ilícitos com o envolvimento do próprio depoente, além de José Carlos Bumlai e de Lula”.

Delações contra Bumlai – Em sua delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse que, na tentativa de emplacar um contrato entre a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do pré-sal, o empresário José Carlos Bumlai foi acionado para interceder junto a Lula. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de 2 milhões de reais, que acabaram repassados a uma nora do ex-presidente para a quitação da dívida de um imóvel.

Baiano também relatou às autoridades da Lava Jato outro episódio em que Bumlai teria atuado para que o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró continuasse à frente da estatal. Conforme Baiano, Lula se comprometeu a atuar em favor de Cerveró, embora não tenha ocorrido a interferência de fato. Para o juiz Sergio Moro, “o episódio revela mais uma tentativa dele [Bumlai] de interceder indevidamente na Petrobras, invocando o nome do ex-presidente, no caso com interesses espúrios, considerando o envolvimento de Nestor com esquemas de corrupção”. Em outro caso revelado pelo lobista que atuava em nome do PMDB no petrolão, José Carlos Bumlai teria intermediado a contratação do ex-presidente Lula para uma palestra em Angola e para que o petista recebesse visita de uma autoridade angolana.

Ainda segundo o delator, Bumlai atuava para obter um contrato de construção e aluguel de sondas em favor da Schahin. A operação, contudo, era uma maneira de compensar um empréstimo do PT junto ao Banco Schahin para quitar dívidas da campanha do ex-presidente Lula em 2002.

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró também relatou, em acordo de delação premiada, como dinheiro de fraudes em contratos da petroleira no exterior acabaram irrigando a campanha à reeleição do ex-presidente Lula. Conforme Cerveró, a Petrobras pagou 300 milhões de dólares ao governo de Luanda pelo direito de explorar um campo petrolífero em águas profundas nas costas de Angola. O ex-diretor disse ter ouvido de Manuel Domingos Vicente – então presidente do Conselho de Administração da Sonangol, a estatal angolana do petróleo – que até 50 milhões de reais oriundos de propinas produzidas pelo negócio foram mandados de volta para o Brasil com o objetivo de irrigar os cofres da campanha de Lula. Cerveró fez registrar em um dos anexos: “Manoel Vicente foi explícito em afirmar que desses US$ 300 milhões pagos pela Petrobras à Sonangol retornaram ao Brasil como propina para financiamento da campanha presidencial do PT valores entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões”.

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Rasgadinho - delacao Delcicio - trecho Bumlai
Rasgadinho – delacao Delcicio – trecho Bumlai (VEJA)

André Esteves – Nos depoimentos feitos ao Ministério Público, o senador também revelou o envolvimento do banqueiro André Esteves, ex-CEO do BTG Pactual, na estratégia de comprar o silêncio de Nestor Cerveró. Segundo relatos do delator, “André Esteves em várias situações manifestou grandes preocupações com o BTG, especialmente, no que se refere a operação de embandeiramento de postos da rede ASTER, de propriedade do empresário Carlos Santiago”. De fato, em seu acordo de delação, Cerveró descreveu o que o MP diz ser “a prática de crime de corrupção ativa por André Esteves, por meio do Banco BTG Pactual, consistente no pagamento de vantagem indevida ao Senador Fernando Collor, no âmbito de contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao Banco BTG Pactual e a grupo empresarial denominado Grupo Santiago”.

Delcídio vai além: ele afirmou que André Esteves “ao tomar conhecimento de que Fernando Baiano e Nestor Cerveró o citariam em suas delações, se dispôs a ajudar a família do Nestor que, supostamente, enfrentava dificuldades financeiras”. Esteves, porém, teria desistido da “ajuda” depois de “informações privilegiadas” sobre Nestor Cerveró, que acabou realmente fechando o acordo de colaboração com a Justiça.

Confira nota do BTG sobre o caso:

“O BTG Pactual esclarece que o investimento na Derivados do Brasil foi feito, em 2009, pela Partners Alpha Participações, uma companhia de investimento dos sócios do BTG Pactual, e não pelo próprio banco. A Partners Alpha Participações informa que, por diferenças de visões estratégicas, a sociedade foi desfeita e o processo de separação vem sendo conduzido há mais de três anos. A Partners Alpha Participações desconhece qualquer irregularidade nas operações da Derivados do Brasil.”

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