Em ato falho, Dilma cita envolvidos com escândalos
Presidente participou do encerramento da Marcha das Margaridas. Evento repleto de homenagens a Dilma foi patrocinado com 320 000 reais de estatais
Em clima de festa – que até lembrava o de campanha eleitoral -, a presidente Dilma Rousseff discursou na tarde desta quarta-feira para uma plateia de 70.000 trabalhadoras rurais, exaltando o papel da mulher brasileira. Durante o ato de encerramento da Marcha das Margaridas, no Pavilhão do Parque da Cidade, na região central de Brasília, Dilma tentou mostrar gentileza: sorriu e fez o formato de um coração com as mãos, mas deixou antever que sua verdadeira preocupação no momento é a crise política que assola o governo.
No início do discurso, Dilma cometeu dois atos falhos. Na hora de cumprimentar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), chamou-o de Agnelo Rossi – sobrenome do ministro que tem dado mais dor de cabeça à presidente nas últimas semanas, Wagner Rossi, da Agricultura. Ao se referir a Alberto Broch, presidente da Contag, chamou-o de Alfredo, nome do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que, após deixar o governo em meio a revelações de corrupção na pasta, anunciou na terça-feira o desembarque do partido que preside, o PR, do governo Dilma.
O evento, repleto de homenagens à presidente, foi patrocinado com 320 000 reais de estatais: Caixa, Correios, Petrobras e Itaipu. Um número até baixo quando comparado ao 25 milhões de reais de custo total da marcha. De acordo com os organizadores, a maior parte dos gastos foi custeada com recursos arrecadados por meio de rifas vendidas pelos sindicatos e vindos dos caixas de sindicatos ligados ao setor rural.
As federações e os sindicatos integrantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) foram responsáveis pelos custos com passagens dos participantes do evento. O patrocínio com dinheiro público serviu para pagar o aluguel do pavilhão, camisetas, divulgação do evento e a contratação da cantora Margareth Menezes, que se apresentou na noite de terça. “Isso ainda é pouco diante da dívida que o Brasil tem com a gente”, argumentou Carmen Foro, secretária de Política das Mulheres da Contag.
Vestindo um blazer violeta – mesma cor do material de divulgação da marcha -, Dilma chegou ao local do evento às 17h, com uma hora de atraso. Ao seu lado, estavam os senadores Marta Suplicy (PT-SP) e José Pimentel (PT-CE) e parte de seus ministros, como o da Saúde, Alexandre Padilha, da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, Cultura, Ana de Hollanda, e Meio Ambiente, Isabela Teixeira. “Ser mulher brasileira, moradora do campo e militante popular exige coragem e coração generoso, exige grandeza de alma para buscar aqui e agora as transformações e o mundo rural que o Brasil tanto necessita”, poetizou a presidente diante da claque.
A cerimônia estava marcada para 16h, mas as trabalhadoras rurais já a aguardavam desde 14h30. Durante a espera, as mulheres entoaram gritos de guerra a favor de Dilma, alguns da campanha eleitoral de 2010, sob a batuta de uma animadora de palco. Com a demora, perderam a paciência e passaram a gritar “respeito”. O atraso da presidente fez com que parte da plateia se dispersasse durante o discurso de Dilma.
A Marcha das Margaridas começou oficialmente nesta terça-feira, mas parte dos 1.600 ônibus que trouxeram as manifestantes começou a chegar já no fim de semana. Na manhã desta quarta, elas fizeram uma passeata pelas principais ruas da capital federal e um ato político em frente ao Congresso.
Pedidos – No dia 13 de julho, organizadores da marcha apresentaram ao governo um documento com 158 itens de reivindicação. Entre os principais pontos estão reforma agrária, agroecologia, autonomia da mulher, enfrentamento à violência e acompanhamento social de grandes obras. Mas o grupo reunido em Brasília estava longe de ser de manifestantes. No lugar de protestos, aplausos a cada frase da presidente ou a cada citação do nome de Dilma. No lugar de cobranças, palavras de incentivo à presidente.
Dilma respondeu à carta com reivindicações. Prometeu ampliar as unidades básicas de saúde nas áreas rurais, aumentar o limite de venda da produção de alimentos utilizados na merenda escolar, instalar unidades móveis para atendimento a mulheres vítimas de violência e criar um programa de educação no campo. Os grupos e associações de mulheres também terão direito a uma cota de 5% do total de produtos vendidos ao governo diretamente, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Dilma anunciou que as medidas serão acompanhadas em reuniões semestrais – o próximo encontro com ministros e representanets do moviemnto para tratar doa ssunto será no final de outubro.