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Interferência de Lula no governo Dilma é risco à democracia

Presidente emplacou Mantega na Fazenda e resolveu impasse do superbloco

Por Marina Dias
29 nov 2010, 16h05

Marco Antonio Villa, cientista político: “O governo começará já enfraquecido caso se submeta a muitas interferências de Lula. Dilma não é mais a presidente do presidente. Agora ela é presidente do Brasil”

Os primeiros movimentos do governo de transição de Dilma Rousseff tiveram a marca registrada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo que o discurso oficial seja o de que a presidente eleita trabalha para formar uma equipe que tenha a sua cara e que Lula não dá opinião sobre nenhum setor do novo governo, sabe-se que ele é o grande conselheiro quando o assunto é nomear futuros ministros ou ocupantes de cargos de confiança. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA acreditam que essa postura não faz bem à democracia do país e que Dilma deve mostrar sua personalidade.

De acordo com o sociólogo e cientista político Humberto Dantas, não é bom para nenhum governo depender de uma pessoa que não foi eleita nas últimas eleições. “Se fosse o PT que tivesse essa influência sobre Dilma seria mais razoável”. Entretanto, pondera, é difícil dizer se essa postura continuará ou não nos próximos quatro anos. “Isso depende da conjuntura política. Dilma é centralizadora e logo mais colocará as mangas de fora, mostrando a que veio”.

Integrantes do alto escalão petista afirmam que Dilma submete suas decisões ao presidente em razão do relacionamento de respeito e confiança criado entre os dois nos últimos anos. A presidente eleita é ouvinte fiel de Lula e aceita muitas de suas sugestões. Apesar disso, dizem petistas próximos, quando a discussão é sobre áreas estratégicas para Dilma – como os setores energético e de infraestrutura -, ela deve indicar pessoas de sua confiança e, como prefere, de caráter mais técnico do que político.

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Para o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), um dos líderes da oposição, a interferência de Lula no próximo governo é “compulsória”. “Dilma ainda não tem maturidade para o governo econômico, administrativo e político e, por isso, o presidente precisa entrar em cena para ajudá-la a montar a melhor equipe possível”. Mesmo assim, afirma o tucano, a presidente eleita estava no centro do governo Lula e conhece as pessoas que ali trabalhavam. “A continuidade é previsível, mas esse tipo de interferência de Lula é totalmente desnecessária”.

O cientista político Marco Antonio Villa acredita que Dilma “começa mal o governo se aceitar muitas indicações e interferências do presidente”. Segundo ele, a mensagem passada para o eleitor é a de que a presidente eleita não consegue governar sozinha. “O governo começará já enfraquecido caso Dilma se submeta a muitas interferências de Lula. Ela não é mais a presidente do presidente. Agora ela é a presidente do Brasil”, diz Villa.

Digital de Lula – Na última sexta-feira, 26 de novembro, Dilma fez o convite para que Nelsom Jobim (PMDB) continuasse à frente do Ministério da Defesa. Essa não era a vontade da presidente eleita e nem mesmo dos peemedebistas, que já haviam avisado que ele não seria uma indicação partidária para nenhum dos ministérios. Entretanto, o presidente Lula queria a permanência de Jobim. Convenceu Dilma.

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As negociações para a montagem da equipe econômica – uma das mais importantes para o próximo governo – também tiveram a digital de Lula em seu cargo mais alto: o de ministro. Foi do presidente a ideia de manter Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda. Dilma recebeu a sugestão de forma mais incisiva no início de novembro, quando acompanhou Lula durante a reunião do G-20, na Coreia do Sul. Mantega também foi convidado especial da comitiva: um ótimo pretexto para os acertos entre os três mais interessados.

Outro imbróglio em que o presidente Lula interferiu foi o superbloco, criado e sepultado em pouco tempo por PMDB, PR, PP, PTB e PSC. A manobra formava uma maioria artificial na Câmara dos Deputados. Antes que o desgaste entre os aliados pudesse prejudicar de alguma maneira o próximo governo, Lula entrou em ação e sacou o PP e o PR das negociações. Logo depois, o PMDB recuou e o presidente do partido e vice presidente eleito, Michel Temer, chegou a dizer que o bloco era apenas uma intenção e que não estava estruturado.

Campanha – Ao lado da ex-ministra nos palanques nas dezenas de comícios que fizeram juntos durante a campanha, o presidente fazia questão de dizer: “O governo de Dilma terá a cara de Dilma”. Lula ainda costumava afirmar que “ensinaria um ex-presidente a ser ex-presidente”, como se não fosse participar decisivamente da transição de seu governo para o de sua afilhada política. Mas parece que, na prática, não é bem isso que acontece.

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