Fogo destrói prédio histórico da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Bombeiros usam até água do mar para debelar o incêndio que atinge o conjunto construído entre 1842 e 1852 para abrigar o Hospício Pedro II
Um incêndio iniciado por volta das 14h desta segunda-feira destruiu a maior parte da antiga reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Urca. O fogo começou na capela São Pedro de Alcântara, que fica no terceiro andar e estava em obras. Cem bombeiros, de três batalhões, quinze viaturas e grupamentos especializados estão no local, e vão tentar bombear até água do mar para combater o incêndio. O trabalho prosseguirá à noite.
O prédio atingido foi batizado de Palácio Universitário da Praia Vermelha quando a reitoria foi transferida para o campos da Ilha do Fundão. Atualmente abrigava, além da capela, o Forum de Ciência e Cultura da UFRJ. Todo o terceiro andar ruiu, e a expectativa dos bombeiros é de que o mesmo aconteça com o segundo piso do prédio.
O conjunto da UFRJ na Praia Vermelha é um dos tesouros do patrimônio histórico do Rio – e do Brasil. Foi construído para abrigar o Hospício Pedro II, quando a Santa Casa decidiu tirar do Centro da cidade seu hospital de alienados. As obras começaram em 1842 e foram concluídas dez anos depois.
Em 1944, o hospício foi transferido para o Engenho de Dentro, e o prédio passou a abrigar diversas faculdades da Universidade do Brasil, atual UFRJ. A rotina do primeiro hospital psiquiátrico da América Latina é tema do clássico “O Cemitério dos Vivos”, de Lima Barreto.
O reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, disse que todo o esforço agora é para evitar que o fogo se espalhe. “É um prédio delicado e vulnerável, com estrutura apoiada nas paredes e muita madeira. Não há mais o que fazer a não ser chorar”.
Além do prédio, o fogo ameaça destruir um arquivo que guarda a história da Universidade. “É uma história que se confunde com a do ensino superior no Brasil”, diz a diretora da faculdade de Educação, Ana Maria Monteiro.
A UFRJ suspendeu as aulas em cinco cursos que funcionam na Praia Vermelha, porque a subestação de energia fica embaixo da área destruída pelo incêndio, e foi desligada. O coronel Valdinei Dias da Silva, comandante das Unidades Especializadas e coordenador da operação, disse que o incêndio já começou com grandes proporções. As características da construção, com muita madeira e tetos rebaixados dificultam o trabalho dos bombeiros.
Carlos Fernando Andrade, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro, estava inconsolável. “A UFRJ e o Iphan haviam começado as obras que proporcionariam o aumento da segurança. Não conseguios ser rápidos o suficiente para pôr em prática tudo o que estava previsto no plano de recuperação do conjunto”, disse Andrade. Segundo ele, o Iphan tem farto material iconográfico sobre a ala que foi destruída. A reconstrução exigirá pelo menos dois anos.
(Atualizado às 19h)