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Eleições na Câmara: um jogo de traições

Com quatro candidatos e tensão nos bastidores, a dificuldade dos postulantes ao comando da Câmara é garantir o cumprimento dos votos prometidos

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 jan 2015, 06h23

Nos corredores da Câmara dos Deputados, uma máxima circula entre os congressistas: vence a eleição para o comando da Casa quem conseguir evitar as traições no voto secreto. Na reta final da disputa que definirá o presidente para os próximos dois anos, tal conceito nunca fez tanto sentido. Com três candidatos competitivos – o quatro é Chico Alencar, do nanico Psol – e uma negociação nos bastidores como há anos não se via, o grande desafio dos postulantes na reta final é assegurar que os seus apoiadores de fato cumprirão o acordo prometido dentro das cabines de votação.

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A eleição deste ano, marcada para o próximo domingo, acontece no momento em que o Congresso se prepara para passar por um período de turbulências, com a votação dos ajustes fiscais impopulares anunciados pelo governo e a apresentação das denúncias contra os parlamentares envolvidos no escândalo do petrolão.

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Nos últimos dias, ministros petistas e de partidos aliados iniciaram uma ofensiva em busca de votos para Arlindo Chinaglia (PT-SP), ex-presidente da Câmara e ex-líder do governo na Casa. Na mesa, há a oferta de cargos no segundo escalão da máquina, cadeiras privilegiadas em comissões e na cúpula da Casa e ainda a promessa da liberação das emendas parlamentares.

A estratégia fez efeito e levou o PRB, por exemplo, a repensar o apoio anunciado no líder do PMDB, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o nome mais temido pelo Palácio do Planalto para vencer a corrida. “A gente quer um poder mais independente e harmônico com o governo, e o perfil do Eduardo nos pareceu que vai empreender um ritmo de valorização da atividade parlamentar”, declarou, em 17 de dezembro do ano passado, o deputado eleito George Hilton (PRB-MG). Agora ministro do Esporte, o PRB mudou o discurso e estuda trocar o voto a favor do petista.

Dos quatro partidos que oficialmente apoiam Chinaglia, todos ganharam boas cadeiras na reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff: PT, PSD, Pros e PCdoB. Ainda indefinidos, PDT e PR também devem confirmar o apoio ao petista – o que não significa, necessariamente, a transferência automática de voto no domingo. No caso do PR, por exemplo, um dos principais articuladores da campanha de Cunha, o deputado Sandro Mabel (GO), tem mantido conversas com o mensaleiro Valdemar Costa Neto para garantir votos ao peemedebista. Da mesma forma, são esperadas dissidências dentro no PDT.

O dilema da oposição – Uma das mudanças de ventos mais evidente – e que pode ditar o resultado da eleição – está no PSDB. De olho no fortalecimento da oposição no Congresso Nacional, a bancada formalizou, em dezembro, o apoio ao deputado Júlio Delgado, do PSB de Minas Gerais, apontado como o único que teria reais condições de ser independente – já que os outros dois nomes são filiados a siglas declaradamente governistas.

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No entanto, ao avaliar que Delgado corre o risco de ser derrotado ainda no primeiro turno, o partido admite uma debandada em direção a Cunha – a bancada é formada por 54 deputados. “O grande projeto do PSB é derrotar o PT. O problema é que a situação do Júlio está difícil e as contas não batem. Não podemos esperar o PT ganhar essa eleição”, diz um deputado do PSDB paulista.

Cunha reuniu-se em São Paulo com deputados tucanos na tarde de segunda-feira. No encontro, foi direto ao ponto: tentou convencê-los de que a melhor saída é que Delgado renuncie à candidatura e que o PSDB migre para bloco dele, o que garantiria a tão sonhada vice-presidência da Câmara, hoje nas mãos do PT. Ainda com a possibilidade de, pelo tamanho da bancada, ficar com três comissões e a liderança da minoria, o partido teria a chance de conquistar a projeção desejada nas eleições.

Para convencer seus aliados, o PMDB abriu mão dos demais cargos na Mesa Diretora para ceder espaços. Também foi oferecida uma comissão para o PPS e outra para o PV – demais partidos que apoiam Delgado. “O Cunha não está atropelando ninguém. Os deputados do PSDB abriram espaço para as negociações. O nome disso não é debandada, é convencimento”, diz um peemedebista.

Internamente, o PSDB reconhece que ter na presidência da Câmara o PMDB, hoje com seis ministérios no governo e a vice-presidência da República, não é garantia de uma oposição dura ao Planalto. Para selar um acordo, o partido pretende apresentar uma lista de propostas para Cunha, entre elas a criação de um sistema de distribuição igualitária das relatorias e critérios para a Casa aceitar as medidas provisórias enviadas pelo governo. “É óbvio que não dá para confiar no Eduardo Cunha no dia seguinte. Já está claro que ele fará o jogo do PMDB. Mas a verdade é que o PMDB já pensa em lançar candidatura própria em 2018 e está em busca de independência”, ponderou um tucano reeleito para a Câmara.

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Também pesa na decisão dos tucanos a insegurança de um eventual apoio de Delgado em Chinaglia em um segundo turno contra Cunha. Delgado foi quarto-secretário da Mesa durante a gestão do petista e, a despeito da troca de farpas protagonizadas na corrida pela presidência da Câmara, não bateu de frente com o candidato oficial do governo. O PSDB cobra sinais do socialista de que não há um acordo com Chinaglia – e ainda não recebeu qualquer resposta contundente. Nos bastidores, a avaliação é que o silêncio de Delgado tem o objetivo de não quebrar as pontes com petista caso avance para o segundo turno dele contra Cunha. Mas também há risco de, com cada pé em uma canoa, o socialista acabar naufragando sozinho.

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