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Conspiração oficial

Em troca de proteção, Maranhão topou participar da conspirata para tentar atrapalhar o impeachment. Dilma nada fez para impedir o que se transformaria horas depois num brutal vexame

Por Da Redação 10 Maio 2016, 22h28

Não foi o acaso nem as convicções pessoais que moveram o deputado Waldir Maranhão, presidente interino da Câmara, na ação aparentemente amalucada que tentou anular o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na manhã de segunda-feira, quando pôs sua assinatura no ato, Maranhão apenas cumpriu a sua parte numa trama. Uma trama articulada em parceria com o vice-líder do governo, deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), que envolveu uma oferta de proteção política e a promessa de uma vaga para o Senado nas próximas eleições.

A manobra para tentar livrar Dilma começou a ser costurada quando Maranhão assumiu o comando da Câmara no lugar de Eduardo Cunha. O vice, desconhecido, despreparado e enrolado com a Justiça, assumiu interinamente o posto, mas começou a sofrer pressões para renunciar e, com isso, permitir que se fizessem novas eleições para a Mesa Diretora. Alvo fácil, o deputado logo recebeu a solidariedade do líder do governo – e uma proposta: “Você não tem apoio de ninguém. Eles vão te derrubar. Se quiser, você terá o apoio político do governo, mas vai ter que deixar claro de que lado está. Você quer jogar com a oposição ou com o governo?”, perguntou Sílvio Costa.

Olhos arregalados e visivelmente interessado, o presidente interino quis saber o que teria de fazer para conquistar a blindagem oferecida. O líder de Dilma então sacou o roteiro da conspiração para derrubar o processo de impeachment no Congresso. Para ter o apoio político do Planalto e permanecer no cargo, Maranhão teria, primeiro, que atacar Michel Temer, o sucessor de Dilma, dando andamento a um pedido de impeachment do vice. Depois, a parte mais importante: teria de tirar da gaveta um recurso impetrado pela Advocacia Geral da União (AGU) que pedia a anulação da sessão da Câmara que aprovou a abertura do processo de impeachment contra Dilma.

“Você terá o apoio político do governo se se comprometer a tocar essas duas coisas. Você topa?”, questionou Costa. Maranhão comprometeu-se a liberar o pedido de impeachment de Temer e se comprometeu a estudar a possibilidade de acatar o pedido sobre o pedido de Dilma, uma decisão que precisaria de mais reflexão. “Me comprometo a analisar”, disse o parlamentar, garantindo que voltaria a conversar em sigilo com Sílvio Costa na noite de domingo (8), Dia das Mães. Depois da conversa com Maranhão, Sílvio Costa acompanhou a presidente Dilma Rousseff em uma agenda oficial em Pernambuco na sexta-feira. Na viagem, a presidente foi informada de toda a operação que se desenhava.

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A informação sobre o acordo com o Palácio do Planalto chegou rápido ao Palácio do Jaburu, bunker do vice-presidente Michel Temer, que ainda na sexta-feira destacou emissários para tentar conversar com o presidente da Câmara. Guardando segredo sobre o pacto, Waldir Maranhão chegou a conversar com Michel Temer, despistando o vice por telefone. Depois, viajou para o Maranhão onde se encontrou com o governador Flávio Dino. Era a parte final da bruxaria.

Para selar de vez o pacto, o deputado queria garantias sobre seu futuro político – e as recebeu. Caso se prestasse ao papel de coveiro do impeachment, ele ouviu do governador a promessa de que teria o apoio e a máquina do governo do estado para disputar uma das vagas do Senado em 2018. Era o que faltava para o indeciso parlamentar se convencer de vez.

No domingo, acompanhado pelo governador, ele embarcou para Brasília. Na capital, foi direto para a casa de Sílvio Costa. Entre goles de uísque e petiscos de uma tábua de frios improvisada de última hora, o vice interino acertou os últimos detalhes da operação que desencadearia na manhã seguinte. Maranhão ainda estava preocupado com as consequências do seu ato contra o impeachment, temia as reações da opinião pública, temia a reação do Congresso e temia, sobretudo, a postura do presidente do Senado, Renan Calheiros, diante da sua decisão.

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Para conseguir dar segurança ao interino, Sílvio Costa ligou para José Eduardo Cardozo e o convidou para expor os “argumentos jurídicos” que embasariam a decisão do vice. “Eu disse ao Maranhão que queria que ele seguisse a Constituição e o regimento da Casa”, explicou Cardozo.

A operação precisava ser mantida em segredo. Ainda no domingo, Silvio Costa soube que emissários de Michel Temer estavam de prontidão na entrada do prédio funcional de Maranhão. Para se esconder, o vice foi dormir no hotel Royal Tulip, o mesmo que o ex-presidente Lula costuma usar como escritório. Ele passou a noite no quarto acompanhado pelo deputado Márcio Junqueira (Pros), que foi encarregado de garantir que nenhum aliado de Temer conseguiria falar com o presidente.

Na manhã de segunda-feira, o primeiro telefonema do dia de Maranhão foi para Sílvio Costa. “Siva! Acabei de assinar. Está feito!”. A vexatória conspirata que envolveu o advogado-geral da União, o líder do governo e contou com o aval da presidente Dilma Rousseff durou poucas horas.

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