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Governo do Rio quer reduzir poluição ‘por decreto’

Secretaria Estadual do Ambiente faz projeção de redução de emissão de poluentes, mas considera que motoristas vão deixar de usar o carro e que o transporte público será ampliado para oferecer conforto e qualidade

Por Da Redação
2 Maio 2013, 19h16

Numa época em que apresentar números positivos sobre o meio ambiente e a sustentabilidade parece ser tão importante quanto combater o crime e melhorar a saúde, o governo do Rio faz uma projeção animadora: a Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) espera reduzir as emissões de CO2, um dos vilões dos gases do efeito estufa, em 1,8 milhão de toneladas. Essa melhoria na qualidade do ar corresponde a 47% da meta de diminuição de CO2 estabelecida para os meios de transporte até 2030. A meta, no entanto, considera um cenário em que seriam cumpridas “todas as promessas de investimento em ampliação do transporte de massa até 2016”. Ou seja: se forem feitos investimentos em transportes sobre trilhos, se as barcas deixarem de ser um pesadelo para os moradores da Região Metropolitana, se o metrô ficar pronto e se, além disso tudo, os motoristas abrirem mão do transporte individual para se espremerem nos ônibus.

É quase tão ousado quando apostar que assassinos vão parar de matar com medo da lei. Mas é no momento a aposta do estado. Os parâmetros de redução de emissões de gases estufa foram estabelecidos pelo decreto 43.216, publicado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) em 30 de setembro de 2011. A norma prevê que, até 2030, as emissões de CO2 por meios de transporte sejam mitigadas em 30% frente a 2010, quando foram emitidas 12,7 milhões de toneladas. Ou seja, em 2030 o estado do Rio deverá emitir menos 3,8 milhões de toneladas de CO2.

“Caso ocorram as expansões previstas até 2016 de trem, metrô, barcas e corredores exclusivos de ônibus (BRTs), o Rio vai atingir metade da meta de redução de emissões de CO2 até 2030. Isso é muito importante para a contribuição do estado na redução das emissões que aumentam a ‘febre’ do planeta, isto é, sua temperatura. E também tem um ganho importante na redução da poluição do ar e sonora, que acabam com os pulmões e os tímpanos da população. Os maiores vilões da poluição das grandes cidades são carros, ônibus e caminhões, ou seja, os transportes sobre rodas”, disse o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, que foi ministro da pasta no governo Lula.

De acordo com o estudo, elaborado pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pedido da SEA, até 2016 serão retirados de circulação 12.000 ônibus e 260.000 carros, caso os planos de reestruturação dos transportes de massa sejam concretizados.

A meta do estado entra em conflito com o que está sendo feito no momento. Os principais investimentos em transporte consideram corredores exclusivos de ônibus, os BRTs, que vão conectar o Centro da capital à Zona Oeste e ao Aeroporto Internacional do Galeão. Com sucessivas reduções do IPI para os automóveis e motocicletas, a frota cresce a cada dia – com os cariocas e moradores da Região Metropolitana experimentando períodos cada vez maiores de engarrafamento nas viagens para o trabalho.

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Professor de Engenharia de Transportes da UFRJ, ex-diretor do Metrô Rio e ex-secretário Executivo de Transportes do Estado do Rio, Fernando Mac Dowell considera difícil o cumprimento da meta de redução de emissão de CO2. “Ora, circulam hoje na cidade do Rio cerca de 9.000 ônibus, isto é, 3.000 a menos do que se planeja retirar das ruas até 2016. Para compensar a emissão de CO2 da frota atual seria necessário o plantio de árvores num terreno correspondente a 12% do território do município por ano, de acordo com a metodologia da Cetesb (agência ambiental paulista). Em cinco anos, seria preciso retirar prédios para plantar vegetação, o que é uma utopia. Em outras palavras: não há a menor chance de essa meta ser atingida”, sentenciou o professor.

Mac Dowell critica os projetos de expansão dos transportes de massa no Rio, sobretudo do metrô. “A Linha 2 do metrô foi projetada para encontrar com a Linha 1 no Estácio e na Carioca, e terminar na Praça 15. Mas isso nunca foi feito. A concessionária criou a tal Linha 1A, que nada mais é uma junção duas linhas numa só, o que reduziu violentamente a capacidade de transporte. Além disso, quem vem de Niterói de barca e desce na Praça 15 (centro do Rio), depende apenas de ônibus para se deslocar pelo Rio, já que o metrô não chegou até lá. Quem tem que fazer política de transporte é o estado, não as concessionárias”. Ainda na opinião do professor, as quatro linhas de BRT que a prefeitura planeja construir deveriam ser sobre trilhos, não com ônibus.

Investimentos – Para a redução de emissões considera uma ampliação no transporte de massa. E a meta do governo do estado acata os dados fornecidos pelas próprias concessionárias. A SuperVia, que administra os trens suburbanos, poderá emitir menos 884.000 toneladas de CO2 até 2016, caso a concessionária cumpra a promessa de ampliar em 590.000 a quantidade de passageiros transportados por dia. Isso retiraria das ruas 39.000 carros e 7.000 ônibus. Atualmente, a realidade dos trens é a seguinte: paralisações, passageiros que abrem as portas das composições por não suportar o calor e estações sucateadas.

A segunda maior contribuição para redução de emissões viria dos ônibus. Se todos os quatro projetos de corredores exclusivos para ônibus articulados (BRTs) saírem do papel até 2016, estima-se que deixarão de circular pela cidade 143.000 carros e 1.800 coletivos comuns. Isso vai mitigar em 504.000 toneladas as emissões de CO2 em relação a 2010. Acreditar nessa meta é um exercício de fé, dado o estado de parte da frota e a frequência com que se vê na cidade a fumaça escura que sai dos escapamentos dos ônibus urbanos.

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Dos quatro BRTs prometidos pela prefeitura do Rio, até agora foi inaugurado apenas o TransOeste (que liga Santa Cruz à Barra da Tijuca). O TransCarioca (que vai conectar a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, na Zona Norte) está em construção. Por outro lado, as obras do TransBrasil (que vai ligar Deodoro, na zona oeste, ao Aeroporto Santos Dumont, no centro, pela Avenida Brasil) e o TransOlímpica (que vai fazer a conexão da Barra da Tijuca com Deodoro) ainda não foram iniciadas.

Metrô – Até 2016, a ampliação do metrô deve reduzir em 141.000 toneladas as emissões de CO2 frente a 2010. Calcula-se que saiam das ruas 88.000 carros e 2.800 ônibus. A construção da estação Uruguai na linha 1 está prevista para ser inaugurada em 2014. Já a construção da Linha 4 (que vai ligar a zona sul à Barra da Tijuca) ficará pronta apenas em 2016, segundo a concessionária Metrô Rio. Nesta sexta-feira, o governo do estado apresentará a nova fase das interdições de trânsito para as obras da Linha 4.

A meta de redução da poluição também dá como certa a compra de três novas barcas para fazer o trajeto Rio-Niterói pela Baía de Guanabara, o que reduziria em 33.000 toneladas a quantidade de CO2 na atmosfera até 2016. Caso o investimento saia do papel, estima-se que 1.700 carros e 360 ônibus saiam de circulação, o que vai ajudar a diminuir os engarrafamentos diários na Ponte Rio-Niterói.

(Com Estadão Conteúdo)

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