Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

‘A ordem é liberar os menores’, dizem funcionários da Fundação Casa

Ministério Público investiga prática de soltar infratores para abrir vagas para novos internos

Por Da Redação Atualizado em 10 dez 2018, 09h39 - Publicado em 17 jan 2016, 09h46

Depoimentos de dois funcionários da Fundação Casa numa ação civil pública sobre a instituição reacenderam uma antiga suspeita dos promotores do Ministério Público que atuam na área da infância e da juventude. Os funcionários afirmam existir uma pressão para fazer a casa “girar” (ou seja, abrir vaga para novos internos) e liberar adolescentes antes que eles tenham cumprido sua punição ou se mostrem prontos para voltar às ruas.

“É o que passam para nós, a casa tem que girar, tem que mandar adolescente embora para chegar adolescente novo”, disse em depoimento o agente C.T.N., que no momento da declaração atuava na unidade de internação Encosta Norte e era responsável por assinar os laudos que atestam a recuperação ou não dos menores infratores. “Faça o melhor que você puder, independente do adolescente. Vamos liberar o adolescente, vamos mostrar para o juiz que ele melhorou”, afirmou em vídeo gravado pelo Ministério Público (veja abaixo).

O agente Z.O.C., que quando prestou a declaração trabalhava na unidade de semiliberdade Uraí, segue na mesma linha: “Eles davam o relatório para eu assinar, eu não concordava com o relatório e eu não assinava”. Quando o promotor pergunta se o relatório vinha pronto, o agente responde que “já vem pronto, eles nem deixavam eu ler. Até hoje eu recuso e eles pararam de me mandar. É sempre um relatório pra liberar [o menor]”.

https://www.youtube.com/watch?v=2shLj2awewA

Segundo o promotor da infância e juventude Tiago Rodrigues, o Ministério Público tem recebido constantemente informações sobre esta prática. “Estas notícias se somam ao fato de que o período médio de internação dos menores é de sete meses, quando o período máximo pode ser de até três anos. Ainda não é possível extrair conclusões definitivas, mas continuamos investigando” afirma Rodrigues.

Continua após a publicidade

Um estudo feito pelo Ministério Público Estadual e publicado em VEJA na última semana acompanhou durante um ano 1.000 egressos da instituição e chegou à conclusão de que a taxa de reincidência é de 37,8%. “Em sete meses você sequer conclui um ciclo escolar. É muito difícil provocar alguma mudança num período tão curto”, afirma Rodrigues.

Um relatório técnico da própria Fundação Casa, de abril de 2014, afirmava que a instituição “encontra-se, hoje, com gargalo na movimentação dos adolescentes que recebem medida de internação e dependem, única e exclusivamente, da saída de adolescentes”.

Procurada para comentar os depoimentos, a presidente da Fundação Casa, Berenice Giannella, negou que exista pressão para elaboração de relatórios favoráveis à liberação dos menores. “Os relatórios são feitos por oito funcionários diferentes. Uma prova de que eles estão corretos é que, quando o Ministério Público pede uma reavaliação, os técnicos do Tribunal de Justiça confirmam o resultado em mais de 90% dos casos”, afirma Giannella.

A presidente da Fundação Casa também não considera o período médio de internação baixo. “Não são sete meses, são de nove a dez meses. A Constituição, o ECA e o Sinase preveem que a internação seja o mais breve possível. Homicidas, por exemplo, tendem a ficar mais tempo do que outros menores.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.