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Hortolândia ou PTlândia? A ilha petista em São Paulo

Administrada por petistas desde 2005, cidade foi a única do Estado em que Padilha ficou em primeiro lugar nas urnas e Dilma venceu Aécio

Por Eduardo Gonçalves, de Hortolândia
12 out 2014, 20h10

Por volta das 17 horas da última terça-feira, a dona de casa Graziele da Silva Siqueira, de 23 anos, conversava com a amiga Elaine Alves da Cunha, 39 anos, em frente ao conjunto habitacional Guarujá, no Jardim Novo Ângulo, em Hortolândia. A única das 645 cidades de São Paulo onde o ex-ministro Alexandre Padilha (PT) superou o governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB) nas urnas é uma ilha petista em um Estado tradicionalemente tucano, uma espécie de ‘PTlândia paulista’. Moradoras do condomínio construído com verba do Minha Casa, Minha Vida, as duas fazem parte do eleitorado que votou em peso em Padilha e na presidente-candidata Dilma Rousseff (PT), que ficou à frente de Aécio Neves (PSDB) na cidade, mas perdeu para o tucano no Estado. “Votei para todos [os cargos] no PT, por causa das melhorias que eles fizeram na cidade e porque eu consegui entrar no Bolsa Família. O pessoal do PT me ajudou muito aqui, até trouxeram cestas básicas para a gente. Se fosse para votar de novo, eu votaria com o maior prazer”, disse Graziele. Elaine completou o argumento: “O PT me arranjou moradia. Se for preciso, eu visto a camisa [do PT] e saio fazendo campanha. Votei neles por causa do [ex-presidente] Lula. Coloquei treze para todo mundo”. Próximo a elas, uma profusão de cartazes com as imagens de Padilha, Dilma e Lula estava pendurada no muro do complexo residencial.

No município de 212.000 habitantes, Alexandre Padilha obteve 38,50% dos votos válidos, contra 34,88% de Geraldo Alckmin. Na disputa presidencial, a diferença foi ainda maior: Dilma Rousseff conseguiu 42,37% dos votos, enquanto Aécio Neves atingiu 23%. Até o candidato derrotado ao Senado Eduardo Suplicy recebeu votação expressiva na cidade – 58,4% dos votos válidos.

A alta popularidade dos petistas pode ser explicada principalmente pelo maciço investimento do governo federal na cidade, que é administrada pelo PT desde 2005. No pequeno município, há 7.581 beneficiários do Bolsa Família e 27 profissionais do Mais Médicos. Segundo o prefeito Antônio Meira (PT), o governo federal repassou em torno de 200 milhões de reais para a cidade nos últimos dois anos. A quantia foi usada, por exemplo, para custear a construção de 2.720 unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, três Unidades de Pronto Atendimento UPAS) e obras de infraestrutura, como o alargamento de avenidas, encanamento de córregos, piscinões e até uma ponte estaiada – feita com recursos do PAC na ordem de 50 milhões de reais.

Raio-X de Hortolândia

Nº de habitantes: 212.527

Área Territórial (Km²): 62,276

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Densidade demográfica (Hab/Km²): 3.094, 16

PIB: 8 bilhões de reais

IDH: 0,756

Nº de eleitores: 138.583

O prefeito se refere a Padilha como “ministro parceiro”. Quando titular da Saúde, o petista viabilizou projetos e repasses para a cidade no setor. Padilha visitou Hortolândia duas vezes neste ano, uma como ministro, em fevereiro, e outra como candidato, em agosto. Foi em Hortolândia, inclusive, que ele cumpriu a sua última agenda na pasta da Saúde, inaugurando quatro unidades de pronto-atendimento ao lado do prefeito.

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Eleições em Hortolândia

Disputa estadual:

Geraldo Alckmin (PSDB): 34,88% (32.354 votos)

Alexandre Padilha (PT): 38,60% (35.809 votos)

Paulo Skaf (PMDB): 24,10% (22.357 votos)

Disputa presidencial:

Dilma Rousseff (PT): 42,37% (42.889 votos)

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Marina Silva (PSB): 30,79% (31.170 votos)

Aécio Neves (PSDB): 22,53% (22.804 votos)

“O Padilha foi o ministro parceiro de Hortolândia. Eu já tinha ouvido falar dele, mas tive uma amizade mais íntima depois que assumi a prefeitura. Nós fizemos uma campanha forte para os candidatos do PT em todos os níveis. Se dependesse de nós, eles teriam sido eleitos”, disse Meira, que recebeu a reportagem do site de VEJA na sala de reuniões da prefeitura. No local, há um retrato da presidente Dilma Rousseff, com a faixa presidencial, pendurado na parede.

No estacionamento da prefeitura, a maioria dos carros traziam bandeiras e adesivos da campanha petista. A dona de um desses veículos, a servidora Valéria de Oliveira, afirmou que a militância na cidade é muito atuante. “Na semana passada, nós fizemos bandeiraços quase todos os dias em pontos estratégicos. Conseguimos reunir até 4.000 pessoas”, afirmou.

O prefeito Meira é sucessor de Ângelo Perugini (PT), que exerceu dois mandatos no município, avaliados positivamente pela população. Neste ano, Perugini se candidatou a deputado estadual. Conseguiu mais de 47.000 votos, mas teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa – ele entrou com recurso na Justiça Eleitoral. Sua mulher, Ana Perugini, foi eleita deputada federal por São Paulo, com 48.550 votos – antes, era deputada estadual. A maior parte dos ouvidos pelo site de VEJA disse ter votado em Padilha e Dilma por causa do trabalho do casal Perugini. A desempregada Etelvina Lima da Silva, de 33 anos, é um desses casos. Moradora de Hortolândia há mais de vinte anos, ela afirmou ter votado na legenda porque “o PT trouxe muitas melhorias para a cidade”, além de sua mãe ter recebido um apartamento do Minha Casa, Minha Vida.

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Oposição – Líder da bancada do PSDB na Câmara Municipal, o vereador Ananias José Barbosa afirmou que a população atribui à gestão petista o desenvolvimento na região porque o partido está há dez anos no poder e não existe imprensa local. “Hortolândia teve um ritmo de crescimento grande porque é uma cidade industrial. É natural que a população atribua os benefícios ao PT. Também não temos nenhum jornal de circulação diária, rádio ou revista. As informações que a população acaba absorvendo são institucionais, propagandas partidárias”, avaliou o vereador. Apesar disso, ele afirmou que o PT vem perdendo eleitores na cidade. Na eleição de 2010, o então candidato do PT ao governo estadual, Aloizio Mercadante, hoje chefe da Casa Civil, obteve 57% dos votos no município, contra 26% de Alckmin. Em 2006, Mercadante teve 69%, e Serra, 22%. “Nesse ritmo, a previsão é que nós ganhemos a próxima eleição”, disse o vereador.

Apesar do otimismo, o PSDB tem uma representação ínfima na Câmara Municipal: dos dezenove vereadores, apenas dois são tucanos – os outros dezessete fazem parte da base aliada (seis são petistas). Mas nem sempre foi assim. Em 1996, o PSDB e o PT se uniram para vencer as eleições. Jair Padovani (PSDB), hoje vereador, foi eleito, tendo Ângelo Perugini como vice – ele governou por dois mandatos. Na época, a cidade poderia ser considerada um reduto tucano, lembra Padovani. “Aqui o PSDB sempre ganhava”. A situação se inverteu após o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por algumas ações do governo tucano que não agradaram a população, entre elas a ampliação do complexo prisional Ataliba Nogueira. Situado na fronteira entre Hortolândia e Campinas, o presídio abriga atualmente 12.000 detentos, a maioria vinda de outras cidades. Segundo Meira, a penitenciária aumentou o “clima de insegurança” no município, que já sofre com altos índices de criminalidade.

“Acabam dizendo que Hortolândia só cresceu depois de 2005. Mas isso não é verdade. Fizemos uma lei de incentivo fiscal, que atraiu empresas para cá. Na minha gestão, construí o único hospital da cidade e várias creches. A questão é que o PT lançou dois candidatos pela cidade, e o PSDB nenhum. Imagine dois candidatos trabalhando com um volume grande de pessoas. Acho que o resultado poderia ter sido até maior [para o PT]”, avaliou o ex-prefeito e atual vereador Padovani, referindo-se às candidaturas de Ângelo Perugini e sua esposa.

Uma espécie de cidade-dormitório de Campinas, Hortolândia foi constituída em 1991 – antes, era um distrito do município vizinho de Sumaré. Nesse período, 90% das ruas não eram asfaltadas e a rede de esgoto e água tratada não cobria todo o território. O desenvolvimento só veio depois da emancipação, quando os impostos arrecadados passaram a ser investidos no local. Na mesma época, empresas do ramo tecnológico e de produção de peças de trem se instalaram na região.

Apesar de morar em um apartamento do Minha Casa, Minha Vida, a servidora pública Maria Margarida de Oliveira Moreira, 51 anos, é uma das exceções entre os moradores do conjunto habitacional. “Eu fui ao contrário: eu votei no Alckmin, porque ele sempre foi meu governador e tem um trabalho sério, mesmo com a falta de água”, disse. Para presidente, ela declarou ter votado nulo porque, segundo ela, não ficou claro quais são as propostas do tucano Aécio Neves nem da petista Dilma Rousseff. “O povo infelizmente ainda não sabe votar. O que movimenta o povo ainda é a necessidade. Nós vivemos num país onde a classe social faz muita diferença”, afirmou. Em relação à gestão municipal, ela avaliou positivamente o governo petista, mas disse que ainda “há muito coisa a ser feita”.

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Único reduto petista no Estado de São Paulo

Na última quinta-feira, o prefeito Antônio Meira recebeu um lugar de honra no palanque do sindicato dos bancários, em plenária do partido realizada em São Paulo. Ao lado de Lula, Padilha e Eduardo Suplicy, Meira foi aclamado pela militância e apresentado como o único prefeito que conseguiu impedir a vitória de Alckmin em todo o Estado.

Ao atravessar a principal rua de Hortolândia, a Avenida da Emancipação, é possível ter uma ideia da influência do PT na cidade: de um lado, grandes canteiros de obra de conjuntos habitacionais do Minha Casa, Minha Vida; do outro, resíduos de cartazes da campanha petista pendurados em muros e banners ao longo da via. Uma paisagem que reflete o clima na PTlândia.

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